Greve na Santa Casa completa uma semana e cerca de 70% de ‘adesão’

 

A greve dos funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí completou uma semana na terça-feira, 3. A paralisação teve início no dia 27 de dezembro, após a provedoria do hospital descumprir acordo firmado com os grevistas.

Na ocasião, a Santa Casa tinha se comprometido a pagar o salário referente ao mês de novembro, que deveria ter sido depositado no início de dezembro, e o 13º salário, bonificação que venceu no dia 20 do mês passado.

De acordo com o diretor do Sinsaúde (Sindicato Único dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Sorocaba e Região), Paulo César Ramos Pereira, a preocupação dos empregados do hospital é com a possibilidade de a Santa Casa também descumprir com o pagamento do mês de dezembro, que vencerá nesta sexta-feira, 6.

O diretor afirmou que, além da bonificação de final de ano e o salário do mês de dezembro, a dívida da Santa Casa com os funcionários se estende à cesta básica, que deveria ter sido entregue no quinto dia útil de dezembro. As férias de alguns funcionários também não foram depositadas, conforme o representante do Sinsaúde.

Segundo o hospital, a folha de pagamento corresponde a aproximadamente R$ 580 mil mensais. Caso os atrasos se estendam ao salário do mês de dezembro, que deveria ser pago na sexta-feira, a dívida da Santa Casa pode chegar a R$ 1,7 milhão.

A greve atinge cerca de 70% dos funcionários do único hospital público da cidade. Os grevistas estão realizando rodízios de três horas de trabalho e três de paralisação.

De acordo com Pereira, os funcionários estão preocupados com a “falta de comunicação do hospital”. “Uns dizem que o dinheiro foi liberado pela Câmara Municipal, outros dizem que está bloqueado. E no meio disso tudo, estão os empregados, que não sabem quando vão receber. Queremos saber o que está acontecendo”, reclamou.

O acordo feito pelo hospital e os grevistas foi selado no dia 22 de dezembro. Na ocasião, a provedora Fernanda Aparecida Rodrigues Laranjeira havia se comprometido a pagar o salário e a cesta básica atrasados, na terça-feira, 27 de dezembro, e o 13º salário, na quinta-feira, 29.

O dinheiro para o pagamento seria repassado pela Prefeitura e pela Câmara Municipal. O então prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, teria se comprometido a adiantar a contratualização do mês de novembro, enquanto que o então presidente da Câmara, Wladmir Faustino Saporito, repassaria as sobras orçamentárias da Casa de Leis. O valor é conhecido como duodécimo.

Com o descumprimento do acordo, os funcionários cruzaram os braços na terça-feira, 27. Na manhã do dia seguinte, um grupo ocupou a Prefeitura para exigir do então prefeito um posicionamento a respeito do repasse de verbas à Santa Casa, porém, não foi recebido.

Os grevistas voltaram a realizar manifestação na manhã de domingo, 1º, durante a posse da prefeita Maria José Vieira de Camargo. Após a solenidade na Câmara Municipal, a chefe do Executivo conversou com os grevistas.

“Ela parou na escada e conversou conosco. Ela disse que hoje (segunda-feira) estaria na Prefeitura para ver como resolveria essa situação”, contou Pereira.

Para o diretor do Sinsaúde, a situação dos trabalhadores da Santa Casa é “precária”. Alguns deles estariam dependendo de doações de alimentos. Uma das ajudas veio da equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que doou cestas básicas aos funcionários que estavam passando necessidade maior.

“O pessoal precisa pagar as dívidas e não tem dinheiro. Os funcionários trabalharam para receber e não viram o dinheiro”, declarou.

Um dos funcionários que está com dificuldades financeiras é Carlos Márcio de Paula. O motorista de ambulância está sem receber salário desde o mês passado e as contas estão acumuladas.

Além disso, o hospital não repassou ao Bradesco os descontos mensais do crédito consignado e o motorista teve o cadastro incluído no Serasa.

“Quando não tem muita coisa em casa, a gente faz um fubá para comer, e vamos levando. As contas estão atrasadas. Estamos rezando para que nem a água nem a luz sejam cortadas, pois não pagamos”, afirmou Paula.

Os problemas financeiros do motorista se estendem ao FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e ao convênio com uma farmácia, que foi descontado pela Santa Casa e não pago.

A reportagem procurou a provedoria, porém, não obteve retorno até o fechamento da edição (terça-feira, 17h).