Conhecida pelo cultivo de soja, milho e cana-de-açúcar, Tatuí também tem como destaque agrícola a produção de grama ornamental. O rendimento anual é equivalente a 900 hectares, o que preencheria 900 campos de futebol.
A área destinada à gramicultura é de 9 milhões de m², segundo a Casa da Agricultura. A superfície plantada tem 100% de aproveitamento, a colheita é anual e a maior parte da produção local destina-se a grandes regiões metropolitanas, como São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. A principal aplicação da gramínea no acabamento externo, em construção civil e para contenção em estradas.
De acordo com o chefe do órgão, Wisner Castilho, a maior parte da produção local de grama é da cultivar esmeralda, a preferida pelo mercado. A variedade é ideal para o uso residencial e em jardins, pois é resistente ao pisoteamento, porém, necessita de irrigação frequente.
Um gramado demora um ano para estar pronto para a comercialização. Quando maduro, o agricultor retira a planta pela raiz, o que forma tapetes de aproximadamente 2,5 m² ou rolos de tamanhos maiores, adequados para grandes extensões. A colheita retira dois centímetros de terra do solo. Apesar de ficar com o “solo nu”, a grama volta a brotar, devido às raízes profundas.
As plantações de grama exigem bastantes recursos hídricos. A irrigação é constante e demanda o uso de eletricidade ou de diesel, dependendo do método usado na fazenda.
Segundo o chefe da Casa da Agricultura, um dos problemas enfrentados pelos produtores rurais é o desperdício de água e energia nas plantações.
“O uso inadequado de irrigação é prejudicial, pois a própria água desperdiçada poderia ser utilizada para outros fins. O encharcamento leva embora nutrientes do solo, o adubo aplicado e ainda poluir os cursos de água, como rios”, advertiu.
A queda na atividade econômica neste ano está prejudicando o mercado de grama. O principal motivo é a desaceleração do mercado da construção civil. Com menos conjuntos habitacionais sendo construídos no país, as construtoras diminuem os pedidos.
Um dos agricultores afetados pela crise é Edson Bueno de Miranda. Dono de uma indústria produtora de grama há 30 anos, Miranda dedica 38 alqueires à produção da gramínea, 95% deles destinados à variedade esmeralda. Os 5% restantes são da cultivar São Carlos.
Segundo Miranda, um exemplo da crise que o setor enfrenta é a retenção de novos projetos para o programa habitacional Minha Casa Minha Vida.
As construtoras entregam as residências com gramados plantados, o que gera renda aos agricultores. As concessionárias de rodovias também seguraram os gastos com o plantio de grama em taludes, canteiros centrais e laterais de estradas.
O aumento da concorrência também afetou os negócios. De alguns anos para cá, diversos agricultores migraram dos grãos para o plantio de grama. Comparado com outras culturas, a gramínea tem manejo mais simples, segundo o agricultor.
“Muita gente entrou no mercado, muitos deles mal fazem o manejo correto, deixam o gramado abandonado durante todo o ano e só fazem a adubação com ureia antes de colher”, comentou.
Um dos fertilizantes mais utilizados na agricultura, a ureia fornece nitrogênio para a planta, nutriente que deixa as folhas mais verdes e facilita a fotossíntese, aumentando o crescimento vegetativo.
Aplicando o adubo semanas antes da colheita, o gramado fica mais atraente, mesmo estando pobre em outros nutrientes essenciais, segundo o produtor.
O preço da grama esmeralda varia entre R$ 1,20 e R$ 1,50 por m². Segundo o agricultor, a cotação se encontra no mesmo patamar há nove anos, apesar de os custos com energia e óleo diesel terem disparado nos últimos dois anos.
A disseminação da cultura da grama fechou alguns mercados para os produtores da região de Tatuí. Há dez anos, era possível “exportar” a produção local, algo que dificilmente acontece hoje, segundo Miranda. O motivo é que, praticamente, todos os Estados do país são abastecidos por produção local.
“Nós conseguimos vender bastante para o Rio de Janeiro. A nossa sorte é que estamos perto de regiões como São Paulo e Campinas, e isso facilita o escoamento da produção”, explicou.
Com investimentos bilionários para acolher as Olimpíadas, o Estado do Rio de Janeiro foi um dos principais consumidores de grama do país. Miranda chegou a fornecer gramado para obras na avenida das Américas, importante corredor de acesso entre os bairros Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na zona sul da capital fluminense.
O arrendamento de áreas para o plantio de grama é comum na cidade, de acordo com a Casa da Agricultura. Toda a produção de Miranda vem de áreas arrendadas. Segundo o agricultor, Tatuí é beneficiada pela topografia plana, clima e disponibilidade de água.
De acordo com o responsável pelo órgão, a saturação do mercado está fazendo com que alguns produtores migrem para o cultivo de grãos, como a soja e o milho, que estão rendendo mais.
O enxugamento de custos e a otimização do uso de energia e água deverão fazer parte do cotidiano dos agricultores que continuam a produzir grama. A consulta de técnicos e de engenheiros agrônomos ajuda o produtor a planejar a irrigação e a aplicação de adubos.
“O agricultor precisa saber exatamente quanto ele precisa de água e adubo para nutrir a grama sem ter prejuízo. Com menos custos, ele consegue aumentar a margem de lucro e enfrentar melhor a crise”, orientou.