Há tempo que cuidar do corpo é uma espécie de “moda” – correta e necessária -, a qual, entre outros aspectos, foi se desenvolvendo e se aprimorando, além de ganhar novos status e nomenclaturas, como passar de “fazer ginástica” a “treinar’, por exemplo.
Óbvio que cuidar do corpo não só é importante para a própria pessoa, senão, em último caso, significa até poupar o sistema de saúde – público e privado -, deixando de gerar custos com o tratamento de doenças teoricamente evitáveis.
Contudo, é curioso observar o fato de que, em algum momento, por motivos tão estranhos quanto insondáveis, chegou-se à conclusão – não por todos, mas por significativa parte da população – de que “cuidar da cabeça” já não tem mais importância…
Mas, isto em que sentido? Claro, no de que, para se chegar a qualquer tipo de conclusão, tomada de decisão ou mesmo à possibilidade de uma simples opinião com um mínimo de coerência, é preciso “informação”.
Só que, de repente, a informação – correta e confiável – perdeu tanto valor que, inacreditavelmente, um hamburguer gorduroso causa muito mais terror que fake news a afirmar que o aquecimento global é mentira, em outra exemplificação simplista (ou simplória).
Não obstante, a realidade cobra seu preço, como neste momento, quando os distúrbios climáticos estão remodelando as condições geográficas de inúmeras partes do planeta – para pior, naturalmente.
Recente artigo da jornalista Glenda Cury, sócia da Íntegra Comunicação Estratégica, aborda com clara objetividade a questão, partindo da atual tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Vale a leitura dos argumentos dela:
“’Na gestão da crise, é muito importante a informação’. Com esta sentença afirmativa, o governador do Rio Grande do Sul abriu sua participação no Roda Viva, da TV Cultura. Durante quase duas horas, Eduardo Leite foi questionado por jornalistas sobre erros do poder público diante da tragédia vivida em seu Estado.
Como telespectadora fiel ao programa, certamente recomendo a todos quantos puderem que confiram a edição de 20 de maio de 2024 – mas tomo a liberdade de escolher apenas um pequenino recorte para discorrer a respeito: a informação.
Sobre a frase do governador: concordo. De fato, na gestão de crise, a informação é essencial. No entanto, avalio ser oportuno irmos além. Ela é uma ferramenta poderosa em todos os cenários e pode entregar melhores resultados quando divulgada no tempo certo.
Em linhas gerais, durante uma crise, informações têm grande potencial atenuante. Antes de uma crise, porém, podem evitá-la. Informação é instrumento de prevenção.
O foco, aqui, não é fazer qualquer análise sobre o Rio Grande do Sul. O Estado e seus moradores precisam e merecem, neste momento, de acolhimento e apoio.
A enchente ceifou muitos, arrasou histórias. É de uma tristeza sem tamanho. Não deve ser palco de narrativas movidas por interesses que não a reconstrução das cidades e da vida. Por isso, foco restrito ao valor da informação, tomando por base a frase de Eduardo Leite.
Pelo dicionário, temos que informação é a reunião de conhecimentos e dados sobre um assunto ou pessoa. Considerando que o conhecimento capacita e liberta, fica evidente o seu papel no real exercício da democracia e da cidadania.
Considerando, ainda, que comunicar é ‘tornar comum’ e que a informação é o insumo primordial da comunicação, cabe endosso à sentença de Leite: a informação é algo extremamente importante.
Sim. Extremamente. Mas, não raro, negligenciada. Ao longo das décadas em que atuo no mercado de comunicação, mais especificamente no jornalismo, tenho visto a informação de qualidade ser deixada de lado. Ela, que deveria ser prioridade, cai para os últimos lugares da fila.
Tem recebido pouca atenção, insuficientes investimentos e mínimo tempo. Tem sido tratada com desleixo. E em troca, diante do mau tratamento, vem gerando desconhecimento, confusão, desentendimentos, problemas e crises.
Na prática, então, o que poderia ser feito? Este quadro desfavorável teria possibilidade de reversão?
A experiência nos comprova que sim, caso houvesse vontade, em todas as situações – das mais simples às mais complexas. E, aí, o ideal seria que as organizações, governamentais ou não, decidissem adotar, de fato, uma cultura de comunicação, honesta, acessível e transparente.
Apenas por meio da formação de uma cultura e seus desdobramentos seria possível alçar a informação ao topo do rol de prioridades.
Costumamos atribuir à área da comunicação a tarefa de lidar com a informação. Avalio ser uma visão um tanto restrita. Todos precisamos, diariamente, de receber ou repassar informações – seja na vida privada, no trabalho, na escola, na igreja, no hospital ou em qualquer outro ambiente.
Somos seres relacionais e dependemos de informações para praticamente tudo, desde fazer uma compra e agendar uma consulta até escolher um candidato. É importante, então, valorizarmos a informação – e isso requer critérios.
Informações incompletas, superficiais, manipuladas ou falsas em nada contribuem com a boa comunicação, a cidadania e a democracia. Em nada agregam às amizades ou quaisquer relações afetivas.
Portanto, que tal seguirmos na contramão das más práticas, em favor da informação de qualidade e seus potenciais frutos positivos?
Tratar a informação com seriedade e respeito é possível a partir de atitudes relativamente simples como, por exemplo, perguntando e respondendo de forma clara, ouvindo com atenção, ‘em casa e na rua’. Mais do que técnica, trata-se de conduta.
Quando escolhemos valorizar e priorizar a informação, os caminhos ficam mais aplainados, seja nas crises, seja nas águas tranquilas.”
Em outras palavras, a humanidade está chegando a um ponto em que precisa reconhecer o fato de que combater as gordurinhas na barriga não é mais importante que evitar a ignorância, enfiada goela abaixo de inúmeros incautos por meio de redes sociais com ingestão desenfreada de mentiras, manipulações e oportunismos.
O futuro do planeta (como ainda o conhecemos), cada vez mais, não depende apenas de academias de musculação, senão de uma revalorização dos conhecimentos acadêmicos e da correta e fiel informação! Enfim, seria excepcional para a saúde da Terra – e de todos nós – que também viesse a se tornar moda a rotina de uma espécie de “ginástica cerebral”.