Gestão compartilhada deverá ser implantada na Santa Casa





Arquivo O Progresso

Prefeito deve anunciar formatação de novo modelo nos próximos dias

 

Apontado como solução para o problema do déficit financeiro da Santa Casa, o modelo de gestão compartilhada deverá ser implantado em Tatuí a partir de entendimento entre três entidades. A informação é do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, que busca acordo com os demais representantes.

No sábado da semana passada, 27 de junho, o prefeito antecipou que está tentando resolver a crise administrativa para evitar o fechamento do único hospital filantrópico do município.

A Santa Casa possui dívidas que ultrapassam R$ 18 milhões – arroladas com os anos –, tem dificuldades de operar, cogita o fechamento de serviços por “inanição financeira” e informou, em relatório, que perdeu a capacidade de renegociação com os fornecedores.

Em discurso na inauguração da Nefrotat – Serviços de Cuidados Renais de Tatuí, Manu afirmou que os munícipes estão convivendo com “um terrorismo”.

A ameaça seria o fechamento do hospital, fato que o Executivo afirma estar tentando contornar com apoio da provedoria e da São Bento Saúde. Essa empresa é administrada pelo frei Eurico Aguiar e Silva (Frei Bento).

“Estamos mostrando que tem que existir maneiras de sair de situações que parecem que não têm saída”, afirmou o prefeito, a respeito da união entre as entidades em busca de solução para a administração do hospital e quitação de débitos. A Câmara Municipal também deve discutir a questão.

Em uma das tentativas de amenizar o problema, o Executivo buscou ajuda junto ao governo do Estado de São Paulo. No dia 18 de junho, Manu, acompanhado de cinco prefeitos da região e de vereadores, reuniu-se com o secretário da Saúde do Estado, David Everson Uip, para solicitar apoio financeiro.

A ideia da Prefeitura era de incluir o hospital no programa “Santa Casa Sustentável”, para receber aporte mensal no valor de R$ 150 mil. Entretanto, a unidade tatuiana não pôde ser contemplada, uma vez que não possui CND (certidão negativa de débito). A Santa Casa tem dívida no valor de R$ 850 mil que precisa ser quitada para que o convênio seja firmado.

Também em função disso, Manu solicitou ao secretário a transformação da Santa Casa em hospital regional. Como argumento, afirmou que o município atenderia a região por estar integrado à RMS (Região Metropolitana de Sorocaba). Itapetininga, que possui um hospital regional, está fora da RMS.

Conforme o prefeito, a solicitação não foi aceita pelo secretário. A explicação é que o Estado não tem condições financeiras de assumir novos leitos.

A transformação do hospital em regional obrigaria o governo a arcar com a metade dos custos de operação. O restante ficaria sob encargo da Prefeitura.

“Fomos junto com os vereadores, a diretoria da Santa Casa e mais cinco prefeitos para receber um não bem redondo do secretário”, comentou o prefeito.

Manu afirmou que argumentou com Uip, mas que obteve como resposta que o Estado não poderia colaborar com o hospital por conta da falta de CND.

Também segundo o prefeito, mesmo com a celebração do convênio “Santa Casa Sustentável”, o aporte não seria suficiente para reduzir o déficit do hospital e para que ele possa ter o funcionamento mantido.

A Santa Casa vem acumulando dívidas desde a saída do convênio com a Unimed, que inaugurou hospital próprio. A perda de arrecadação é estimada em R$ 350 mil brutos.

Por intermédio do secretário, o município passou a conversar com Frei Bento. O prefeito informou que a pasta estadual enviou o religioso para discutir possibilidades.

A empresa administrada pelo frei gere a Santa Casa de Aparecida do Norte, hospitais públicos do Vale do Paraíba e o Universitário de Bragança Paulista.

Conforme o prefeito, o frei comanda empresa especializada em recuperar (financeiramente) as entidades filantrópicas. “A Santa Casa de Aparecida estava com déficit de R$ 1,2 milhão. Hoje, está novamente funcionando”, argumentou.

Indicado pela secretaria de Estado, frei Bento conversou com as autoridades locais na quinta e sexta-feira da semana passada, 25 e 26 de junho. Após reunir-se com a diretoria do hospital e equipe da Prefeitura, o religioso acordou que faria a apresentação de uma proposta nesta semana.

A expectativa é de que o modelo seria detalhado pelo prefeito e a diretoria do hospital até a sexta-feira, 3. Contudo, até o fechamento desta edição (17h), a reportagem não havia sido contatada.

De antemão, o prefeito afirmou que a São Bento Saúde propôs a implantação de um modelo de gestão compartilhada. Ele deve integrar a Prefeitura, a Santa Casa e a empresa, de forma a estabelecer “uma irmandade”.

Nesse modelo, a provedoria fiscalizaria a São Bento Saúde e manteria convênio com a Prefeitura. Entretanto, há uma condição para o acordo: a transferência da administração do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” da Prefeitura para a Santa Casa.

Conforme o prefeito, essa cláusula deixa evidente a “melhoria feita pela administração no serviço oferecido pelo ambulatório”. “Eu repito em todo local que vou. Quando nós falamos que melhoramos, melhoramos muito a nossa Saúde. O nosso pronto-socorro é exemplo na nossa região”, declarou.

Atualmente, o ambulatório atende média de 450 pessoas por dia, equivalente a 13,5 mil atendimentos ao mês. Conforme o prefeito, cada paciente aguarda, no máximo, 30 minutos pelos serviços, que são prestados 24 horas.

“Ele (Frei Bento) viu o belo pronto-socorro e falou que, se o PS for novamente para a Santa Casa, a empresa vai administrar o hospital”, informou.

Conforme o prefeito, a ideia de transferir o ambulatório da Prefeitura para a Santa Casa é compartilhada por vereadores.

Para que isso aconteça, Manu disse que a Prefeitura vai estudar um novo projeto. “O que nós fizemos de bom e de melhor está refletindo, agora, para salvar a nossa Santa Casa. E eu peço a Deus que ilumine a cabeça desse senhor (o frei) para que ele venha com uma proposta para resolvermos a questão”, falou.

O modelo deverá ser enviado para apreciação da Câmara Municipal e do MP (Ministério Público). Segundo Manu, a população também será convidada a contribuir para evitar “que haja prejuízos”.

“Enquanto eu estiver aqui (como prefeito), vou fazer de tudo para continuar atendendo tanto os nossos cidadãos quanto os de toda a nossa região”, encerrou.