Galeria Lilás de Tatuí deve ser criado  nas dependências da Câmara

Projeto de resolução objetiva resgatar e exaltar a história das mulheres

Projeto cria o espaço reservado para fixação de mural com exposição fotográfica individualizada (Foto: Arquivo O Progresso)
Da reportagem

A Câmara Municipal de Tatuí terá nas dependências do plenário a chamada “Galeria Lilás”. Um projeto de resolução, assinada por 17 vereadores, cria o espaço reservado para fixação de mural com exposição fotográfica individualizada e permanente de vereadoras que exerceram mandato, a ocupar paredes de destaque na Casa de Leis

A competência objetiva, segundo a justificativa, é “resgatar e exaltar a história das mulheres parlamentares que atuaram pelo Legislativo municipal”.

Por meio do projeto, as fotos das parlamentares deverão ser dispostas cronologicamente, com indicação do nome de cada vereadora e do período em que exerceu o mandato.

A cada novo pleito, segundo a matéria, novos quadros serão acrescentados, junto à biografia delas. Conforme a resolução, as despesas decorrentes da execução serão custeadas por meio do orçamento vigente do Legislativo.

A atual representação feminina na Câmara municipal ainda é pequena. Em 2020, foram eleitas quatro mulheres das 17 cadeiras a serem ocupadas. A “Galeria Lilás”, entretanto, é uma forma de “destacar o trabalho das mulheres na política e incentivar a participação de outras nos pleitos eleitorais”.

A cor lilás simboliza respeito, intuição, purificação e transformação, e é representado pela força feminina e da luta pelos direitos das mulheres, conforme acentuado pela proposta.

Na sessão ordinária da Câmara de segunda-feira, 23, a vereadora Micheli Tosta Gibin Vaz (Progressista) lembrou da colega ex-vereadora Débora Camargo, que também votou favorável ao projeto. “Mesmo ela não estando mais aqui, será digna também dessa homenagem”, afirmou.

Ela mencionou as 11 vereadoras de mandatos anteriores, dizendo acreditar que tiveram dificuldades para serem ouvidas “com o mesmo peso dos homens”.

“Historicamente, nós vivemos em um contexto machista. Então, fico imaginando o desafio que essas mulheres que nos antecederam tiveram nesta Casa (de Leis)”, declarou.

Ela sustentou não ser fácil a atuação das mulheres na política. No entanto, disse acreditar que ela “possa ser espelho de motivação para outras vereadoras”.

“Tenho um recado para dar a essas mulheres: vale a pena nós lutarmos pelos nossos sonhos, pelos nossos ideais e por aquilo que nós acreditamos. Não se intimidam com o machismo. Não tenham medo de gritos. O que vale é nós estarmos aqui, legitimamente, eleitas pelo povo e representando uma sociedade”, concluiu.

Gabriela Xavier (Podemos) reiterou as declarações de Micheli, esclarecendo que fora vítima de “pessoas que não acreditaram no potencial dela por ser mulher”, relatando que algumas, inclusive, pediram para que ela desistisse do cargo.

“Nós, mulheres, temos um fardo muito grande nas costas – não que os homens também não tenham, mas nós temos muitas responsabilidades. Hoje, estou gestante, e vou ficar até o final. Quero ser exemplo para outras e mostrar a elas que é possível. Se nós temos uma causa, temos que lutar e mostrar que conseguimos, sim”, acentuou.

Cenário nacional

De acordo com levantamento feito pelo +Representatividade, em parceria com o Instituto Update, o Brasil registra um dos piores índices de presença de mulheres na Câmara dos Deputados entre os países da América Latina.

Na legislatura de 2018 a 2022, a Câmara Federal tinha 77 mulheres, 15% do total de 513 parlamentares. Em 2022, foram eleitas 91 mulheres para a legislatura 2023 a 2026, perto de 18% dos parlamentares, um crescimento pequeno, embora significativo. Já nas Câmaras municipais, as mulheres representam apenas 16% das cadeiras.

Em pesquisa sobre o perfil das candidatas mulheres e o que as motiva ou as limita na participação política, realizada pela cientista política Débora Thomé, os resultados foram: 67,7% das entrevistadas relataram ter tido “pouco” apoio e 29,5%, “não terem tido apoio” para serem candidatas.

Ao elencar as principais dificuldades, os resultados apontaram a falta de recursos para a campanha, a cobrança para que sejam melhores que os homens, o medo da violência e a dupla ou tripla jornada de trabalho.

De acordo com a cientista política, “a imagem do ‘homem público’, que é recriada de forma constante, dado o volume de homens que já ocupam cargos políticos, ajuda a reforçar a ideia de que, naquele espaço, não cabem mulheres”.