Com dívidas milionárias, enfrentando ações trabalhistas e contingenciamentos que se traduzem em limitação de atendimento, a Santa Casa de Misericórdia tem recebido diversas colaborações para continuar funcionando.
Uma das mais significativas – ainda que não do ponto de vista financeiro, mas do que representou o ato – aconteceu na tarde de domingo, 21, quando funcionários do único hospital público do município mobilizaram-se para angariar fundos em favor do centro cirúrgico.
Eles promoveram um bingo beneficente, ação que somou voluntários de vários setores da sociedade civil. O evento aconteceu no Clube Renascer da Terceira Idade, por mais de quatro horas, somando parte da equipe da Santa Casa.
Andressa Marinheiro do Canto e Silva, por exemplo, trocou o jaleco branco que usa durante o expediente para atender ao público. A farmacêutica responsável integra o GTH (Grupo de Trabalho Humanizado) do hospital, idealizador do evento, e vendeu cartelas, serviu mesas, recepcionou convidados e entregou prêmios aos contemplados.
“É muito gratificante. Estamos muito contentes porque muitas pessoas compareceram, apesar do dia chuvoso”, descreveu a farmacêutica. Andressa e os outros 19 funcionários que integram o GTH participaram do bingo, a primeira “grande iniciativa” realizada pelo grupo em 2017.
A equipe planejou o evento durante dois meses e já acumula histórico de ações em favor da instituição. No final do ano passado, realizou um almoço com todos os funcionários. “Não tivemos venda, mas foi uma iniciativa para valorizar nossos companheiros e motivá-los a continuar”, explicou Andressa.
Conforme a enfermeira, todas as ações realizadas pelo GTH são revertidas ao hospital. A equipe se reúne semanalmente para discutir o que pode ser feito para colaborar com a provedoria na manutenção da instituição e aprimorar o atendimento, além das condições de trabalho dos próprios funcionários.
Também mantém ações fixas, como a “Festa do Doce”. Trata-se de um evento interno, realizado uma vez por semana, no qual os funcionários doam R$ 10 e um prato de doces. Os produtos são comercializados entre os próprios funcionários.
“Todas as nossas ações são voluntárias. Hoje (domingo, 21) mesmo, não conta como dia de serviço, tanto que nós temos pessoas que não fazem parte do grupo, e nem são funcionárias do hospital, colaborando”, ressaltou Andressa.
A dedicação da equipe e a natureza do evento chamaram a atenção da também enfermeira Marilu Aparecida Rodrigues da Costa, que atua na Prefeitura, no Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) do Jardim Santa Rita de Cássia.
“Estou gostando muito, porque não deixa de ser uma diversão, ainda mais num domingo chuvoso, e uma contribuição ao próximo”, declarou.
Marilu afirmou que a situação financeira da Santa Casa é motivo de preocupação para toda a população. Disse, ainda, que o hospital sempre precisará da ajuda das pessoas. “É sempre bom ajudar, principalmente, quando sabemos que é para mantê-lo com as portas abertas”, complementou.
Premiada com um lenço, a enfermeira acrescentou que o principal brinde para quem participou do evento não foi o prêmio, mas o sentido do bingo. “A premiação maior vai para a população que depende da Santa Casa”, enfatizou.
Com a renda do bingo, a equipe do GTH espera comprar um novo equipamento para o centro cirúrgico – ainda não definido. “Nós nos reunimos para auxiliar o hospital, porque, às vezes, a diretoria precisa comprar alguma coisa, mesmo que pequena, mas não há dinheiro no caixa. Então, resolvemos auxiliar por meio de um bingo”, contou Alessandra Martins Augusto.
Funcionária do departamento administrativo da Santa Casa, ela afirmou que o grupo ainda não tem ideia de qual equipamento deve adquirir. Tudo vai depender do valor angariado. Até o fechamento desta edição (terça-feira, 23, às 17h), a equipe não havia concluído a contagem da arrecadação.
Como as arrecadações oscilam de um evento para outro, Alessandra disse que o GTH ainda não tem parâmetro para comparação. “O que podemos afirmar é que o valor será empregado para a aquisição de algo, ou do que o centro estiver precisando”, ressaltou.
Para promover o bingo, os 20 funcionários do grupo de trabalho realizaram um verdadeiro mutirão de arrecadação de produtos. Divididos em várias frentes, eles sensibilizaram colegas, médicos e entidades como a ACE (Associação Comercial e Empresarial).
A equipe precisou comprar apenas bebidas para comercializar junto aos salgados, servidos no bar do clube. “O restante foi tudo doado”, contou Alessandra.
Para dar transparência à ação, os organizadores catalogaram os produtos doados pela ACE e os valores em dinheiro cedidos pelos médicos do hospital. A equipe juntou, também, notas fiscais de produtos adquiridos como necessários para a realização do bingo. “Nós prestamos conta de tudo”, disse.
Da mesma forma, os funcionários devem apresentar uma espécie de balanço final da confraternização. Os dados serão divulgados em perfil de rede social (Facebook), na internet, e na própria Santa Casa. “Se alguém quiser conferir, temos um livro que pode ser consultado”, acrescentou.
Para o primeiro evento do ano, o grupo esperava arrecadar R$ 5.000 somente com a venda de cartelas. No total, 500 cartelas foram colocadas à venda, a R$ 10 cada. Até às 17h, a equipe de voluntários havia contabilizado R$ 3.075,50, sem considerar as vendas de comes e bebes.
Também voluntária, a provedora Fernanda Aparecida Rodrigues Laranjeira ressaltou o desprendimento dos funcionários. “Eles se organizaram para que isto acontecesse e têm apoio da diretoria”, comentou.
Paralisado por, aproximadamente, dois anos, o grupo de trabalho humanizado voltou a se reorganizar no início de 2017. A retomada dos trabalhos coincide com a eleição da presidência, vice e atualização do estatuto próprio.