
Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
“Não há mais severo moralista que o caloteiro quando caloteado” (E. Wertheimer).
(Poderíamos estender esse conceito indefinidamente):
Não há mais severo moralista que o ladrão, quando é roubado.
Não há maior defensor da justiça do que o injusto, quando injustiçado.
Não há maior indignado com a traição do que o adúltero que é traído.
Ia colocar neste artigo uma coletânea de frases geniais como essa, mas mudei de ideia. Estou hoje com o espírito mais para pilhérias do que para grandes reflexões filosóficas.
Então gostaria de contar alguns fatos reais engraçados que aconteceram comigo ou com amigos em Portugal.
Certa vez, acompanhei um amigo que iria fazer um orçamento na casa de uma simpaticíssima portuguesa. De repente, ela olhou para mim e disse:
– Ai, como tu és parecido com meu filho!
E olhava-me enternecida.
– Ele agora está no Brasil. Tenho muitas saudades dele.
– E o que faz ele no Brasil? – perguntei.
– Ai, ele me diz que está perdido na praia, no meio das brasileiras. Anda como abelha, de flor em flor…
Saí da casa dela com um monte de roupas do filho que fez questão de me presentear. “Servem todas em você! Você e ele são iguaizinhos!.”
Certa vez, eu queria comprar umas balas de hortelã.
– O senhor tem balas aí?
– Não, meu senhor, balas é só na venda de armas…
– Eu me refiro a isto… (E apontei para as balas de tangerina e de hortelã).
– Ah, isso não são balas. São rebuçados!
Depois, fui comprar uma fita durex numa papelaria.
– A sra. tem durex?
A moça enrubesceu. Muito sem jeito, me disse:
– Isso só tem na farmácia…
Descobri então que durex, em Portugal, significa camisinha!
– O sr. tem sumol? – perguntei ao dono do bar. Sumol era o nome de um refrigerante.
– Fresco ou normal?
– Qual a diferença? Num calor destes eu quero um sumol gelado!
– Meu amigo, gelado não temos aqui. (Fiquei então sabendo que gelado é o nome que se dá ao nosso sorvete.)
Normal é sem gelo, e fresco é gelado!
Demorou para eu me habituar com o português falado pelos nossos queridos irmãos de além-mar…
Até breve.
* José Ortiz de Camargo Neto