Pelos dogmas religiosos, Deus é onipresente, onisciente e onipotente – perfeito, portanto. Já os homens, segundo todas as religiões, não têm a mesma sorte, sendo imperfeitos, passíveis de cometerem erros – e cometem, todos cometemos.
Um grande problema acontece, por consequência, quando algum mortal é entendido como “divino”, e, assim, alçado à condição de inquestionável, um ser acima do bem e do mal.
Por ignorância – já que não é Deus e pode errar – ou por más intenções, essa “divindade”, sendo político, pode tornar-se ditador; sendo esportista, ganhar carta-branca para sonegar imposto ou vomitar bobagens aos borbotões; sendo celebridade artística, interferir na vida pública de maneira extremamente negativa. Tudo isso sem oposição e com entusiasmado aval da população.
O mais recente legado intrometido, impertinente e imbecil é desse mal social é a tal “lei da palmada”, promovida pela apresentadora Xuxa, com festivo apoio demagógico do Legislativo nacional.
Não há razão para perder tempo – mas, percamos assim – com a afirmação de que espancar criança é coisa de covarde, de perturbado mental, algo merecidamente punível, porém, praticado por uma parcela tão ínfima de pessoas que o fato não justifica uma lei tão invasiva do Estado (mais uma!) na vida íntima dos cidadãos, cuja imensa maioria não tem filhos com o propósito sádico de torturá-los.
A receita do politicamente correto com oportunismo hipócrita, que norteia a política nacional, é causa desse tipo de intromissão do estado, a qual, sempre visando votos, busca créditos perante a população para, assim ocultar sua própria incompetência generalizada.
Dane-se, em meio a esse movimento nocivo, prepotente e autoritário, o fato de que, praticamente todos nós, levamos algumas – ou várias – palmadas quando criança, e nem por isto nos tornamos bandidos – tampouco políticos oportunistas ou celebridades demagogas.
Talvez, justamente o que pode ter faltado a essa gente desavergonhada tenha sido apanhar um pouco na bunda. Muitos deles podem sido imaculados ao bullying, educados feito “filhinhos de papai” (termo de “gente antiga”), daí a abstração da realidade.
Mesmo a parte “bem intencionada” dessa gente parece não ter sofrido, não ter tido de lutar pelo que possui – ou herdou -, e, portanto, demonstra uma visão de mundo alienada (anos atrás, lembremos, a própria apresentadora declarou que não sabia existir “miséria” no Brasil…).
De repente, essa visão de “conto de fadas” é enfiada goela abaixo da população, essa que é obrigada a conviver com impostos e juros absurdos sem receber a devida contrapartida por seus sacrifícios e investimentos.
E a quem caberia administrar a riqueza desse povo e fazer retorná-la em (bons) serviços: exatamente a esses governos (no geral, não esse um em particular) que se mostram tão incapazes para prestar serviços, mas ótimos para receber.
Agora, na prática, esse povão, além de não ter acesso a educação e saúde públicas de qualidade para os filhos, também não pode educá-los feito os pais. Ora, quem tem mais experiência e moral para entender de educação familiar? Esses políticos e celebridades boçais, ou nossos pais e avós?
Quem não foi educado sob o teto dos Nardoni ou dos Boldrini (especificamente, aqueles que assassinaram os filhos), certamente, têm melhor exemplo dentro de casa do que nas políticas públicas. Daí, o absurdo dessa lei, cujo aspecto mais nefasto é a intromissão na vida íntima das famílias.
Em resumo, o estado brasileiro não se mostra eficaz para organizar um evento esportivo – envergonhando o país diante do mundo-, não oferece os serviços básicos com qualidade respeitável, mas, mesmo assim, se acha capaz de ditar o que os pais podem e não podem dentro de suas próprias casas!
Pior que isto, talvez, só o apoio popular (o mesmo que omissão, neste caso) a leis autoritárias dessa natureza. E isto por quê? Seria apenas resultado de campanha estrelada por uma celebridade?
Se for isto, é bom lembrar que a apresentadora pode ser a rainha dos baixinhos, mas não é deusa, e, portanto, sujeita a erros. Ela pensa que errou quando protagonizou o filme “Amor Estranho Amor”. Nada disso! Está errando agora, ao contribuir com mais essa intromissão fascista do Estado.
Muito melhor faria se estivesse à frente de uma ação pela melhoria da educação pública no país. Quanto à privada, ela que cuide da própria filha, e queira ter a cortesia de deixar nossos filhos por conta nossa.