Da redação
Na segunda-feira desta semana, 11, na cidade de São Paulo, faleceu o procurador de Justiça aposentado, poeta, escritor e colunista deste jornal (entre de tantos outros) Raymundo Farias de Oliveira, aos 97 anos.
Em O Progresso de Tatuí, ele manteve por cerca de duas décadas uma coluna essencialmente literária, sempre publicada na página 2. Mais recentemente, retomou a presença no jornal de maneira eventual, com poesias veiculadas no caderno de cultura.
No município, onde possuía residência em um condomínio, o escritor costumava passar temporadas, vindo a conquistar incontáveis amigos, sobretudo no meio literário e musical, sendo particularmente querido pelos seresteiros tatuianos.
“’Seu Raymundo’ – como o chamávamos – era uma daquelas pessoas que apareciam de repente, sem avisar. Contudo, diferentemente da maioria com este hábito, quando ele chegava, o que mais se via era um sorriso após o outro, de todos os colegas, do atendimento à redação”, lembra o editor Ivan Camargo.
“Difícil lembrar de alguém tão sensível e educado, gentil, quanto culto e talentoso com as palavras”, comenta Camargo. “Suas visitas eram momentos de leveza, descontração e até de aprendizado, senão por alguma nova informação apresentada por ele, no mínimo, pela postura invariavelmente elegante e atenciosa”, acrescenta o editor.
“Seu Raymundo era uma espécie de lorde, um lorde que veio do interior nordestino para espalhar simpatia, austeridade e carinho por várias partes do país, seja com sua presença, seja com sua delicada e inspiradora escrita”, conclui o editor.
Farias de Oliveira nasceu em Missão Velha, no Ceará, e veio ainda na infância para o interior paulista, onde fez o curso primário em Caiuá, o ginasial, em Presidente Prudente, contabilidade, na capital paulista e direito, em Bauru, na Instituição Toledo de Ensino.
O poeta foi procurador do Estado de São Paulo e, ao longo de sua carreira, sempre escreveu para jornais da capital e do interior e junto a várias revistas.
Entre estas publicações, além de O Progresso de Tatuí, destacam-se na biografia dele: “O Momento” (Presidente Prudente – SP), Itaytera (“Crato” – CE), “Repertório Latino Americado” (Buenos Aires – Argentina), “Literatura Brasileira” (São Paulo – SP), “Cadernos do Tâmega e Suplemento das Artes e Letras”, do jornal Primeiro de Janeiro, da cidade do Porto (Portugal).
Foi membro de várias instituições culturais na capital e no interior, entre as quais, nos municípios de Presidente Venceslau, Porangaba e Tatuí.
Na literatura, com a mesma desenvoltura e delicadeza, explorou todos os gêneros: crônica, ensaio, poesia, romance, conto e novela.
A poesia “A Menina” foi classificada na categoria “Destaque” no XVII Concurso Nacional de Poesia, em 1986, realizado pela revista Brasília, de circulação nacional, na capital federal.
“Poemas da Madrugada” recebeu, em 1983, menção honrosa do Pen Clube de São Paulo, pelo Prêmio José Ermirio de Moraes, no Masp. Já o romance “República da Frei Caneca” foi eleito pela Academia Paulistânia de História o “Livro do Ano”;
Ao todo, Farias de Oliveira publicou as obras: “O Comício” (crônicas – 1979), “Poemas da Madrugada” (1983 – menção honrosa Prêmio “José Ermírio de Moraes” – PEN Clube de São Paulo), “Prece ao Vento” (poemas – 1984), “Parlamentarismo – Plenitude Democrática” (ensaio – 1986), “Horário Nobre” (crônicas – 1988), “Companheiros de Viagem” (novela – 1990), “Sob o Céu de Jerusalém” (crônicas – 1997), “O Espelho do Tempo” (poemas – 1997), “Poemas da Tarde” (1999), “O Voo das Borboletas” (crônicas – 2000), “A República da Frei Caneca” (romance – 2006 – premiado na Academia Paulistana de História como “Livro do Ano”), “Voo Noturno” (poema longo – 2008), “Sob a Garoa de São Paulo” (poema longo – 2010) “Valsa do Adeus” (novela – 2011) e “A Rua da Minha Meninice” (poemas – 2016).
Associação de procuradores
Em virtude do falecimento, a Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo divulgou nota lembrando a atuação de Raymundo Farias de Oliveira junto à entidade. Registra a homenagem:
“A Apesp externa seu pesar pelo falecimento, aos 97 anos, do ex-presidente da Apesp, Raymundo Farias de Oliveira (biênio 1973/1974), ocorrido no último dia 11 de dezembro.
Graduado em Direito pela Instituição Toledo de Ensino, em Bauru, ingressou na PGE-SP em 1971, onde foi subprocurador-geral da área da assistência judiciária entre 1986 e 1987. Aposentou-se da Procuradoria em 1987.
Durante o seu mandato à frente da Apesp, inaugurou a sede da entidade na rua Líbero Badaró, no 23º andar do prédio do Banco Mercantil Finasa – endereço ocupado até hoje no 9º andar.
Foi ainda primeiro-secretário da Apesp no biênio 1972/1973, quando a sede foi efetivamente comprada na gestão do presidente Waldir Troncoso Peres.
A associação presta toda a solidariedade aos familiares e amigos do nosso valoroso associado e estimado colega.”