Da reportagem
Neste dia 4 de julho, faleceu aos 78 anos Clodoaldo Rodrigues Nunes, conhecido como “Seu Rodrigues”, nome ligado às origens da esquerda “moderna” em Tatuí.
Preso e torturado na ditadura (1964-1985), Rodrigues teve intensa vida político-sindical, sempre ligada à formação de jovens lideranças. Ele é considerado um dos mentores do grupo que viria a formar o Movimento Popular Práxis de Tatuí.
Natural de Ourinhos, recebeu o título de cidadão tatuiano em 2019, por indicação do atual presidente da Câmara, Eduardo Dade Sallum.
Rodrigues foi enterrado na quarta-feira da semana passada, 5, no Cemitério Cristo Rei. Enfrentando problemas de saúde há alguns anos, ele faleceu de pneumonia.
No fim da primeira década dos anos 2000, Rodrigues se dedicou a formar um grupo de jovens que, posteriormente, viriam a fundar o Práxis.
Teve atuação como orientador do processo de formação deles, incentivando-os a “ir para as atividades práticas”, organizando cursos de formação, eventos culturais, montando grêmios estudantis, diretórios, centros acadêmicos e chegando às disputas eleitorais – Sallum foi um deles.
“Sua trajetória política, escrita em um momento crucial da história brasileira, o colocou como um dos responsáveis pela possibilidade de, hoje, podermos usufruir de nossos direitos e da liberdade democrática”, disse o parlamentar.
Trajetória
Rodrigues nasceu dentro de uma família de classe média – seu pai era mecânico de automóveis em um tempo em que não eram muitos aqueles que exerciam esta profissão no Brasil.
Assim, o jovem pôde receber uma boa educação formal, chegando a ingressar na USP (Universidade de São Paulo) em 1964, no curso de física. Durante o período, foi bolsista da Nasa no Laboratório Péletron (1964-1966).
Mas a fase coincidiu com o golpe militar, e Rodrigues acabou na clandestinidade. Foi preso e torturado de 1971 a 1972 por ser integrante do Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária).
No ano de 1976, “mudou-se para Sorocaba, com a esperança de que, lá, diminuiria a perseguição contra ele”, conforme apontado em sua biografia, contida em documento na Câmara Municipal de Tatuí.
Na cidade vizinha, a partir de 1976, já estava com a vida legalizada e se aplicou a lecionar em cursinhos. Em 1984, concluiu o curso de bacharel em direito na Faculdade de Direito de Sorocaba (Fadi), com a finalidade de vir a atuar no campo do direito do trabalho.
No processo de abertura política do país, Rodrigues iniciou o trabalho de auxiliar a organização de categorias de trabalhadores. No ano de 1986, deu início à formação do Sindicato dos Condutores de Sorocaba, politizando e conduzindo as novas lideranças do setor.
Já no fim dos anos 1990, assessorou o Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias, no qual permaneceu por três anos. No início dos anos 2000, foi professor da Unisal, de Americana, onde lecionou direito do trabalho e economia.
Já em Tatuí, trouxe para a cidade o Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos (Sindoméstica), o Sindicato dos Empregados em Turismo e Hospitalidade de Sorocaba e Região (Sinthotressor), o Sindicato dos Trabalhadores do Setor Hoteleiro de Sorocaba e Região (Sinthoressor) e o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sindtac Tatuí). Em 2005, especializou-se em economia do trabalho, na Unicamp.