Da reportagem
Morreu na manhã da sexta-feira, 9, aos 90 anos, a professora Leila Salum Menezes da Silva. De acordo com a família, a causa do falecimento foi em decorrência da falência múltipla de órgãos.
O velório acontece neste sábado, 10, às 8h, no espaço municipal junto ao cemitério Cristo Rei, localizado na avenida João Clímaco (Avenida das Mangueiras). O sepultamento está previsto para as 10h30.
“Dona Leila”, como era conhecida, nasceu em Tatuí, no dia 31 de agosto de 1932. Cursou o ensino fundamental I na Escola Municipal “Eugênio Santos” e o ensino fundamental II e o ensino médio na Escola Estadual “Barão de Suruí”.
Foi formada pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC). Lecionou nas disciplinas de português, francês e latim, no “Barão de Suruí”, em Cerquilho e na Escola Industrial. Dona Leila era fluente em cinco línguas.
Teve entre seus alunos da 5ª série do ensino fundamental o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Celso de Mello Filho. Efetivou-se em 1967, como professora de língua portuguesa, em Cerquilho. Em 1969, transferiu-se para o “Barão”, onde deu aulas até a aposentadoria, em 1980.
Vencedora de diversos concursos literários e profunda conhecedora das obras do escritor Paulo Setúbal, Leila foi contemplada em segundo lugar no Prêmio Literário Paulo Setúbal, em 1969 e em 1971. E conquistou o primeiro lugar nos anos de 1970, 1972, 1973, 1974 e 1975.
Em 1993, por conta das comemorações do centenário de nascimento de Paulo Setúbal, Dona Leila lança o livro “Biografia de Paulo Setúbal – Sua Vida, Seus Motivos, Sua Técnica”.
Depois da aposentadoria, a professora entrou para a faculdade de direito de Itapetininga, exercendo a profissão de advogada por 23 anos. De 1984 a 1986, foi diretora da Casa de Cultura “Paulo Setúbal”.
Em 2010, prestou homenagem ao escritor tatuiana e ao seresteiro e ex-prefeito Paulo Ribeiro, no espetáculo “O Poeta e o Seresteiro”, no Teatro “Procópio Ferreira”, do Conservatório de Tatuí.
Repercussões
Em nota, a diretoria da 26ª Subseção da OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil) afirmou: “Hoje, tivemos a perda de nossa colega, Drª. Leila Salum, pessoa que não por demérito da advogada ou da escritora, mas por todos os méritos da professora assim será lembrada.
Muitos passaram por suas aulas e nunca saíam da mesma forma, seu amor à língua portuguesa e à cultura eram algo contagiante.
Uma mulher solidária, prestativa, enérgica, exigente, não só com seus alunos, mas com as coisas da vida.
Enfim, hoje nos deixa uma mulher, esposa, mãe, avó, professora, escritora, advogada… É, Dona Leila, vamos parar de adjetivar e apenas declarar nossa saudade, uma até qualquer hora mestra e colega!”.
Para a secretária da Educação, Elisângela da Costa Rosa Cecílio, Dona Leila foi um “ser humano ímpar”. “Ela foi professora de meus tios e era muito citada em casa. Quando fiz meu curso de magistério, todos os meus professores falavam dela como referência na área da Educação”.
“Lembro-me dela nas noites de abertura da Semana Paulo Setúbal, poetizando com maestria. Tatuí terá lindas lembranças de sua trajetória fascinante!!! Deixa-nos um legado forte de sabedoria! Professora Leila, descanse em paz!”, declarou Elisângela.
Em nota, o vereador e presidente da Câmara Municipal, Antônio Marcos de Abreu (PSDB), afirmou que “Dona Leila Salum dedicou a vida ao ensino, sempre olhando para o próximo e para o fortalecimento da cultura do município”.
“Estudiosa das obras do tatuiano Paulo Setúbal, foi uma das responsáveis pelo movimento de estímulo à leitura junto a outros mestres, levando os textos do escritor para as escolas da cidade”, lembrou.
“É autora de pesquisas históricas que ajudam na construção da identidade dos tatuianos. Dentre elas, a que conta a criação da então ‘Casa de Cultura’ de Tatuí, o atual MHPS (Museu Histórico ‘Paulo Setúbal’).
Atuou como jurada em incontáveis concursos culturais e literários e, em vida, nunca parou de ensinar. Deixa a todos, além do trabalho, uma grande lição de vida!
Aos familiares, parentes e amigos, meus sinceros sentimentos”, concluiu Abreu.
Para o chefe de gabinete da prefeitura, Christian Pereira de Camargo, a morte de Dona Leila foi uma perda para a cidade, pelo “exemplo de vida que ela se tornou para os tatuianos”.
“Ela foi uma referência nas áreas em que atuou, como professora, cristã, escritora, advogada. Dona Leila sempre teve uma postura exemplar”, mencionou Camargo.
O chefe de gabinete frisou o trabalho dela sobre o escritor Paulo Setúbal. “Ela foi a pessoa que mais conhecia a vida dele e a detalhava com esmero. Que Deus conforte sua família”, escreveu Camargo.
Para o diretor municipal da Cultura, Rogério Vianna, Dona Leila realizou um trabalho de referência nos âmbitos da educação e da cultura no município.
“Ela era uma pessoa maravilha e que, no Museu Histórico ‘Paulo Setúbal’, atuou bravamente pela memória do nosso escritor”, enfatizou Vianna.
“A cultura de Tatuí deve muito à Dona Leila. Sua perda é um momento de grande pesar, e que sua memória e seu legado continuem vivos, pois são salutares ao nosso povo”, acrescentou Vianna.
“Dona Leila era a professora que tinha o dom de incendiar minha mente e arrebatar meu coração ao retratar brilhantemente poetas e escritores de seu gosto literário”, escreveu a poetisa Cristina Siqueira, em rede social.
Para Cristina, graças a Dona Leila, a língua portuguesa deixou de ser uma matéria chata para ela. “Nos intervalos das aulas, me lembro de ficar compondo poemas na lousa pelo prazer de criar, e depois com entusiasmo ela me incentivava a prosseguir. E descobri que em poesia também se devia contar os versos e combinar as rimas até que elas se soltassem de sonetos e alexandrinos compondo com o vento um jeito de dizer mais livre”, relatou a poetisa.
“Tenho grande admiração e gratidão por sua generosa amizade. E Deus há de lhe preparar um caminho de luz com seus anjos guardiões e com os espíritos de todos os seus que já partiram. Aos familiares e amigos um lamento de saudade por esta estrela que nos iluminou com sua sensibilidade e conhecimento”, completou Cristina.
Educação em todos os sentidos
Não tive o privilégio de estudar formalmente com a Dona Leila, embora ela tenha sido uma verdadeira professora para mim e para todos que fizeram parte da redação do jornal O Progresso.
Era comum – antes do Google, particularmente – ligarmos para ela quando precisávamos tirar dúvidas de português além dos dicionários, sendo, sempre, atendidos com a mesma gentileza e paciência.
Lembro até hoje quando, na correria de um dia de fechamento de edição, pedi para a minha mãe (Ana, que era amiga dela desde sempre) ligar para a dona Leila para confirmar que “pronto atendimento” não tem hífen…
O serviço estava sendo inaugurado em Tatuí e, então, havia colocações do termo em todos os lugares, com e sem hífen. E aí, como de costuma, a querida professora resolvia o problema e ainda nos dava uma aula de português, explicando as razões de as palavras serem de um jeito ou de outro.
Não por acaso, quando escrevi o primeiro livro, humildemente, fui pedir que ela o revisasse. Claro, ela me atendeu, fez o trabalho e, mesmo que eu insistisse, jamais aceitou nada em troca.
Quando recebi o original de volta, fiz uma pausa, com receio, antes de folhear as páginas. Pensava que poderia ter muitos erros e, assim, ficaria constrangido diante dela (afinal, um jornalista deveria saber escrever minimamente bem).
Contudo, não havia tantos erros assim, e acabei ficando muito feliz. Guardo esse original até hoje, com os rabiscos dela, como uma preciosidade, um objeto de estudo.
Depois desse, os demais que escrevi foram revisados por ela. Guardo-os em papel, todos, em meus pertences mais importantes. Tenho-os, desde então, como referências de revisão e motivo para pesquisar, estudar mais as razões de eventuais falhas. Por esse ensinamento, por essa gentileza e sabedoria, serei eternamente grato.
Para o jornal, também Dona Leia foi parceira de décadas. Basta lembrar que, desde o primeiro Concurso Artístico e Literário de Natal, em 1995, ela foi jurada – a única, inclusive, nessa edição pioneira. Na sequência, participou de praticamente todos, exceto do mais recente, quando já não estava em plena saúde.
Por tudo e tanto, dona Leila será lembrada não apenas por esta família, do jornal O Progresso, mas, certamente, estará marcada na história de Tatuí como uma de suas personalidades mais admiráveis; uma intelectual, mestre em que tudo que se propôs, porém, muito além, um ser humano sensível, generoso e correto. Um exemplo de Educação em todos os sentidos!
(Ivan Camargo, editor do jornal O Progresso de Tatuí)
Eternamente em meu coração!
O céu ganha uma estrela.
Dona Leila Salum Menezes da Silva, a nossa professora Leila atendeu ao chamado do Senhor e neste momento passa a fazer parte da Academia Cultural dos Anjos.
Simplesmente ela fez no ontem a diferença na vida de muitos.
Ontem, pelo dia a dia, o aprendizado, o educar. “Dona” Leila Salum, a nossa eterna professora da língua portuguesa.
E hoje ao nos deixar, fisicamente, muito mais que uma professora, dona Leila foi educadora de vida quando nos ensinou que devíamos aprender a seguir, a continuar sempre e, tornando-se o exemplo ela assim o fez.
Foi assim.
Dona Leila foi superação, que atropelou a dor e continuou fiel a um amor sem fim e, assim formou uma família: maior do que ela imaginava, pois embora não sejamos de seu sangue, vindos de seu ventre, somos gratos e assim nos inspiramos.
Dona Leila, retratou em seu caminhar a vermelhice cheia de cultura, deste chão tão cheio de idas e vindas!
Eternamente em meu coração!
Fez parte da minha história e na de minha família, tão cheia de estórias!
Com dona Leila só pude conjugar o verbo Amar: E sempre no presente!
Que os anjos lhe recebam em festa e que em paz esteja.
Força, família!
Aprendi a amar e conhecer as obras de Paulo Setúbal através dela!
(Educadora Sílvia Manso)
Adeus, “Dona Leila”
Palavras num pedaço de papel não são suficientes para descrever as qualidades incontáveis e o legado que a minha vó deixou na história de Tatuí.
Ela mudou muitas vidas por meio de sua generosidade, a qual eu considero sua principal qualidade. Espalhou seu carisma e senso de humor por onde passava e tinha o amor mais puro dentro de seu coração.
Sempre tive o maior orgulho de ser neta da “Dona Leila”, sem contar o privilégio de ter herdado o seu nome. Quem me dera ter herdado todas as outras características. A minha vó, sem dúvida, foi a pessoa mais guerreira e batalhadora que eu conheci na minha vida.
Quantas vezes escutei “sua vó foi minha professora!”, e as histórias peculiares de cada ex-aluno só me davam mais orgulho de ser neta dela.
Minha vó sempre foi minha maior inspiração, o melhor exemplo a ser seguido. Como não esquecer o amor imensurável pela família, a inteligência, a determinação, a bondade, o dom do perdão, a escrita impecável, o desapego pelo mundo material, a força extraordinária depois de ter vencido tantas batalhas na vida.
Inúmeras foram as vezes que ela defendeu clientes e deu aulas de graça. De um jeito ou de outro, ela fazia questão de ajudar todos que a rodeavam. Tudo o que ela fez foi por amor.
É desta Leila que devemos lembrar: aquela fortaleza de mulher e o sorriso que contagiou tantas pessoas.
Não posso deixar de citar o amor indescritível que ela tinha pelo meu vô. Era “Gilton” pra cá, “Gilton” pra lá; não o deixava um minuto sozinho. A cena mais bonita de se ver era os dois sempre juntos de mãos dadas, depois de tantos anos de casados, e o famoso “beijo” quando a família se reunia nos almoços de domingo ou após certa comemoração.
Após uma longa e tão sonhada espera, minha vó finalmente encontrará os dois filhos e isso fará dela a pessoa mais feliz do mundo. Não há como descrever a emoção que ela sentirá quando o reencontro acontecer e estiver nos braços dos filhos tão amados.
Vá em paz, minha vó querida.
(Leila Hawkins, neta)