Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
Caros amigos:
Um cliente que sofria de depressão foi ajudado pelo grupo de terapia da Psicanálise Integral, conseguindo superar seu estado. Porém, a reação que teve surpreendeu a todos.
Encontrando-se dias depois com uma das pessoas que o ajudaram a sair da depressão, disse-lhe:
– Assim, você está tirando meu prazer de viver!
Notem os leitores que ele declarou que sentia muito prazer com sua doença!
Na minha geração, havia um ditado: “curtir a fossa”. Um ditado e um costume.
Reuniam-se os amigos num barzinho para beber e ouvir músicas tristíssimas (como os fados de Portugal), aproveitando a oportunidade para se lamentarem uns aos outros por suas dificuldades, sobretudo amorosas.
Um consolava o outro, alguns derramavam copiosas lágrimas e todos falavam de suas desventuras. Assim passavam a noite, “curtindo” juntos aqueles momentos, com grande prazer mórbido. Tais momentos eram buscados toda semana, todos esperando para a próxima dose – como se fosse um vício (e de fato era).
Não preciso falar dos poetas ultrarromânticos, cujo prazer poético era imaginar que morreriam logo, a tristeza que sua morte ocasionaria aos próximos, as coisas que deixariam de realizar devido a seu perecimento tão jovens etc.
Por que o ser humano busca desse modo a melancolia, a depressão? Por que tira prazer com tal conduta que estraga sua existência? Por que não prefere viver alegre como era na infância?
Isto parece que é um fenômeno universal. Por exemplo, “o psicanalista finlandês Pertti Simula afirmou que um cliente sueco lhe havia dito não poder aceitar a felicidade e o bem-estar, porque se sentiria mal.
– É algo totalmente incompreensível, completou”.
Pertti contou esse fato ao psicanalista Norberto Keppe, que o registrou em seu livro “Metafísica Trilógica Vol. 1 – A Libertação do Ser”, na página 88.
Observa-se aqui o mesmo tipo de atitude de inversão que leva o ser humano aos vícios, como beber, fumar, tomar drogas – coisas que sente prazer em fazer, mesmo sabendo que o prejudicam seriamente.
Por isso considero a descoberta da Inversão Psíquica (ver a realidade ao contrário do que é) a maior descoberta científica moderna. Através dela (da Inversão) o ser humano vê como bom aquilo que o prejudica (vícios, agressividade, depressão), e como mau, tudo que o ajuda: o trabalho honesto, o esforço, a dedicação, o estudo correto, o amor e ação boa etc.
Tal fato precisa ser conscientizado, para que possa ser corrigido.
Até breve.