Como nos últimos 16 anos, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Tatuí está fazendo parte do projeto “Intercâmbio Indígena”, que teve início na manhã de segunda-feira, 1º, no Sítio Santa Rosa.
Desenvolvido durante o mês de abril, por conta do Dia do Índio, celebrado dia 19, o projeto tem objetivo de oferecer uma experiência junto à cultura indígena para grupos de crianças com idades entre quatro e dez anos, estudantes do ensino infantil ao quinto ano das escolas públicas e particulares.
Cerca de 120 alunos da Apae conversaram e interagiram com os índios, foram instruídos a utilizar o arco para lançar flechas, tiveram o rosto pintado como se fossem membros da tribo e viram, de perto, os objetos utilizados no dia a dia das aldeias.
“Esse intercâmbio acontece dos dois lados, tanto da criança para os índios como dos indígenas para a nossa realidade. Hoje, muita coisa estudada em livros não existe mais, e o legal é possibilitar esse encontro para verem que ainda é real e que precisa ser preservado”, declarou o assessor pedagógico do sítio, Flávio Augusto Medeiros.
Os alunos têm experiências em diversos ambientes, conhecem uma casa de barro (típica da tribo pataxó, que já passou pelo sítio) e uma oca (onde são dadas explicações sobre moradia e costumes).
“Isso tudo dentro da mata. Para irem de uma base a outra, há trilhas, ponte pênsil e muita aventura”, acrescentou o assessor pedagógico.
O projeto existe há 16 anos e, pela quinta temporada consecutivo, é realizado com membros da tribo kuikuro, a maior em população da região do rio Xingu, com aproximadamente 800 membros. Anteriormente, já passaram pelo sítio as tribos xavante e umutina, do Mato Grosso, e pataxós, da Bahia.
O grupo de oito índios, que ficará no município durante todo o mês, é composto por dois casais e quatro crianças, percorreu trajeto que durou quatro dias e passou pelo transporte por barco, caminhão e dois ônibus.
Os índios passaram um dia inteiro apenas de barco para chegarem até uma fazenda, onde havia um caminhão esperando. Com o veículo pesado, percorreram 300 quilômetros até a cidade mais próxima.
Neste momento, sobem em um ônibus e “enfrentaram” mil quilômetros até Goiânia (GO). Da capital goiana, seguiram em outro ônibus por mais mil quilômetros até Sorocaba (SP), onde representantes do Sítio Santa Rosa estavam aguardando para trazê-los a Tatuí.
Neste período, os índios estarão recebendo estudantes de várias partes do estado de São Paulo, de segunda-feira a sexta-feira. Além da interação, os kuikuros irão produzir artesanato e expor o que trouxeram diretamente do Mato Grosso.
Em todos os dias, o sítio recebe grupos de até 150 estudantes. A programação soma experiência com os indígenas e atividades ao ar livre.
Pai de Augusto Medeiros e proprietário do sítio, José Roberto Medeiros afirma que, por ser uma atividade especial, na qual os índios vêm de longe para um período específico de permanência, os agendamentos têm de ser feitos com antecedência.
De acordo com Pedro Couto, professor da Apae há 30 anos, a oportunidade de conhecer a cultura indígena in loco reflete no trabalho desenvolvido em sala de aula. Segundo ele, os alunos da instituição possuem certa dificuldade com o abstrato, “e a visitação permite algo concreto para trabalhar a memória dos alunos”.
“A visita permite a eles uma referência sobre os índios e facilita as atividades que faremos até o Dia do Índio”, certificou o professor.
O tempo de permanência das tribos no projeto varia conforme o desempenho dos representantes, priorizando os que mantêm os hábitos originais.
Os kuikuro habitam três aldeias no sul do Parque do Xingu, primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Falam a língua cuicuro e uma de suas principais características é o fato de não consumirem carne, somente algumas espécies de peixes, além de tapioca. A tribo também é conhecida pela forte ligação com a espiritualidade.
O índio Kanapa Kuikuro, de 29 anos, responsável por responder as dúvidas das crianças, já esteve no Sítio Santa Rosa no ano passado. Ele conta que, desta vez, voltou com a própria família.
Conforme ele, os parentes entendem as atividades desenvolvidas no sítio e afirma que já estão aprendendo a falar português. “Não tenho vergonha de falar português. Se errar, não tem problema, até porque não sou da cidade, sou nascido na aldeia”, comentou.
“Há quem pense que somos do mato e não sabemos nada, mas somos todos iguais. Em todo lugar há quem seja mais inteligente ou pessoas boas ou ruins. Não existe muita diferença, além das rotinas de cada local”, finalizou.