Da reportagem
Os estudantes do curso de tecnologia em produção fonográfica, da Fatec Tatuí (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”, estão se destacando em trabalhos de sonorização de diversos jogos para plataformas digitais. O curso atrai pessoas de todo o Brasil.
Em 2015, foi fundado o Naga (Núcleo de Áudio e games), na Fatec, para desenvolver competências de sonorização de jogos junto com os alunos, por essa ser umas das áreas consideradas mais importantes da produção fonográfica.
“Diariamente, realizamos práticas profissionais e treinamento com os estudantes, nos estúdios”, explicou o professor Lucas Meneghette. Segundo ele, o núcleo se assemelha a um estágio, porém, feito nas dependências da instituição.
No jogo “Dininho Adventures”, os estudantes elaboraram os efeitos sonoros do game, já lançado em plataformas digitais e criado pelo youtuber Erick Coelho. O enredo gira em torno da “aventura com um dinossauro em um mundo divertido e desafiador para recuperar os ovos roubados por um terrível vilão”.
“Nossos alunos viram a criação do projeto e entraram em contato com o Erick. Ele precisava de uma equipe que desenvolvesse a parte fonográfica. A parceria deu certo, e foi realizado um ótimo trabalho”, complementou Meneghette.
Como trabalho final das oficinais, os alunos do núcleo fizeram a sonorização de parte do game “Dininho Adventures”. A aluna Ana Paula Kelm Soares, 33, participou do projeto.
O trabalho dela chamou a atenção do professor Meneghette, que a convidou para incorporar o grupo desenvolvedor. “O curioso é que, ao ingressar no curso, eu não tinha noção deste mercado e de sua demanda. Conheci por acaso”, disse a estudante, que está no sexto semestre do curso e também tem formação em engenharia ambiental.
Ana Paula vê nos jogos um segmento promissor. “Ao me graduar, pretendo abrir uma empresa na área e me profissionalizar cada vez mais”, contou.
Raul da Silva, 26, que cursa o terceiro semestre de tecnologia em produção fonográfica, foi convidado para criar a sonorização do jogo “Elementais”. “O game, que foi lançado há tempo, será relançado repaginado, graças à parceria com o Naga”, destacou Silva.
Para ele, a vivência no curso tem rendido muito conhecimento e desafios. “É uma constante atualização. Ao mesmo tempo, revisito projetos feitos anteriormente”, complementou ele, que, após concluir o curso, pretende especializar-se também em edição e mixagem.
Único curso gratuito no Brasil
Meneghette lembra que o curso da Fatec é o único gratuito de produção fonográfica do Brasil. Ele trabalha com três vertentes: a música, que engloba disciplinas da história musical; o áudio, que envolve gravação, mixagem, masterização e efeitos sonoros; e, por último, a parte de gestão, que foca em direito fonográfico e empreendedorismo.
“Atualmente, o curso tem 240 alunos e possui um perfil sociodemográfico diferente dos demais. Temos alunos de Tatuí e de diversos lugares do Brasil, como Amapá, Rio Grande do Norte e Tocantins, por exemplo”, ressaltou.
Com previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano, o minidocumentário “Naga Minidocs” destacará o trabalho dos compositores brasileiros de jogos. Ele é fruto de um projeto de graduação e orientado por Meneghette.
Mercado no Brasil e no mundo
“No Brasil, o mercado de jogos em geral começou a crescer no final da década de 1980. A consolidação do segmento veio nos anos 2000, com o crescimento do número de graduações na área de tecnologia”, conta Meneghette.
Para ele, eventos como o “BIG Festival” (Brazil’s Independent Games Festival) também contribuíram para que as pessoas se interessem sobre a área e ingressem nela, “assim conquistando sólida carreira e inspirando outras pessoas ligadas em tecnologia”.
“O mercado de trabalho para quem sabe desenvolver jogos digitais está em crescimento no Brasil. A qualificação profissional é essencial nessa área, que inclui tanto a programação de jogos digitais quanto sua interface gráfica”, completou.
Segundo dados divulgados pela última edição da Pesquisa Game Brasil, de 2020, mais de 70% dos brasileiros são adeptos de jogos eletrônicos, um público 7% maior que o registrado em 2019.
A principal faixa etária é de 25 a 34 anos (33,6%), seguida por 16 a 24 anos (32,5%). As mulheres são maioria entre gamers, representando 53,8% do total do público. Entre os brasileiros, 86% preferem jogar pelo celular, enquanto 43% priorizam o videogame e 40%, o computador.
A importação de jogos nacionais aumentou 600% durante a pandemia e, em 2020, o país teve o crescimento da primeira empresa do ramo com valor acima de US$ 1 bilhão. O Brasil é o quinto mercado consumidor mundial de jogos eletrônicos, mas só o 13º produtor de games do mundo.