Da reportagem
O Condephat (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí) aprovou na quinta-feira da semana passada, 8, o tombamento da Estação Experimental de Agronomia “Engenheiro Agrônomo Armando Pettinelli” de Tatuí.
A aprovação ocorreu durante a quinta reunião ordinária, de forma virtual, com a participação do presidente do conselho, Rogério Vianna, e dos conselheiros Luiz Antônio Fernandes Guedes, Cassiano Sinisgalli, Rafael Halcsik Coutinho, Davison Pinheiro, Priscila Simões, Luís Antônio Galhego Fernandes, Juraci Oscar Júnior, Patrícia Campos de Lima e Maíra de Camargo Barros.
Para o órgão colocar em análise a proposta de tombamento do espaço, Coutinho, Fernandes, Priscila e Sinisgalli formaram uma comissão. Eles ficaram responsáveis pelo levantamento do histórico e dos bens que compõem a fazenda da Estação Experimental e pela elaboração de um relatório detalhado.
O material foi produzido por meio de estudos e uma visita “in loco”, realizada no dia 22 de setembro, da qual participaram o fotógrafo Pablo Ruiz e o agente cultural Rogério Miranda, que auxiliaram no levantamento dos registros históricos.
No relatório, apresentado ao Condephat, a comissão ressalta a importância da unidade e elenca casas antigas, armazéns, oficinas, plantas e monumentos, além de detalhar as atividades mantidas pela Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Tatuí – Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista.
O conselho analisou as descrições apresentadas pela comissão e aprovou o processo por unanimidade. Agora, o Condephat avalia qual o método mais adequado de tombamento, que pode ser englobando todo o perímetro da estação ou apenas locais específicos.
“O próximo passo da comissão é a elaboração do decreto municipal de tombamento, que será encaminhado à prefeitura para oficializar o processo. Após a publicação do documento, os conselheiros direcionarão o processo ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), órgão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado de São Paulo, para o tombamento em âmbito estadual”, informou o presidente.
A estação
Chamada atualmente de Unidade de Pesquisa de Tatuí, a fazenda da “Estação” tem cerca de 40 alqueires – ou quase 970 mil metros quadrados (cada alqueire equivale a 24.200 metros quadrados) – e pertence ao estado de São Paulo. Além de ser um espaço de pesquisas, é um centro meteorológico.
Conforme a comissão do Condephat, o local conta com 22 moradias, chamadas de “casas dos colonos”. Os imóveis, datados da década de 40, eram oferecidos aos funcionários da Estação. Eles foram reformados em 1985 (dez estão com processo de demolição instaurado), sendo que, atualmente, duas famílias residem no local.
Como almoxarifado e oficinas, a comissão listou seis prédios construídos na década de 30, usados como armazém de defensivos, expurgos de sementes, almoxarifado, estábulo, carpintaria, laboratório de sementes e manuseio de ensaios – um deles em processo de demolição.
Um ponto de destaque no relatório produzido pelo Condephat é a instalação da estação meteorológica, construída com equipamentos importados da Alemanha. A unidade tinha um alcance médio de 30 quilômetros e permitia prever o tempo, análises do comportamento de fenômenos meteorológicos, temperatura do solo, evaporação, quantidade chuvas e ainda estabelecer parâmetros de interesse dos agricultores (quando irrigar, excesso de água, falta de condições ideais de solo, aplicação de defensivos e colheita).
Outro espaço avaliado pelo Condephat é uma tulha, construída em 1935 para armazenar o algodão. Segundo o relatório, o armazém conta com amplo espaço, construído com telhado e assoalho de madeira e um terreiro no qual era realizada a secagem do algodão para a estocagem. Atualmente, o local serve para a eventos, palestras e workshops.
O relatório ainda dá detalhes sobre árvores e plantas existentes no local, ressaltando o banco ativo de germoplasma de bambu, instalado na unidade desde 1958. Segundo a Aprobambu (Associação Brasileira dos Produtores de Bambu), o local mantém a maior coleção da espécie no Brasil, para o fomento aos micros, pequenos e médios produtores rurais de São Paulo.
No local, foram introduzidas plantas da Colômbia, China e Japão, resultando em 135 espécies de bambus catalogadas e com “ampla diversidade”, para utilização na construção civil, artesanatos, tutoramento, produção de papel e celulose, biomassa e brotos. A fazenda ainda conta com cerca de 200 mangueiras de mais de 50 anos de idade.
Outra atração da Estação Experimental, pontuada pelo relatório, é o monumento “O Semeador”, do artista plástico e professor Josué Fernandes Pires – estátua cedida à Estação Experimental em homenagem aos 50 anos do local. No monumento, há a inscrição em latim: “Ecce Exit qui Seminare”, que significa “eis aqui aquele que semeia”.