Especialista fala sobre a fibromialgia

Neste Fevereiro Roxo, médico aborda os viesses cognitivos do diagnóstico que podem levar ao erro

Erro médico pode levar ao diagnóstico errado da fibromialgia (foto: Divulgação)
Diléa Silva

Segundo o doutor Felipe Mendonça, reumatologista da Imuno Brasil, a fibromialgia é uma síndrome de sensibilização central que apresenta uma dor crônica generalizada. E, neste mês de conscientização, Fevereiro Roxo, é necessário abordar os viesses cognitivos e as metodologias de diagnóstico a fim de evitar erros.

Conforme o profissional, como não há um exame patognomônico capaz de diagnosticar a fibromialgia, o diagnóstico geralmente é realizado, na prática clínica, por meio de achados e experiências subjetivas do profissional, o que é referido na literatura médica como Fibromialgia clínica (ClinFM). No entanto, este método revela discrepâncias nos resultados, uma vez que o diagnóstico pode variar consideravelmente entre os médicos.

“Diante deste contexto, a pergunta é: existe uma forma correta de diagnosticar a fibromialgia? O especialista e autor do artigo ‘Cognitive biases in fibromyalgia diagnosis’, publicado na revista científica Joint Bone Spine (p. 105339-105339, 2022), fala sobre o método com base nos critérios, também conhecido como Fibromialgia por Critérios (CritFM), que embasa os estudos na área”, destaca Mendonça.

“Esta forma de diagnóstico é fundamentada em critérios validados pela pesquisa clínica, por meio de uma pontuação dos sinais e sintomas do paciente, ou seja, como ele enxerga e sente o que está acontecendo com seu próprio corpo”, acrescenta o profissional.

Segundo Mendonça, essa etapa é realizada a partir de um questionário. Ele alerta que apesar deste método ser fundamental para a homogeneização dos doentes com objetivo de pesquisa, ele acarreta falsos positivos e negativos com grande frequência, na prática clínica.

“Apesar da importância do parecer do paciente, que pode ser quantificado através dos critérios diagnósticos, a avaliação médica é essencial para concluir algum resultado, principalmente para excluir as possibilidades de doenças reumáticas autoimunes. Isso acontece porque muitas outras doenças podem se apresentar com um quadro semelhante, muitas vezes preenchendo todos os critérios da CritFM”, explica.

Conforme o profissional, para que isso aconteça de forma certeira, os profissionais também devem considerar os viesses cognitivos do diagnóstico da fibromialgia, ou seja, os erros e tendências errôneas do raciocínio, que são inerentes aos seres humanos, e que podem levar o médico a uma conclusão diagnóstica equivocada.

Um dos viesses, conforme aponta o especialista é a representatividade. “Estereótipos pré-formados de pacientes fibromiálgicas, muitas vezes com características que não fazem parte de fato da doença, que levam o médico a diagnosticar erroneamente como fibromialgia pacientes que se encaixem neste estereótipo pré-formado”.

Outro fator apontado é o viés de confirmação. “Uma vez elaborando uma opinião pré-formada diagnóstica para determinado paciente, o médico tende a ignorar novas informações que sugerem um diagnóstico outro que não o inicialmente realizado. Assim, pacientes inicialmente diagnosticados como fibromialgia, seguem sendo taxados como fibromiálgicos, mesmo surgindo informações que falem contra o diagnóstico, que mereceria ser revisto”.

O viés de satisfação da pesquisa também é apontado pelo especialista. “Refere-se à tendência de não explorar mais exames ou sintomas, uma vez que a fibromialgia foi apontada como diagnóstico, podendo deixar de lado novas avaliações diagnósticas que poderiam mudar o curso do raciocínio e tratamento”.

Por último, o profissional ainda pontua o “viés de momentum”. “A falta de revisar continuadamente um diagnóstico, pode levar ao erro, pois podem desaparecer alguns sintomas e outros serem descobertos, mudando totalmente o resultado. Este viés representa uma ‘inércia diagnóstica’ no qual existe uma resistência para que um diagnóstico seja continuadamente revisto quanto à sua pertinência”.

Felipe Mendonça de Santana é diretor de operações da Imuno Brasil e reumatologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).