Caso houvesse unanimidade entre os economistas – esses “pop stars” do momento -, seria fácil a conclusão acerca da necessidade – ou não – de novo salto no índice de impostos para o país não se afogar definitivamente no atoleiro econômico.
Não obstante, há quem rejeite peremptoriamente a proposta de aumento na arrecadação federal – em particular, com o retorno da CPMF –, tal como quem defende a medida como indigesto remédio – ruim, porém, indispensável à sobrevida do paciente.
A economia trabalha com números, basicamente, mas nem por isso é ciência exata – e nisto não há discórdia. O tal “humor do mercado”, expressado dentro e fora do país por aqueles que possuem condições de investimento (dinheiro!) pode não só variar conforme aspectos totalmente subjetivos quanto acabar sendo determinante para a convalescença do enfermo, ou ser o algoz que vai lhe bater os pregos no caixão.
O Brasil se encontra numa encruzilhada perigosa, na qual os responsáveis pelo trânsito político-econômico não se entendem e pouco se importam com os acidentes que dessa desordem podem advir, muito mais preocupados em não assumir as responsabilidades pelas “medidas impopulares”, tão fundamentais ao chamado equilíbrio fiscal quanto, futuramente, prejudiciais nas urnas.
Ainda tentando sustentar a mentira de que não errara na política econômica e de que, portanto, não haveria necessidade de enxugar investimentos e cortar benefícios – conforme o discurso eleitoral vitorioso -, o governo, cada vez mais moribundo, tenta culpar a crise internacional pelo mal interno.
Por sua vez, o Legislativo, praticamente em coro – inclusa a parcela supostamente da situação –, não tem coragem de apoiar as “medidas impopulares”, sejam elas vitais ou não – até porque, na dúvida, certo é que elas tiram votos.
Só que o país não para. A encruzilhada está à frente, com caminhos apontando para a volta da hiperinflação, com suas consequências catastróficas, como o aumento do desemprego, o endividamento generalizado, as falências, o caos…
Mas, pode ser pior: outro caminho levaria ao fim da democracia, com o retorno de um governo totalitário. E os sinais a essa direção não são poucos, inclusive, porque boa parte da população pensa, simplesmente, que, “antes”, não havia corrupção, somente bonança, bondade e bufunfa sem miséria.
É bom lembrar que, “antes”, o que mais não havia era liberdade para saber-se que também existia corrupção, injustiça e pobreza. Perguntem para quem era da época e sabia das coisas – aos que sobreviveram, claro.
Sim, a direção do país parece, nos últimos anos, ter extrapolado todos os limites da legislação, mas não tanto além do que sempre se viu no Brasil desde a sua largada há cinco séculos.
Sucede que alguns pilotos da política têm mais perícia que outros – mesmo todos, eventualmente, avançando sobre o devido traçado. Uns são mais Ayrtons Sennas; outros, Rubinhos Barrichellos…
Imaginem o Brasil como um grande e possante carro de Fórmula 1, pertencente a todos os brasileiros. Precisamos escolher quem vai pilotá-lo, e fazemos isso de quatro em quatro anos. Pois bem, deram a direção a um Rubinho, que até pode (ou não) ter vontade e boa intenção, mas não domina toda a equipe e tampouco ganha a corrida sozinho.
Agora, evocando o saudoso Hugo Carvana, “se segura, malandro!” O Brasil está saindo da pista e pode dar de cara no muro. Se, para evitar o desastre, for necessário dar mais dinheiro a essa atrapalhada escuderia, fazer o quê?
Esse veículo que conduz a todos, o Brasil, não é “deles”, é do povo, de todos nós. E ninguém joga fora algo de valor sem, antes, ao menos, tentar consertá-lo. E consertar custa dinheiro.
O país precisa parar de correr desgovernado, dar uma estacionada nos boxes, reabastecer-se de recursos e voltar à pista num caminho menos tortuoso e mais claro: reto em propósito e comprometimento com a realidade.
Esta realidade tem largada na consciência de que a escuderia Brasil já perdeu este campeonato, mas que, a despeito disso, precisa sobreviver para outra temporada.
Nela, a começar, na pior das hipóteses, daqui a três anos e pouco, os patrocinadores do poder – a população brasileira – poderiam demonstrar que aprenderam algo com o atual vexame, vindo a escolher melhores pilotos para representá-los.