Quando adolescente, inebriado pela fantasia de que transformaríamos o mundo, nada parecia impossível. A revolução seria social, de costumes, tudo. E havia charme naquelas pessoas falando de fontes alternativas para energia, visionárias para a época, coisa de filme de ficção científica.
“O tempo passa, o tempo voa”, e passei a ver um mundo mais cruel: um fado, o destino selado rumo ao desconhecido, e apenas sonhos delineados pelo avanço científico. (O computador já era realidade, mas nada acessível aos cidadãos, e assustava. Gilberto Gil gravou: “O cérebro eletrônico comanda / manda e desmanda / mas ele não anda”). Desde 1936 (com o alemão Konrad Zuse), após histórias milenares de engenhocas para calcular e processar dados simples, chegou-se a um experimento que pode ter sido o marco inicial. Durante a Segunda Guerra, a Universidade de Harvard desenvolveu com a IBM o que se pode chamar de primeiro computador, o Harvard Mark I, que ocupava o espaço de um apartamento de quatro dormitórios (120 m²), mas tinha uma memória que hoje caberia com folga em um simples chipzinho de celular.
As descobertas foram tomando curso acelerado, e passamos a assistir ao avanço da decifração do código genético, da física, da química, espaço, atmosfera e tudo o mais que se pode imaginar. A decifração do código genético teve seu prazo de pesquisa incrivelmente encurtado, pois o tempo previsto inicialmente era baseado nas informações que tínhamos, sem previsão de que as possibilidades da informática, como capacidade de processamento, velocidade e memória dos computadores, cresceriam tanto em progressão geométrica. A ciência avançou em todas as áreas, da genética à astrofísica, entre tantas outras. Pois agora chegamos ao ponto que é a ideia deste artigo: a energia no futuro que nos espera.
Há uma década, dentro de minhas limitações, acharia graça ao ler, na “Folha de São Paulo” (17/03/15, C6), matéria com a chamada de capa “Cientistas tentam minimizar efeito no clima dos gases de bois e vacas”. O subtítulo, na página interna, é “O arroto que esquenta o mundo”. Por causa de serem animais ruminantes, os flatos e flatulências (para usar palavras elegantes) dos animais produzem uma quantidade nada agradável de gás metano. Tubos na boca dos animais indicaram emissões de gases surpreendentes, a Unesp Jaboticabal também conduz estudos sobre o assunto com a Embrapa. Já a energia eólica, a produzida pelo vento, tem custo perto de zero, mas traz poluição sonora e somente serve para locais com vento constante e com poder de deslocar bem as pás dos aerogeradores. Existem ainda os biocombustíveis, a energia hidráulica, a termelétrica, a solar (não só as placas para aquecer água em residências, é geração de eletricidade mesmo). Há energia gerada por ondas marítimas e a nuclear, esta última bastante questionada pelo seu risco. Automóveis movidos a gás e etanol trouxeram certo alento, mas não alívio para o futuro: o combustível fóssil (gasolina, querosene, diesel, gás) tem prazo de validade na terra e as plantações de cana arruínam o solo com o tempo. Já avança com rapidez a tecnologia dos automóveis abastecidos com eletricidade e autocarregamento de bateria. Cá em minha ignorância, creio até em soluções para o etanol, óleo de mamona e outros de origem vegetal como o milenar rodízio gado/plantação nas terras, para que haja sobrevida maior para a lavoura.
Agora, impressionado com o salto do custo mensal do consumo de energia, com a ajuda da professora Isabela Dourado e do Pedro Dourado, de 19 e 18 anos, sentei-me novamente no banco de escola e pus-me a estudar. Aprendi que o consumo de energia de lâmpadas e quaisquer aparelhos é dado em kWh (quilowatt-hora), e que a maioria dos aparelhos, hoje, evita mostrar esses dados. Parti para outros cálculos que me ajudassem em minha residência e em meu trabalho. Os aparelhos têm impresso, sempre, quando não o número de kWh (medida de energia), ou W (unidade de potência, medida de energia por tempo), a voltagem de saída (V, unidade de voltagem) e a amperagem (A, de ampère, unidade internacional de medida de corrente). Multiplique a voltagem de saída (V) pela amperagem (A) e você terá a potência, ou seja, o número de watts do que você quer medir. Por exemplo, a fonte de um notebook possui na saída 12 V e 4,5 A, portanto o consumo é de 12 x 4,5 = 54 W, ou 0,054 kW, e se deixada ligada por 24 horas o resultado mensal será de R$ 19,68! (O custo quilowatts-h em São Paulo é de R$ 0,50616, basta multiplicar o total de watts pela quantidade de horas ligadas durante o mês e pelo valor acima e dividir por mil, ou seja, 54 W x 24h x 30 dias x 0,50616 / 1000). Um nobreak salva o seu computador em inesperada queda de energia por umas duas horas, mas consome de R$ 50 a 200 por mês; uma lâmpada de 100 W, oito horas /dia, joga na conta de luz mais R$ 12,15; um condicionador de ar de 10 mil BTU, idem, R$ 108, e um ventilador de mesa (grande) R$ 20, pelo mesmo horário.
Contra a disparada nos preços da energia, além de gritar e protestar, é hora de começarmos a revê-los em nossas casas e no trabalho – e pensar no que nos trará o futuro. Cada um deve cumprir a sua parte, e não apenas pela redução de despesas, ante a escalada dos gastos com combustíveis e conta de luz. Mas são urgentes, mesmo, novas soluções energéticas e ambientais para um futuro melhor.
(Recomendo o site da AES/Eletropaulo para seus próprios cálculos: https://www.aessul.com.br/areacliente/servicos/simula.asp [1]).
Links: https://www.aessul.com.br/areacliente/servicos/simula.asp