Recém-formado no curso de saxofone clássico do Conservatório de Tatuí, o músico Pablo Hugo Ribeiro de Lima conquistou uma vaga no curso de especialização do Conservatoire à Rayonnement Regional de Lyon, na França. Ele desenvolverá estudos sob orientação do renomado saxofonista Jean-Denis Michat.
Vivendo na Europa há mais de três meses, Lima visitou Tatuí no final do ano passado. Em passagem pelo Conservatório, o músico falou sobre a trajetória na música, a carreira e a respeito do processo de seleção para os estudos na França.
Ribeiro teve como motivação para o ingresso na especialização as pesquisas realizadas sobre o instrumento que toca. “Desde que comecei a estudar o saxofone, já pensava sobre o que eu faria quando terminasse o curso”, declarou.
Durante a investigação pessoal, ele chegou à conclusão de que a França seria um dos lugares mais propícios para a especialização. As pesquisas também levaram o músico até as obras do orientador. “Tornei-me um grande fã dele”, disse.
Uma vez definido que queria estudar na França e com Jean-Denis, o músico começou a aprender o francês. Em paralelo, guardou dinheiro para as despesas da viagem. “Assim que me formei no Conservatório de Tatuí, no meio deste ano (ano passado, quando concedeu a entrevista), fui fazer o concurso”, contou.
Lima disputou uma das cinco vagas com outros 12 candidatos. Destes, dez eram estrangeiros. Ele realizou prova competindo contra europeus e asiáticos. “É assustador, mesmo tendo um nível de excelência aqui no Conservatório. Você se depara com um nível escolar que não é a nossa realidade”, afirmou.
Passada uma semana, Lima recebeu a notícia da classificação em quinto lugar. O músico viajou preparado para ficar o período de duração do exame. Ele ingressou com visto de turista, o que garantiu a permanência por um prazo de até três meses. Depois da aprovação, ele retornou ao Brasil para o visto de estudante.
A rotina dos estudos consiste em aulas três dias por semana, das 8h às 18h, com um “nível de exigência máximo”. “Ele (Jean-Denis) fala que somos como esportistas e temos um cronograma de estudo para seis a oito horas por dia”, relatou.
Lima participa de aulas ministradas em grupo. De acordo com ele, os alunos são instigados a atender ao público mais rigoroso. “O professor fala que, se conseguirmos tocar para as plateias mais exigentes – que são os outros alunos e pianistas correpetidores – podemos tocar para qualquer outra pessoa”, contou.
Pela projeção feita pelo orientador, o ex-aluno do Conservatório disse que os estudantes precisam atender a um mínimo de um ano e máximo de quatro na especialização. O primeiro ano é suficiente para o básico, de dois a três para o intermediário.
O Conservatoire é vinculado à universidade, o que garante a quem concluir o curso diploma de graduação, intitulado de DEM – “Diplôme d’études musicales”. Lima pretende cumprir os quatro anos da grade para atuar como professor.
Nascido na cidade de Paraipaba, no interior do Ceará, Lima começou a se interessar por música por influência da irmã. Ela tocava em uma banda municipal e praticava o instrumento em casa. Na época, o músico não gostava de ouvir o saxofone. Mudou de ideia quando, por insistência da irmã, acompanhou o ensaio da banda. “Perguntei se tinha bateria e fui ver”, relatou.
O saxofone foi apresentado a Lima pelo maestro da banda. O jovem, na ocasião, queria o clarinete, mas aprendeu a tocar uma escala de Dó maior, após a primeira lição. “Fiquei meio ‘assim’, porque nem gostava (do instrumento). Mas fui uma semana, peguei gosto e virou paixão”, descreveu.
Em Paraipaba, o músico integrou a banda, junto com a irmã, e sob orientação de Madiel Francisco dos Santos por um período de dois anos. Depois, ingressou na Banda Juvenil Dona Luíza Távora, na capital do Ceará, Fortaleza.
Na época, a corporação de jazz tinha mais de 45 anos de existência. Ela era mantida por uma escola, o Centro Educacional da Juventude Padre João Piamarta. Ele ingressou na banda a convite do maestro Francisco dos Santos e permaneceu por mais dois anos, desenvolvendo o jazz como outro estilo.
Já o ingresso no Conservatório de Tatuí aconteceu por influência de dois professores da instituição tatuiana: Marcelo Bambam (trombone) e Joaquim Antonio das Dores (trompa). Eles haviam ido a Fortaleza para um trabalho solo com a banda e comentaram sobre o trabalho desenvolvido em Tatuí.
Motivado pelo desafio de se aprimorar nos estudos, Lima trocou a chance de estudar música em três universidades federais (ele havia passado nos vestibulares) para estudar em Tatuí. Ele veio para a cidade para participar do processo seletivo, tendo frequentado o curso com o professor Giancarlo Medeiros, por dois anos, e completado com Rafael Migliani, por mais dois anos e meio.
Em Tatuí, Lima trocou o jazz pelo clássico e pôde ampliar o desejo de aprimoramento. No Conservatório, ele destacou o apoio dado pelos professores para a concretização do sonho dele: ingressar no Conservatoire, de Lyon. “Eu disse: ‘Quero isso’. Eles disseram: ‘Vamos trabalhar para que você consiga’. Prova disso é a quantidade de alunos que têm êxito na carreira”, disse.
Filho de um vendedor de frios e de uma costureira, Lima disse que recebeu apoio de muitas pessoas, além dos pais. Ele destacou o apoio dos professores, da então prefeita da cidade dele (ela pagou a passagem dele para Tatuí), do maestro da banda municipal de Paraipaba e aos docentes do CDMCC.
Em especial, o músico citou os professores Giancarlo Medeiros, Rafael Migliani e Marcos Pedroso. “Essas pessoas viveram um pouco da minha história e me ajudaram a construir o caminho para realizar meu sonho”, concluiu.