Em aniversário de Tatuí, destaca-se a literatura

Em plena Semana Paulo Setúbal, a 81ª da história do município, diversas opções são apresentadas – e acompanhadas pela população – em meio à programação de aniversário de Tatuí, a qual chega aos 197 anos de fundação oficial.

Entre estas, desde as musicais – marca maior da Capital da Música – até as tradicionais cívicas – como o desfile na rua 11 de Agosto-, não há dúvida sobre o mais que positivo destaque crescente alcançado pelo fomento à literatura em Tatuí.

Tanto que exatamente a Semana Paulo Setúbal se configura em um evento à parte “dentro de outro evento”, este abrangendo a todas as demais iniciativas de celebração ao município.

Já há algum tempo, a semana literária extrapolou as fronteiras locais – tal o tatuiano escritor a inspirá-la e denominá-la –, ganhando todo o território nacional e posicionando seu concurso entre os mais conceituados – e concorridos – do gênero no país.

Seus números crescentes o comprovam: em 2023, o certame literário de abrangência nacional recebeu 1.904 inscrições, a partir de todos os 26 estados e do Distrito Federal, somando 517 cidades. Elas estiveram distribuídas entre: poesias, 43,9%; contos, 35,6%; crônicas, 20,5%; e concorrentes ao Prêmio Galardão, 3,8%.

Leva e promove, assim, o nome de Tatuí ao Brasil todo e, em simultâneo, mantém vivo o nome de Paulo Setúbal – senão o resgata em muitos lugares onde, pelo tempo, o “imortal” já pode não ser tão lembrado.

“Apenas” por esses dois aspectos, já seria justo reconhecer a Semana Paulo Setúbal como o evento mais importante de agosto em Tatuí. Mas, muito além, os certames literários por ela promovidos ainda estão “revelando talentos” de forma cada vez mais concreta.

Melhor ainda, as gratas surpresas afloram tanto na esfera nacional, pelo Prêmio Literário – Contos, Crônicas e Poesias, quanto local, pelo Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais, ambos já na 21ª edição.

Neste ano, durante a premiação das crianças e jovens tatuianos pelo concurso local, em evento no Teatro Procópio Ferreira, quinta-feira da semana passada, 3, ainda houve significativa e necessária homenagem à professora Leila Salum Menezes da Silva, falecida em 9 de setembro de 2022.

Dada a estimulante relevância crescente do evento literário, por sua vez, é oportuno também relembrar – até por respeito à família Ortiz de Camargo, de fato fundadora de O Progresso de Tatuí há exatos 101 anos – a iniciativa determinante do jornal para o nascimento da Semana Paulo Setúbal.

Reproduzimos brevemente a seguir, para tanto, registros neste periódico publicados há décadas, sublinhando como esteve à frente das mobilizações para iniciar homenagens ao escritor Paulo Setúbal, além de divulgar a ideia da celebração e incentivar os líderes locais a fazê-la.

Com esse propósito, o jornal deu amplo espaço às primeiras iniciativas, como esta, em texto datado de 24 de outubro de 1943: “Os nossos meios sociais e culturais movimentam-se neste instante a fim de concretizar uma ideia felicíssima e altamente simpática, que bem merece a unânime aprovação dos tatuianos, a de render homenagem a Paulo Setúbal – o escritor imortal que é um padrão de orgulho para o Brasil e particularmente para Tatuí, sua terra natal.”

Já na edição seguinte, de 7 de novembro, O Progresso de Tatuí divulgava, em nota de capa, a ação que duraria até os dias atuais: um concurso literário entre os estudantes, a fim de resgatar e preservar as obras de Setúbal.

“Por iniciativa do Grêmio Paulo Setúbal, acaba de ser instituído um concurso literário entre os alunos do Colégio e Escola Normal, versando os trabalhos sobre o tema ‘Paulo Setúbal e Tatuí de hoje’”, anunciava-se.

Os prêmios: ao primeiro colocado, coube 100 cruzeiros e ao segundo, 50 cruzeiros. O vencedor do primeiro prêmio foi Jorge Ferreira (integrante da própria equipe de O Progresso de Tatuí).

Na edição de 14 de novembro, a ideia é elogiada: “As primeiras reações à ideia de se fazer anualmente uma homenagem a Paulo Setúbal vão surgindo. O Grêmio ‘Paulo Setúbal’, por iniciativa de seu presidente Lazaro Geraldo Pacheco, organizou um concurso que será, sem dúvida, o marco inicial de uma competição que, nos anos vindouros, irá demonstrar a capacidade literária de nossos moços”.

Desde essa época, ficou determinado que as comemorações seriam anuais – sempre próximas a 11 de agosto (mas a primeira edição ocorreu em dezembro de 1943, no Clube Recreativo).

Logo nesse ano, conferencistas foram convidados para ministrar temas relacionados a Setúbal, sendo o embaixador José Carlos de Macedo Soares convidado a abrir o evento.

Uma comissão foi nomeada para organizar as atividades em diferentes áreas, todas voltadas a Setúbal. Ela esteve formada por Fernando Guedes de Morais (coordenador), Paulo Silvio Azevedo (teatro), Nacif Farah e Ritinha Holtz Stadler (música), Francisco Hoffmann, Ari Villa Nova, Adão Bertin e Alberto Stape (social), Carlos de Morais (propagando radiofônica), Lazaro Pacheco (auxílio dos alunos em pesquisas para o concurso) e Jorge Ferreira, de O Progresso (imprensa).

A partir do ano seguinte, páginas inteiras foram dedicadas à divulgação das atividades da já denominada Semana Paulo Setúbal, em agosto. A comissão de trabalhos – que ia de música a educação física – era formada por mais de 30 pessoas.

O Progresso de Tatuí, até a atualidade, divulga os trabalhos literários vencedores do certame, que se desdobrou entre o Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais, ainda dedicado somente aos estudantes do município, e o Prêmio Literário Paulo Setúbal – Contos, Crônicas e Poesias, de abrangência nacional.

Quanto às belas surpresas a florescer dos textos inscritos nos concursos, que um deles exemplifique o quão vale seguir investindo em literatura como ferramenta de estímulo à sensibilidade, à arte e, sobretudo, à Educação (com “E” maiúsculo).

Pela categoria literatura do ensino médio, Nathan Veiga e Souza Silva, do 1º B da PEI “Barão do Suruí”, dá aula de empatia, talento e “humanidade”, em “Slam: Mais Mudança e Menos Intolerância”.

Em versos, o jovem estapeia a intolerância extremista não com luvas de pelica, a despeito da beleza dos versos, mas com punho erguido em defesa dos que merecem ser ouvidos e respeitados simplesmente como seres humanos.

Praticamente, ele grita: “O preconceito é uma fenda que arde que nem fogo / que mata a alma aos poucos / Sem piedade ela corrói corpo e mente / Nos leva a chorar na fria madrugada se perguntando / Se é tão ruim assim ser diferente”…

Junto à sexta edição do Guia Turístico e Gastronômico Tatuí Cidade Ternura, é esse lindo material literário, no formato de um tabloide, que os leitores de O Progresso recebem nesta edição especial.

Parabéns, Tatuí! E viva a literatura, estandarte da terra de Paulo Setúbal e da esperança por dias em que as diferenças não sejam apenas respeitadas, mas celebradas – por isso mesmo, mais felizes e em paz!