Com relação aos serviços públicos no Brasil, é certo que muito se fala (mal, preferivelmente), como também não é menos correto que há razão para se falar (mal, compreensivelmente). Não obstante, há serviços francamente reconhecidos pela eficiência, pelo profissionalismo em amplo sentido.
Não são a maioria, mas servem, inclusive, tanto para evidenciar que, sim, o serviço público pode (e deve) ser tão competente quanto os melhores da iniciativa privada quanto para reforçar a necessidade de se discutir, justamente, quais as razões a fundamentar tantas diferenças na performance dos governos em suas mais variadas áreas de atuação.
Fica a impressão de que alguns serviços públicos já não têm mais “conserto”, viciados que estão com a prática secular da burocracia – garantidora da procrastinação, do comodismo -, além da desmotivação e da segurança inerente ao concurso público – algo tão precioso na atualidade frente aos demais trabalhadores, acuados diante do desemprego.
Porém, há outros serviços públicos, por coincidência (ou não) mais “recentes”, já plenamente muito bem avaliados, recebendo total confiança da população. Na verdade, mostram-se muito mais eficazes que os da iniciativa privada – e, principalmente, confiáveis.
Como apontado, não estão em fartura no dia a dia do cidadão, mas são reais. Um deles é o Poupatempo, sempre muito bem avaliado, um serviço exemplar, que soma eficiência com atendimento profissional e atencioso.
Outro é o Samu, que ganhou a confiança de norte a sul. Por mais que eventualmente não seja perfeito, é justa e reconhecidamente confiável. Só não é melhor ainda porque forçado a enfrentar dois desafios alheios à questão de saúde: trânsito e educação – ou melhor, falta dela.
Em Tatuí, cidade como tantas outras não projetada para responder às carências da mobilidade urbana atual – cujo volume de veículos acabou por se sobrepor, em muito, à capacidade de absorção dessa frota -, onde ficam as ambulâncias, os serviços de socorro? Eventualmente, paralisados e, possivelmente, sendo atrasados.
Já o outro desafio escapa à inexistência de um planejamento de futuro (o que não necessariamente implica em más intenções). Esse outro problema esbarra, talvez, no mal maior do Brasil: a falta de educação.
Nesta quarta-feira, O Progresso publicou reportagem demonstrando particularmente os obstáculos desse serviço tão fundamental, junto a números que demonstram a confiança da população no Samu.
Quase 60 atendimentos telefônicos por dia. Essa foi a média de ligações que a Central de Regulação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Itapetininga recebeu de Tatuí nos dois primeiros meses do ano.
O serviço, em operação na cidade desde 2010, recebeu 3.444 ligações no primeiro bimestre. Do total, foram despachadas viaturas em 1.220 ocasiões e repassadas informações via fone em 1.987 delas. Também houve casos de chamada por engano, trote e transferência de internação.
De acordo com a coordenadora da base local do Samu, Cássia Stela Rodrigues Alvares, muitos moradores ligam para ter informações sobre como proceder em casos sem urgência.
É grande o número de mães pedindo orientações sobre como agir em casos de febre de bebês, as quais atendidas por médicos que trabalham na Central de Regulação de Itapetininga.
“Os pedidos de informações geram chamados, porém, não há despachos de viaturas. Muitas vezes, as pessoas somente têm dúvidas e acabam procurando a gente para saber como proceder, daí não tem necessidade de colocar a ambulância na rua”, explicou Cássia.
A coordenadora garantiu que todas as ligações são acolhidas pela Central de Regulação. Um médico plantonista analisa os casos e despacha viaturas conforme a necessidade.
Os casos que necessitam de médico “in loco”, a USA (unidade de suporte avançado) é enviada. A ambulância conta com enfermeiro, médico e motorista. Em casos menos complicados, segue a USB (unidade de suporte básico), com técnico de enfermagem e motorista.
“Temos uma equipe com 42 pessoas, entre técnicos em enfermagem, enfermeiros, médicos, funcionários da parte administrativa e auxiliares de serviços gerais. O pessoal da Saúde trabalha em escala de 12 horas e os médicos, 24 horas”, informou.
A maior parte dos atendimentos realizados pelo Samu é relacionada à parte clínica, principalmente os problemas do trato respiratório e cardíacos. Esses tipos de ocorrência somaram 361 dos 570 despachos realizados em janeiro.
Conforme relatório disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde, o segundo maior motivo de despacho de viaturas envolve traumas, principalmente os relacionados a acidentes automobilísticos, com 90 ocorrências do tipo no primeiro mês do ano.
Em seguida, vêm os chamados para atendimentos sobre psiquiatria (56), obstetrícia (40), pediatria (22) e neonatal (1).
Conforme a coordenadora, os atendimentos relacionados a traumas são feitos, “a priori”, pelo Corpo de Bombeiros. O Samu é acionado em ocorrências mais graves e realiza o socorro em conjunto com a corporação militar.
“A demanda de Tatuí para a parte de traumas é muito grande, principalmente em casos de acidentes envolvendo motos. Então, as duas equipes trabalham em conjunto quando tem acidentes, ferimentos graves com arma branca, arma de fogo e colisões em rodovias, até mesmo por termos médicos e eles não”, apontou.
O tempo de resposta médio registrado na cidade no mês de janeiro foi de 19 minutos. Os bairros com maior demanda são o centro, o Jardim Rosa Garcia e o Jardim Santa Rita de Cássia.
A coordenadora garantiu que o número está dentro dos parâmetros do Ministério da Saúde e do convênio regional assinado pelo Samu local.
“Tendo em vista que Tatuí está com trânsito complicado, com diversos desvios de rota, o número é baixo. Sempre quando tem alguma alteração, somos informados pelo setor de trânsito”, contou.
No entanto, o Samu ainda enfrenta os transtornos causados pelos trotes, principalmente de crianças e adolescentes.
Em janeiro, a quantidade se limitou a 12, número repetido no mês seguinte. Em termos percentuais, as brincadeiras beiraram 0,7% das ligações.
“O problema dos trotes é que eles acabam usando a linha e atrapalham o atendimento de quem realmente precisa, mas os médicos da Central de Regulação sabem distinguir bem esse tipo de brincadeira”, informou.
Nos últimos meses, apenas uma ocorrência de trote gerou despacho de ambulância. Em dezembro, a equipe foi deslocada para um suposto atendimento de ferimento com arma branca. No local, nas imediações do Cemitério Cristo Rei, descobriu-se ser alarme falso.
“A PM também foi chamada. Ao mesmo tempo, ocorreu um assalto em outra região da cidade e achamos que foi um trote planejado com a intenção de desviar a atenção das equipes”, observou.
Até isso acontece… Mas, aí, já se trata de caso raro. Importa é que, apesar dos literais obstáculos no trânsito e da falta de educação, o Samu segue célere entre os serviços públicos com as mais altas performances.