
Da reportagem
Na tarde de quarta-feira, 11, na Câmara Municipal, ocorreu a primeira audiência pública sobre o teste do pezinho em Tatuí, realizada pela Comissão Permanente de Direitos da Mulher do Legislativo.
O tema abordado foi a relevância do teste para a saúde das crianças, com palestras ministradas por Edgar Borges de Oliveira Júnior, biólogo e imunogeneticista; Carla Cristina Silva, enfermeira; Sônia Marchezi Hadachi, farmacêutica bioquímica; e Clarissa Bueno, neurologista infantil.
Estiveram presentes as parlamentares da comissão organizadora, Rosana Nochele Pontes Pereira (PSD), Elaine Leite de Camargo Miranda (PL) e Micheli Cristina Tosta Gibin Vaz (PSD), além de outros vereadores, como Vade Manoel Ferreira (Republicanos), Cíntia Yamamoto Soares (PP), Maurício Couto (PP), Renan Cortez (MDB) e Paulo Sérgio de Almeida Martins (PSD).
Também compareceram o vice-prefeito Antônio Marcos de Abreu (Republicanos); os secretários da Saúde, Fabiana de Cássia Saraiva Grechi; do Desenvolvimento Econômico, Empreendedorismo, Trabalho e Inovação, Luís Donizetti Vaz Junior; e dos Direitos Humanos, Família e Cidadania, Amanda Simões de Abreu; além da coordenadora do procedimento no município, Maria do Carmo Campos.
O vice-prefeito contou que, em 2008, quando era interventor da Santa Casa, Maria do Carmo o procurou relatando que os bebês nascidos na unidade de saúde precisavam, à época, realizar o teste do pezinho nas unidades básicas de saúde, mas nem todas as famílias procuravam pelo exame.
“Algumas mães acabavam perdendo o exame do pezinho. Ela perguntou se não seria possível realizar o procedimento na maternidade. Prontamente, verifiquei a situação e vi que ela tinha razão. Então, implantamos o teste do pezinho na maternidade”, afirmou.
De acordo com Maria do Carmo, o SUS, por meio do governo federal, cobre atualmente seis patologias no exame: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doenças falciformes, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase.
“Quando há alguma alteração percebida pelo pediatra no nascimento, podemos liberar uma ficha clínica para que o instituto João Clemente examine outras patologias”, informou a coordenadora.
Ainda segundo Maria do Carmo, a intenção é a prevenção. Caso o exame aponte alguma alteração, o tratamento é realizado pelo SUS no instituto. “O tratamento é feito até a cura ou, nos casos sem cura, até a criança atingir a fase adulta”, complementou.
Durante a palestra, Carla explicou que o teste do pezinho faz parte da triagem neonatal, que também inclui o teste da orelhinha, o teste do reflexo vermelho (ocular) e o de cardiopatia congênita, com o objetivo de identificar precocemente doenças metabólicas, genéticas, enzimáticas e endocrinológicas.
Segundo a enfermeira, é necessário que 100% dos recém-nascidos no Brasil realizem o teste, porém, até 2020, a cobertura era de apenas 82%. “O que ‘puxa esse número para cima’ são alguns estados do Sul e Sudeste. Há estados do Norte que nem sequer informam o número de nascimentos nos últimos cinco anos”, complementou.
Posteriormente, Sônia explicou que o exame precisa ser pensado como uma “linha de cuidado”, desde a coleta até o encaminhamento do paciente ao centro de referência, sem filas de espera, caso haja alguma alteração. “O tempo é crucial”, enfatizou.
“O principal objetivo da triagem neonatal é o diagnóstico precoce, em tempo oportuno, para evitar a morte da criança e diminuir a mortalidade infantil”, concluiu a farmacêutica.
Durante a palestra de Oliveira Júnior, ele comentou que a triagem neonatal, na qual se insere o teste do pezinho, “é só o começo, mas um começo importantíssimo”.
“Precisamos seguir esse conhecimento e fazer com que a jornada do paciente seja a melhor possível, levando-o à cura ou ao melhor tratamento, para que as famílias tenham mais qualidade de vida”, relatou.
Ele declarou que o grande objetivo do teste é identificar recém-nascidos assintomáticos que, aparentemente, são saudáveis, mas têm potencial para desenvolver doenças graves ou fatais.
O imunogeneticista também ressaltou que as doenças identificadas pelo teste podem causar infecções recorrentes graves, inflamação severa, autoimunidade, alergias e suscetibilidade ao câncer.
“Isso configura uma emergência pediátrica, pois detectar um erro de imunidade em uma criança é, com certeza, um caso de urgência”, complementou.
Oliveira Júnior ainda declarou: “Nada substitui a triagem neonatal convencional, que é o teste do pezinho. Há uma crença de que a genética salvará todos e revelará todas as doenças, mas não é bem assim”.
“Em um estudo que realizamos apenas com crianças, vimos que 38% não apresentavam uma genética clara. Há muitas variáveis na genética que vão além do DNA e fogem do padrão convencional”, finalizou.
Teste ampliado
Em sessão extraordinária na Câmara Municipal, segunda-feira, 9, foi aprovado o projeto de lei que dispõe sobre a ampliação do teste do pezinho na rede pública do município. Ele é de autoria dos vereadores Leandro Camargo Barros (MDB), Micheli e Martins.
Conforme a proposta, a ampliação do exame deverá rastrear e diagnosticar as seguintes doenças: fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias; hipotireoidismo congênito; doença falciforme e outras hemoglobinopatias; fibrose cística; hiperplasia adrenal congênita; deficiência de biotinidase; toxoplasmose congênita; galactosemias; aminoacidopatias; distúrbios do ciclo da ureia; distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos; doenças lisossômicas; imunodeficiências primárias; e atrofia muscular espinhal.
A iniciativa prevê que a lista de doenças rastreadas seja revisada periodicamente, com base em evidências científicas, considerando os benefícios do diagnóstico e do tratamento precoce, priorizando as doenças mais prevalentes no país.
Ainda segundo o projeto de lei, durante os atendimentos de pré-natal e no puerpério imediato, os profissionais de saúde deverão informar a gestante e seus acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho ampliado e as eventuais diferenças entre os exames oferecidos pelo SUS e pela rede privada.
Na justificativa, os autores explicam que o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) atualmente oferece triagem para um número limitado de doenças. “Com os avanços da ciência e da medicina, sabe-se que o diagnóstico precoce de doenças genéticas, metabólicas e congênitas permite intervenções rápidas e eficazes, garantindo melhor qualidade de vida às crianças afetadas. A inclusão de 14 novas patologias no teste realizado pela rede municipal representa um avanço significativo para a saúde pública local”.
“A implementação do teste do pezinho ampliado no município contribuirá para a redução de custos futuros ao sistema público de saúde, evitando tratamentos complexos e de alto custo que poderiam ser minimizados ou prevenidos com um diagnóstico precoce. Trata-se de um investimento estratégico, preventivo é essencial para garantir mais saúde e qualidade de vida às crianças tatuianas”, destacam os autores.
O projeto foi aprovado em duas votações e segue para sanção do prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior.