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Filme com atores e cenário local aguarda finalização
O passado em conflito com o futuro. Este é o pano de fundo do drama “Na Frieza do Seu Olhar”. Produzido inteiramente em Tatuí, o longa-metragem de 1h22 coloca a cidade de volta ao circuito da produção independente.
Concebido originalmente como curta-metragem, o filme representa o primeiro grande projeto da Ellun Filmes, divisão da Ellun Produções, e é fruto de ideia do diretor Fabian Santos. Antes do drama, ele havia produzido oito curtas-metragens, sendo o último quando fazia parte do “cast” da produtora.
Intitulado “Vazio”, o vídeo teve exibição em Tatuí e recebeu prêmio de “melhor curta regional”, no Cinefest de Votorantim, em 2011.
A premiação aconteceu por escolha do público e pode ser considerada indicador do potencial do drama rodado em Tatuí no ano passado, com elenco e recursos enxutos.
Para concretizar o projeto inicial (de produção de um curta), o diretor apresentou a proposta ao proprietário da produtora. Argumentou que, apesar de o vídeo não gerar retorno financeiro, poderia ser bom para o marketing da empresa. “A ideia era atrair mais clientes para o negócio”, comentou.
A partir daí, Santos poderia lançar-se “mais profundamente” no mundo do cinema e pleitear incentivos. Uma das dificuldades para as produções está nos custos.
Santos disse que as leis de incentivos são reduzidas e atendem a um determinado nicho. “Existe meio que uma panelinha, mas, mesmo assim, os cineastas têm muitas dificuldades para a aprovação dos projetos”.
Para driblar as dificuldades de captação de verba, o diretor propôs que a produtora desse sequência ao projeto com os próprios recursos. “Foi assim que fizemos com o ‘Vazio’ e ‘Na Frieza do Seu Olhar’, que era para ser um curta”.
O primeiro corte das filmagens, no entanto, rendeu imagens com tempo que extrapolava a marca dos curtas-metragens. Na primeira montagem, o trabalho tinha 32 minutos, dois a mais que o aceito em festivais. “A exibição correta é até 30 minutos para curta-metragem”, explicou.
Passado esse tempo, os vídeos são classificados como média-metragem. Os com 60 minutos ou mais são longa-metragem.
Entretanto, o diretor explicou que os festivais exibidores não consideram exatamente essa marcação. Por exemplo, não aceitam inscrição de longa de uma hora de duração. O padrão, então, passa a ser de 90 minutos.
Os festivais classificam curtas para exibição de, no máximo, 15 minutos. Como “Na Frieza do Seu Olhar” havia extrapolado esse tempo, Santos voltou a conversar com o dono da produtora e decidiu expandir o trabalho em vídeo.
Enfrentou, então, um segundo desafio: a alteração do roteiro original. O texto precisou ser adaptado, de modo que a “essência” do trabalho e o material já filmado não se perdessem. “Na verdade, a edição deu 32 minutos. Se eu esticasse tudo, ficaria com 40. Hoje, o filme está com 1h22min”.
O terceiro obstáculo a ser vencido era convencer a equipe a continuar. Santos voltou a conversar com os integrantes e deixou livre a escolha de prosseguirem ou não no projeto.
Isso porque não havia orçamento, e o diretor tinha acordado de a produtora arcar apenas com os custos (de passagem dos envolvidos e de gasolina para o deslocamento até os locais de filmagem).
Parte da equipe, no entanto, atuou de modo voluntário. Os funcionários da produtora receberam pelos dias trabalhados. “Quando estávamos em horário de trabalho, recebemos, mas a gente trabalhou vários finais de semana”.
Santos afirmou que a equipe manteve-se no projeto por estar envolvida e empolgada com a história. Ao todo, sete pessoas atuaram na produção do vídeo. O elenco contou com atores convidados, que integram o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”. “Fiz amizades lá, e aproveitamos que já tínhamos feito trabalhos anteriores”, falou o diretor.
A proposta de atuação “puramente pela arte” e sem retorno financeiro aconteceu no início do ano. Conforme Santos, grande parte dos atores aceitou a proposta, uma vez que um longa-metragem “conta pontos” no portfólio. “Só dois não quiseram participar, mas o resto entrou de cabeça”.
“Na Frieza do Seu Olhar” conta a história de um homem chamado Anderson. O personagem central é, basicamente, ambicioso. Por ela, Anderson toma “várias decisões erradas”, que acabam levando-o ao mundo do crime.
“Esse mundo proporciona o melhor para ele. Então, o passado volta e começa a persegui-lo. Daí, ele começa a se questionar muito”, contou Santos.
Filmadas com equipamento de baixo custo, mas de alta definição, as cenas mostram diversos pontos do município. Diferentemente do primeiro vídeo, um curta de mesmo nome, filmado pelo diretor há 12 anos no Rio de Janeiro.
Santos morou no interior do Estado e deu vida ao enredo pela primeira vez com colaboração de Aldo Balbi. “Eu passei um tempo no Rio. Quando terminei o vídeo, fiquei com a sensação de que queria refazê-lo, porque gostei da história”.
Para o “remake”, o diretor reescreveu o enredo sozinho. Contou com ajuda de Camila Cattai (produtora associada e que também faz parte do elenco) e Rivaldo Nogueira. Santos também assina a direção, a produção, a edição e a fotografia.
“Ele é um filme pequeno. Então, na verdade, tudo o que eu sabia fazer, eu fiz. Sonho um dia em só lidar com os atores e a equipe, mas eu vejo muita coisa”, declarou. Talvez por isso, muitas pessoas tenham visto ele e a equipe correndo pela cidade.
“O que eu não posso fazer, estou passando para a equipe de finalização”, afirmou o diretor. A mixagem do áudio está a cargo de Leandro Orvi e os efeitos especiais são produzidos por Ulisses Paiva, no Recife. “Nós nos comunicamos pela internet (via Skype) e acertamos as correções”, revelou Santos.
O longa-metragem começou a ser rodado em Tatuí em 14 de abril do ano passado. As filmagens originais – do então curta – duraram seis dias. “Depois de um tempo, eu editei. Lá por setembro, decidi expandir o trabalho”. Por conta da decisão de transformar o curta em longa, Santos voltou ao “set” de filmagem. As gravações terminaram em novembro.
Tatuí é cenário de toda a filmagem, por opção e falta dela (recursos financeiros que permitissem gravações fora da cidade). Santos explicou que o município sempre é utilizado como pano de fundo para os trabalhos da produtora em função dos custos.
Também observou que optou por filmar tudo na cidade como “uma forma de homenagear Tatuí, onde cresceu, estudou e fez amigos”.
Santos é natural de Manaus, morou em Santo André e veio a Tatuí por conta do trabalho dos pais. Eles atuam na Casa Publicadora Brasileira, para a qual o diretor presta serviços por meio da produtora.
Da cidade, foi para o Rio de Janeiro e voltou a Tatuí em 2010. “Foi muito importante rodar o longa em Tatuí. O fato de eu querer rodar o filme aqui é uma homenagem”, reiterou.
“Na Frieza do Seu Olhar” tem cenas na vila Dr. Laurindo, bairro Andrea Ville e centro, rodadas com permissão da Polícia Civil e a partir de estudo de pré-produção.
A equipe da produtora visitou as locações para verificar se havia ou não restrições para as gravações. As filmagens foram acompanhadas por policiais, para preservar os atores e “acalmar” os moradores.
“Numa cena de tiro, uma pessoa que passava de carro começou a cantar pneu e dar marcha à ré, com medo do que estava acontecendo. Um dos policiais que nos acompanhava precisou acalmar a pessoa, explicando que se tratava de um filme”, comentou Santos.
Os civis também contribuíram para o “laboratório” dos atores, que aprenderam a empunhar arma de “modo real”.
O filme está em processo de finalização e deve ser lançado em “premièr” à imprensa dentro de um mês. Em Tatuí, “Na Frieza do Seu Olhar” deverá ter exibição ao público em duas sessões. As datas e o local ainda não estão definidos.
Há a expectativa de que seja também exibido em salas esporádicas no Brasil. “Estamos negociando ainda. Até o momento, é só especulação”, falou Santos. O diretor disse que está ansioso para ver a reação do “grande público”.
Até o momento, um “preview” do filme havia sido disponibilizado no site YouTube. O “link” Preview de “Na Frieza do seu Olhar” soma 1.155 visualizações.