Em encontro com o governador João Doria, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), na quinta-feira, 21, a direção da Ford Motor Company Brasil garantiu que o campo de prova de Tatuí não será afetado pelo fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
Durante a reunião, que aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, o governo do estado se comprometeu a ajudar na buscar de um comprador para o polo e, em contrapartida, a montadora aceitou manter os 1.200 funcionários na sede administrativa do ABC Paulista e não fazer mudanças ou cortes de empregos nas unidades de Taubaté, Tatuí e Barueri.
O acordo foi feito entre Doria e o CEO da Ford América do Sul, Lyle Watters. Também participaram do encontro o vice-presidente de assuntos governamentais, comunicação e estratégia da montadora, Rogelio Golfarb, o vice-governador Rodrigo Garcia, o secretário estadual da Fazenda e Planejamento, Henrique Meirelles, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando.
Segundo nota divulgada à imprensa, com o acordo, a Ford se propõe a manter 2.880 empregos diretos em São Paulo. Além dos 1.200 funcionários que continuarão na sede administrativa em São Bernardo, a montadora emprega 1.260 pessoas na fábrica de Taubaté, 250 no campo de testes de Tatuí e 170 no centro de distribuição de Barueri.
Os reflexos da decisão do fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo ainda devem ser avaliados a partir do encerramento oficial da produção no ABC. Contudo, autoridades municipais salientam que as atividades do campo de provas de Tatuí devem continuar em operação.
O secretário municipal da Fazenda e Tributos, Walter dos Santos Júnior, informou que não existe nenhum comentário de que o fechamento da unidade do ABC possa atingir as atividades do campo de provas. “Nem se cogita esta possibilidade, não existe esta preocupação”, garantiu.
Ele ainda destacou que, pelo contrário, as atividades da empresa no município podem ser ampliadas. A afirmação é baseada em um pedido da montadora, apresentado à Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Pública, para a inclusão da Ford no Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Econômico e Social, o Pró-Tatuí.
As reivindicações foram apresentadas pela montadora em novembro do ano passado, em reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, que está analisando a possibilidade de beneficiar a empresa com o programa.
Para Santos, o pedido de inclusão ao Pró-Tatuí reforça a expectativa de que a montadora amplie atividades no município, já que uma das regras para conquistar os benefícios do programa é, justamente, a expansão dos negócios.
A lei destinada a estimular o crescimento da atividade empresarial no município – em vigência desde maio de 2007 – visa conceder incentivos fiscais às empresas que venham a se instalar no município ou que queiram ampliar a unidade existente. O benefício máximo é de 100% de isenção de IPTU pelo período de dez anos.
Para manter as isenções, é necessário que a empresa cumpra alguns requisitos, como a contratação de no mínimo 50% da mão de obra e licenciamento da frota de veículos da empresa no município.
Conforme dados divulgados pela Secretaria da Fazenda e Tributos, o campo de prova da Ford de Tatuí contribui com valor aproximado de R$ 2,8 milhões por ano na arrecadação da cidade, o que representa quase 1% (0,08%) do total, já que, em 2018, os tributos somaram R$ 308 milhões na cidade.
O pedido entrou para análise do conselho. Depois de completar a primeira fase, a Secretaria de Planejamento e Gestão Pública analisa os documentos em conjunto com a Secretaria de Finanças e Fazenda e, se a empresa conseguir se enquadrar em todos os requisitos mínimos, estará apta a fazer parte do programa.
A aprovação depende do Conselho de Desenvolvimento Econômico. Se o pedido de isenção for aceito pelos conselheiros, a documentação volta para a Secretaria de Planejamento e Gestão Pública e, de lá, é dada entrada no processo administrativo.
Segundo o programa, as exigências fazem com que a empresa possa gerar maior valor agregado, mais ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e outras rendas que voltam para o município.
“Acredito que, sabendo das regras do programa, eles não fariam um pedido se, realmente, não tivessem interesse em investir no município. Até porque as regras são claras: caso eles consigam alguma isenção, terão que cumprir as exigências, ou podem perder o beneficio e ainda ter que restituir o valor antes isento”, argumentou.
O mediador de negociações coletivas da Agência Regional do Ministério do Trabalho, Antônio Carlos de Moraes, também as informações do secretário municipal, garantindo que, até então, a Ford não anunciou nenhum tipo de paralisação das atividades.
Ele destacou que um possível fechamento da unidade traria “grandes prejuízos” para a cidade, mas que “não há motivos para preocupações antecipadas, já que a empresa garante que irá manter os funcionários”.
“O pessoal que trabalha aqui na cidade, geralmente, almoça, circula e acaba gastando no município. Então, se o campo de prova fechasse, essas pessoas deixariam de circular aqui e, de diversas formas, a economia seria afetada. Mas, até então, não temos notícias de que algo do tipo aconteça com a empresa”, afirmou.
Para Moraes, a queda de 250 postos de trabalho direto, “realmente, faria falta” no saldo de empregos, que anda a “passos curtos”.
“Para uma cidade que está lutando para aumentar o saldo empregos e que vem conquistando isso pouco a pouco, vir a perder uma quantidade desta de vagas seria terrível, traria diversos impactos para o município. Mas, por enquanto, seguimos firmes”, comentou Moraes.
A O Progresso, a assessoria de imprensa da montadora reforçou que o anúncio é específico para a fábrica de São Bernardo do Campo e que a decisão “não afeta nenhuma outra planta da Ford”.
A empresa informou, ainda, que a decisão é “um importante marco no retorno à lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul” e que a medida foi tomada após vários meses de busca por alternativas, que incluíam parcerias e até a venda da operação na região do ABC.
O volume excessivo de investimentos para atender às necessidades do mercado e os crescentes custos com itens regulatórios teriam tornado inviável manter um “negócio lucrativo e sustentável”, o que teria levado ao fechamento da unidade em São Bernardo do Campo.
Ford em Tatuí
O campo de provas da Ford em Tatuí é considerado um dos mais modernos do mundo e funciona desde 1978 com instalações completas para o desenvolvimento e teste de automóveis, utilitários e caminhões, em uma área de 4,66 milhões de metros quadrados.
Conforme divulgado pela multinacional, as instalações situadas na rodovia Antônio Romano Schincariol contam com áreas administrativas, laboratórios, oficinas para a construção e montagem de protótipos, testes especiais e 50 quilômetros de pistas, que englobam áreas específicas para o desenvolvimento de carros e caminhões, e também uma engenharia experimental de motores.
O campo é equipado para a realização de testes de desempenho e consumo de combustível, freios, barreira de impacto (“crash-test”), penetração de água e poeira, câmara fria, cabines de névoa salina, arrefecimento, nível sonoro interno e externo, emissões, evaporação, durabilidade, construção de protótipos, dinâmica veicular, calibração e desenvolvimento de motores, entre outros.
As pistas de testes simulam as diferentes condições de ruas e estradas da América do Sul, rampas com diferentes ângulos de inclinação e estradas de terra dos mais diferentes tipos.
Além disso, o Laboratório de Emissões é o único da Ford na América do Sul certificado conforme a norma internacional de qualidade ISO 17025, que permite certificar veículos exportados sem que os órgãos governamentais estrangeiros precisem acompanhar os testes.
Comentários estão fechados.