Doenças erradicadas

Erradicar no seu termo global e amplo significa extirpar, desarraigar, excluir, ato ou ação de eliminar. Tratando-se então das doenças, veremos que, através da busca da erradicação, poderemos chegar à eliminação total da doença, inclusive de suas causas.

Como maior exemplo, tem a varíola, erradicada mundialmente por volta do ano de 1970. Regionalmente, na América a poliomielite foi eliminada no ano de 1994, e o sarampo, eliminado no Brasil no ano 2000, mas ainda mata muitas crianças em outras partes do mundo, principalmente na África.

Podemos observar, ainda, que o conceito de erradicação surgiu primeiramente entre os veterinários, que tencionavam erradicar doenças entre os animais, como, por exemplo, a febre do gado no Texas. Por volta de 1945, este conceito se difundiu enfaticamente entre os médicos.

Veremos que, antes desse período, até 1934, apenas três drogas se mostravam eficazes contra doenças infecciosas: tryparsamine (doença do sono), quinino (malária) e arsphenamine (sífilis). Na época, tínhamos vacinas apenas contra a difteria e a varíola.

Em meados dos anos 40 e 50, o desenvolvimento de vacinas, como a 17D contra a febre amarela, e drogas como as penicilinas, sulfas e revolucionários antibióticos, e o inseticida DDT, contribuíram para um impacto positivo e otimista entre os cientistas, que vislumbraram métodos de eliminação de vetores e consequente derrota de algumas doenças.

No entanto, houve controvérsias contra os programas de erradicação, questionando viabilidade administrativa e econômica. Diante deste panorama, verificamos que a tarefa não é fácil, pois, em muitos casos, a doença é transmitida por animais, sendo inviável e, às vezes, quase impossível a imunização.

Considera-se, ainda, o fato da necessidade de envolver-se um conjunto de sistemas mundiais, onde, de certa forma, surgem as dificuldades, porque cada país tem a sua conduta, e as regras empregadas teriam de ser internacionais, pois a doença pode ter sido eliminada em uma determinada região, porém por algum veículo, ela é “importada” novamente, ocorrendo a contaminação.

Segundo análise de especialistas, as próximas doenças a serem erradicadas mundialmente serão a poliomielite, o sarampo e a rubéola. Porém, trata-se de um processo extremamente difícil e complicado, e nem sempre possível, pois depende de diversos fatores, entre eles, se determinada doença pode ou não ser erradicada, devendo-se este fato basicamente à vontade política e à ciência.

Em relação à ciência, alguns pontos principais podem ser declarados como importantes, como: buscar disponibilidade de intervenções de baixo custo, seguras, eficientes e duradouras; verificar quais os veículos de transmissão da doença a ser erradicada; pesquisar se tal doença pode ser transmitida por animais e estudar-se os vetores; tentar, primeiro, eliminar a doença em determinada área geográfica antes de eliminá-la num âmbito maior; pesquisar exaustivamente, pelo fato de que algumas doenças permanecem inativas por muitos anos no organismo infectado, sem apresentar qualquer sinal ou sintoma.

Aqui, é o caso do vírus da varicela, que pode ficar no organismo por décadas e, depois, provocar a doença Zoster (“cobreiro”).  Recentemente, foi lançada a vacina contra o Zoster – a Zostavax, indicada em adultos acima de 45 anos (dose única). Porém, só disponível nas clínicas particulares.

Ainda recentemente, foi lançada a vacina contra os quatro tipos de dengue – Dengvaxia (três doses a intervalo de seis meses, podendo ser feita a partir dos nove anos de idade), também disponível, no momento, somente em clínicas particulares.

No que tange ao poder público, podemos verificar que, para erradicar uma doença, as atitudes devem ser amplamente estudadas de forma global, analisando-se todas as intervenções tomadas, quais as ações e as atuações do Programa Saúde da Família; determinar-se quais as ações estratégicas e campanhas específicas – principalmente, junto à população -, quais equipes serão envolvidas, delimitações geográfica e demográfica; e, enfim, examinar as ações necessárias para chegar-se à erradicação total, verdadeiramente, verificando-se os custos e recursos financeiros de todo o processo.

Entretanto, há de se levar em consideração que a erradicação de uma doença ocasiona também, entre muitos outros pontos positivos, a estruturação de sistemas de imunização, vacinação e vigilância sanitária, e, a longo prazo, redução dos gastos em saúde pública, pois, quando uma doença é erradicada e não apenas controlada, eliminam-se os custos de tratamento para esta patologia, diminuindo-se, consequentemente,  também o índice de internação.

Assim, quanto maior o número de doenças em processos de erradicação, menor o número de atendimentos no sistema de saúde, e ainda, como resultado, teremos populações mais saudáveis, mais livres, com qualidade de vida e sem correr o risco de determinadas doenças infectarem nações entre si, consagrando-se, cada vez mais, a frase: “prevenir é melhor que remediar!”.

Fonte: www.infoescola.com/saude.

* Médico especialista em pediatria pela SBP e AMB e diretor do Cevac (Centro de Vacinação de Tatuí). Cremesp – 34708