Os doces ABC, sobremesa tradicional em Tatuí, foram declarados como patrimônio cultural e imaterial da gastronomia tatuiana, por meio de lei municipal. De número 4.972, ela foi aprovada por unanimidade pelos vereadores e sancionada pelo prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, no dia 5.
A exemplo do que ocorre em outros municípios – caso de Itapetininga, com o tradicional bolinho de frango, e de Bauru, com o sanduíche que leva o nome da cidade -, Tatuí passa a contar com um patrimônio na área gastronômica.
A elaboração e sanção da lei ocorreu a partir de mobilização popular liderada pelo Comtur (Conselho Municipal de Turismo), que discutiu o tema pela primeira vez em agosto deste ano.
“A possível criação de uma lei municipal foi inserida na pauta da discussão do conselho e aprovada favoravelmente pelos conselheiros. Depois, a solicitação foi enviada ao prefeito”, afirma Wagner Graziano, presidente do órgão.
A ideia de transformar os doces ABC em patrimônio cultural e imaterial é justificada, sobretudo, pela tradição. Os doces, cujos nomes levam as iniciais dos produtos utilizados a sua produção – abóbora, batata-doce e cidra -, são reconhecidos no município há mais de 60 anos. Tanto que a cidade já tem como um de seus codinomes a descrição “Terra dos Doces Caseiros”.
A produção remonta a 1952, quando a doceira Belarmina de Campos Oliveira começou a preparar o ABC na própria casa. A partir daquele período, outras doceiras também se dedicaram à produção artesanal dos doces.
Entre os pioneiros no ramo, estava a família de Antonio Rocha Lima Neto, cujo pai fundou, em 1967, a doceria Pingo Doce.
“Meu pai mudou de ramo comercial muitas vezes, mas se estabeleceu no de doce. A doceria começou com os doces ABC, e, como a doceira Belarmina fazia de forma mais caseira e a procura era muito, ele investiu neste ramo”, conta o doceiro, conhecido como Toninho.
“Fazíamos apenas ABC e vendíamos na estrada, em restaurantes, seguíamos para São Paulo fazendo entregas com Kombis.”
A partir de 1981, Lima Neto se estabeleceu na venda a varejo e, quatro anos depois, inaugurou um novo ponto comercial à margem da rodovia Antonio Romano Schincariol, a SP-127.
Prestes a completar 50 anos de funcionamento, a doceria oferece, atualmente, mais de cem tipos de doces, entre eles, cocada, bom-bocado, queijadinha e chocolates, empregando dez pessoas. Mensalmente, são produzidas três toneladas de doces – 800 quilos somente de ABC.
Para o doceiro, a lei recém-sancionada é um reconhecimento às pessoas que iniciaram a tradição na cidade. “Acredito que, com a lei, o doce será oficializado na cidade. Aqui, vendemos para pessoas de todo o Brasil e exportamos para Europa, Japão e Estados Unidos”, afirma ele.
Conforme Graziano, “Tatuí é referência estadual e nacional no ramo de doces, contando com a Festa do Doce, que tem como objetivo difundir ainda mais este título e que integra o calendário turístico do Estado de São Paulo. A lei municipal resguarda e preserva este patrimônio.”
Já o diretor municipal de cultura e turismo, Jorge Rizek, celebrou a lei. “Só tenho que aplaudir o Comtur, o prefeito Manu e a Câmara de Vereadores pela lei. Os doces são referência da identidade, ação e memória da sociedade tatuiana. É mais uma prova de que Tatuí é realmente a Terra dos Doces Caseiros”, disse.
Os doces ABC são produzidos com produtos da região. Para produzi-los, são necessários dois dias. Depois de produzida a massa, os doces são pingados manualmente, um a um. A finalização é a secagem, em estufa, a cerca de 55º graus, em duas etapas. Mas, o diferencial do doce, conforme Lima Neto, é o recheio, que deve ser, essencialmente, cremoso.
Lima Neto defende a originalidade dos doces ABC em Tatuí. “Há outras cidades que fazem, mas costuma definir da seguinte forma: se você comprar um saco de cinco quilos de arroz e dar um quilo para cada cozinheira preparar, o sabor jamais será igual. O nosso é especial”, destaca ele.