De acordo com dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública), órgão do governo do Estado de São Paulo, dobrou o número de homicídios dolosos (com intenção de matar) em Tatuí neste ano, em comparação ao mesmo período de 2013.
Foram quatro mortes dessa natureza no ano passado, ante oito registrados até setembro deste ano, último mês cujos dados foram divulgados pela pasta.
As mortes ocorreram nos meses de janeiro (uma), março (uma), junho (três), julho (uma) e setembro (duas). No ano passado, houve uma em março, uma em junho e dois casos em outubro.
O número de homicídios dolosos por acidente de trânsito também faz parte dessa estatística. Houve um caso neste ano e nenhum em 2013.
O dado abriu questionamento quanto ao provável aumento da violência na cidade. No entanto, o crescimento dos homicídios em Tatuí não seria o melhor parâmetro, na visão dos administradores do aparato de segurança pública local, para demonstrar se houve – ou não – aumento da violência.
É consenso entre os gestores locais desse segmento de que o crime de homicídio é um dos mais difíceis para se criar políticas preventivas. Isso porque qualquer pessoa estaria sujeita a cometê-lo e, em muitos casos, há o fator passional.
“No caso do crime de homicídio, temos de pensar de que forma foi? Foi esclarecido? Não foi? Porque há um alto índice de esclarecimentos de homicídios aqui. Não fica assim, esquecido”, argumentou o subcomandante da GCM (Guarda Civil Municipal), Moisés José de Oliveira.
“O que ocorre é o seguinte: o crime é apurado, identificado o autor e, muitas vezes, é passional. E homicídio passional ninguém evita”, acrescentou.
Pelo menos três mortes ocorridas no município em 2014 têm indícios de passionalidade. Em março, um adolescente de 17 anos foi preso por matar o tio dele, Wagner Araújo de Almeida, 39.
Conforme o boletim de ocorrência, a GCM foi chamada para atender a um caso de briga de casal e, quando chegou ao local, teria encontrado a vítima sem vida. O adolescente teria dito à polícia que havia praticado a ação porque o tio “estaria brigando com a tia e a mãe dele”.
Outra morte com indícios passionais vitimou o aposentado José Lopes dos Santos, 50. Ele foi encontrado morto dentro de casa em decorrência de ferimentos a faca.
O corpo dele estava ao lado da esposa, uma das suspeitas. Santos era acusado de já ter tentado matar a companheira, presa posteriormente junto com a irmã dela, pela suspeita da autoria do crime.
Outro caso vitimou Luiz Abel Machado, 47, que teria sido morto por uma pessoa próxima, por suposto desentendimento enquanto confraternizavam na casa da vítima. O próprio suspeito teria acionado a polícia para comunicar o ocorrido.
O acusado, um homem de 26 anos, contou à polícia, que, após ambos terem consumido bebida alcoólica, Machado teria “mudado o comportamento”, consumido cocaína e “partido para cima” dele.
“O que posso fazer em relação aos furtos a residência, por exemplo? Sei que, em determinado bairro, estão acontecendo vários casos, de madrugada. Vamos, junto com a PM e a Guarda, intensificar a ronda naquele local. Nós teríamos, pelo menos, uma ação para tomarmos nesse caso”.
“Já no caso do homicídio, é diferente. Tenho que estar em todas as residências, em todos os bares e locais, porque todos estão sujeitos a cometer”, argumentou o delegado titular da Polícia Civil do município, Francisco José Ferreira de Castilho. Conforme ele, os crimes de homicídio são difíceis de serem previstos, o que dificultaria, também, a organização de ações policiais para preveni-los.
O comandante da Polícia Militar, capitão Kleber Vieira Pinto, também entende que é complicado criar políticas de prevenção contra esse tipo de infração. No entanto, ele pondera que algumas ações podem contribuir para a redução do índice de homicídios.
“Com apreensão de armas, é possível reduzir esses dados, e temos um número razoável de apreensão de armas”, comentou ele.
“Alguns homicídios também estão ligados a questões sociais. Às vezes, são moradores de rua que se desentendem, por exemplo. Esse tipo de crime é difícil”.
“Tratando o social, diminuindo o número de dependentes químicos e apreendendo armas, são formas que podem servir para prevenção de homicídio. Mas, não apenas desse tipo de crime”, apontou o capitão.
Em relação ao número de armas apreendidas no município, foram 20 artefatos confiscados entre janeiro e setembro deste ano, segundo dados de produtividade policial, disponibilizados pela SSP. Cinco deles apenas no mês de setembro, pela PM, conforme balanço entregue à reportagem de O Progresso por Kleber.
Um dos índices que, supostamente, também ajudariam a coibir novos homicídios seria o aumento dos esclarecimentos dos casos.
Nesse ponto, Castilho, que assumiu o posto de delegado titular no final de agosto, diz que, neste período à frente da administração da delegacia local, 22 casos – entre crimes diversos – foram esclarecidos.
Esses dados não incluem os esclarecimentos em decorrência de prisões em flagrante. Numa das ocorrências esclarecidas nos últimos dois meses, segundo Castilho, foi descoberto o autor de um assassinato cometido em 2007.
O trabalho de investigação dos crimes fica a cargo da Polícia Civil. Atualmente, o SIG (Serviço de Investigações Gerais) da delegacia local tem 13 investigadores. No entanto, há 600 inquéritos abertos.
Questionado se o efetivo da PC local seria um fator que dificultaria as investigações e a solução dos crimes, Castilho afirmou que considera o número “bom”.
No entanto, diversos serviços administrativos da delegacia são realizados por funcionários da Prefeitura.
Na solenidade de inauguração oficial do complexo da Polícia Civil, em 12 de setembro deste ano, o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, disse que, sem a ajuda do Executivo, seria impossível a continuidade dos trabalhos na delegacia. Manu apontou, à época, que 80% dos funcionários que trabalham na delegacia são da Prefeitura.
Conforme Castilho, o momento atual na delegacia é de “acertar a casa”. Segundo ele, houve a diminuição de 300 inquéritos nos últimos meses.
“O que estamos fazendo? Direcionando as ações para um mesmo caminho. Instauramos bastante e, mesmo com o número de inquéritos instaurados, que foram muitos, conseguimos baixar, praticamente, 300 inquéritos nesses dois meses”, contou.
Ele aponta também ser necessário mais ajuda da população para aumentar os índices de esclarecimentos dos crimes na cidade – não apenas os de homicídio.
A opinião é compartilhada pelo secretário de Governo, Segurança Pública e Transportes, Onofre Machado Junior. Ele convida a população a participar de forma mais efetiva do sistema de segurança pública, denunciando, de forma sigilosa, a autoria das infrações.
Em relação ao número de homicídios, para Machado, esse tipo de crime não é parâmetro que revela se houve aumento da violência na cidade.
“Devido à forma como esses homicídios aconteceram aqui, às vezes no seio familiar ou com fator passional, não dá para dizer que, somente por isso, houve aumento da violência. O homicídio choca, causa maior clamor. Mas, não o vejo como parâmetro de criminalidade”.
No entanto, ele ressalta: “A não ser que os homicídios aconteçam em uma chacina, em decorrência de briga de gangues por ponto de droga. Assim, podemos coibir. Mas, esse tipo de crime nunca aconteceu na cidade”, argumentou.
Para Onofre, os índices que denotariam aumento da violência no município seriam, por exemplo, os correspondentes aos crimes patrimoniais.
Segundo a SSP, além de homicídios, houve aumento de outros tipos de infrações entre 2013 e 2014. Numa listagem de 17 atos criminosos definidos pela SSP, dez apresentaram aumento.
Dobraram os casos de homicídio e tentativa de homicídio neste ano. Em relação às tentativas, foram nove em 2013, ante 18 em 2014.
Os casos de estupro também cresceram. Foram 34 até setembro deste ano, ante 32 nos nove primeiros meses do ano passado.
Houve crescimento, também, dos casos de “roubos (outros)”. Foram 207 entre janeiro e setembro de 2014. Em todo o ano passado, houve 178 ocorrências, 119 nos primeiros nove meses de 2013.
Nos casos dos roubos de carga, foram dois em 2013, sendo que, até setembro de 2014, houve três ocorrências.
Lesão corporal culposa também apresentou crescimento. Foram 220 casos em 2014, ante 191 em 2013. Houve um homicídio doloso por acidente de trânsito neste ano, e nenhum em 2013.
Os casos de furtos de veículos também cresceram. Houve 155 em todo o ano passado, cem deles nos nove primeiros meses. Apenas até setembro deste ano já houve 158 casos.
Furtos gerais também aumentaram. Nos nove primeiros meses deste ano, foram 690, ante 645 registrados no mesmo período do ano passado.
Kleber entende que os indicativos gerais da violência aumentaram na cidade entre 2013 e 2014. No entanto, ressalta que houve crescimento, também, da produtividade policial, concomitantemente das estatísticas negativas.
Conforme ele, apenas no mês de setembro, por exemplo, a PM realizou cinco flagrantes de roubo e furto; quatro de tráfico; prendeu 56 pessoas; abordou 2.939 indivíduos; capturou 18 foragidos; vistoriou 1.439 veículos; recuperou dois automóveis roubados; emitiu 283 autos de infração (multas); e promoveu 36 flagrantes.
Já Onofre destaca que houve redução nos casos de roubos e furtos nos últimos três meses. Segundo dados da SSP, diminuiu a quantidade desses delitos no último trimestre (julho, agosto e setembro).
Foram 37 furtos de veículos registrados nesse período de 2013, ante 36 neste ano. Houve 244 “furtos outros” entre esses meses do ano passado, diante de 217 registrados entre julho, agosto e setembro de 2014.
Foram registrados dois roubos de carga nesse período do ano passado, mas nenhum nos três meses mais recentes de 2014. Roubos de veículo, foram 11 no período em 2013, ante 9 em 2014.
No caso de crimes patrimoniais, o único que registrou crescimento foi o de “roubo (outros)”. Foram 45 entre julho, agosto e setembro do ano passado, ante 81 no mesmo período de 2014.
O combate aos crimes patrimoniais, segundo Onofre, ganhou atenção especial do aparato de segurança pública nos últimos meses, o que teria refletido na redução dos dados. “Mas, sem deixar de fiscalizar as outras ocorrências”, acentuou.
Delegado de carreira, Onofre diz que, à frente da pasta, pretende promover a comunicação entre as polícias locais para aumentar a troca de informações e as ações em conjunto, visando melhora na segurança.
Tráfico
Outro tipo de crime que apresentou crescimento nos nove primeiros meses deste ano foi o de tráfico de entorpecentes. Foram 187 ocorrências registradas em 2013, ante 191 neste ano.
Esse dado é visto de forma positiva pelos gestores da segurança pública local. Isso porque a estatística é feita com base no número de apreensões de drogas e prisões de traficantes. Isso significa que houve mais apreensões neste ano em comparação a 2013.
Conforme Castilho, o aumento deu-se graças “ao ótimo trabalho da PM e da Guarda Civil, porque grande parte dos flagrantes são deles”.
Segundo ele, a Polícia Civil monitora os bairros que mais sofrem com o problema. “Temos um mapeamento na cidade, e estamos vendo onde estão as necessidades. Mas, infelizmente, é um trabalho de enxugar gelo. Prende-se um traficante hoje, amanhã tem outro no lugar”.
Para ele, uma estratégia para reduzir drasticamente o tráfico seria diminuir o número de usuários. “É uma utopia? Pode ser. Só que começa por aí. Se eu não tiver o comprador da droga, não vai existir a figura do vendedor. Mas, estamos falando de uma sociedade que tem a figura do usuário”.
Para Kleber, a questão do combate ao tráfico de entorpecentes passa pelo policiamento, mas, também, pelo investimento em política de tratamento de dependentes químicos e pelo controle das fronteiras do país.
De acordo com Castilho, o projeto para reduzir o tráfico de drogas é instalar um sistema de monitoramento por meio de câmeras espalhadas pela cidade.
Conforme ele, o que um policial consegue monitorar, por meio de equipamento digital, seria preciso dez oficiais para fazer o mesmo nas ruas.
Segundo ele, quando assumiu o posto, no final de agosto, houve reuniões com representantes da Prefeitura, da Associação Comercial e dos bancos para adquirir esses equipamentos.
Segundo Kleber, as polícias têm tido problema com a legislação criminal, o que dificultaria a redução dos índices de violência na cidade e no país.
“Temos dificuldades com relação ao sistema como um todo. A legislação, por exemplo. A maioria das pessoas presas no Brasil não cumpre integralmente a pena”, argumentou.
“A PM tem prendido muito, mas estamos sofrendo com a reincidência. A maioria das pessoas presas é reincidente, são criminosos que prendemos outras vezes. E isso faz com que a gente fique patinando. É preciso que todos façam sua parte. A conta negativa não pode ficar só com a polícia”.
Redução
Os casos de homicídio culposo por acidente de trânsito diminuíram na cidade em 2014. Foram nove ocorrências entre janeiro e setembro deste ano, ante dez no mesmo período do ano passado.
Os roubos de veículos também diminuíram. No total, houve 41 casos em todo o ano passado. Desse total, 30 ocorreram nos primeiros nove meses do ano. Nesse mesmo período de 2014, houve 27 ocorrências.
Os casos de lesão corporal dolosa também diminuíram. Estão somando 398 em 2014, ante 400 em 2013.
Em relação ao crime de latrocínio, também houve recuo. Segundo a SSP, houve um caso registrado no ano passado, em março. Até setembro deste ano, não houve nenhuma ocorrência do tipo.
Os índices que mantiveram os mesmos números do ano passado foram: homicídio culposo, lesão corporal culposa e roubo a banco. Esses três indicadores não apresentaram nenhuma ocorrência nos últimos dois anos.