
Aqui, Ali, Acolá
José Ortiz de Camargo Neto *
Caros amigos,
Existe uma falsa ideia de que o cristianismo foi tornado religião oficial do Império Romano pelo imperador Constantino, com o édito de Milão, em 313 d. C.
Na verdade, o que este imperador fez, foi apenas tornar legais todas as religiões do Império, incluindo o cristianismo.
Assim os cristãos puderam sair da clandestinidade, deixaram de ser perseguidos e puderam se reunir em público, difundindo sua crença livremente.
Pode-se dizer que, assim como Cristo ficou sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, o cristianismo, banido da vida comum, veio à vida pública apenas no terceiro século.
Outro engano é a ideia muito difundida de que os cristãos perseguidos viviam nas catacumbas, debaixo da terra, no período em que estavam ilegais no Império Romano.
Na verdade, eles celebravam seu culto em suas casas e só algumas vezes fugiam para as catacumbas.
Estas eram propriedade do Império e nelas as pessoas podiam realizar funerais, sepultando seus mortos, mediante o pagamento de um imposto a Roma.
As catacumbas também serviam como ponto de asilo político. Quem nelas se refugiasse, por lei não poderia ser preso nem molestado pelas autoridades.
Outro engano é pensar que o imperador Constantino estruturou a doutrina cristã conforme sua vontade.
Na verdade, os cristãos, já muito numerosos, estavam espalhados pelo Império, e queriam reunir-se para melhor definir e unificar sua doutrina. Só o imperador podia convocar uma reunião de todos os cristãos do Império e foi o que fez Constantino.
O Concílio de Niceia foi, assim, essa primeira reunião ecumênica da história cristã, ocorrida em 325 d.C. na cidade de Niceia. Um dos principais pontos discutidos foi a divindade de Jesus Cristo.
Diziam os arianos que Jesus não tinha a mesma essência do Pai, mas que foi criado pelo Pai do nada, não sendo, portanto, coeterno com Deus.
Apesar da simpatia que Constantino tinha por essa teoria, ela foi derrotada no concílio dos sábios cristãos, ficando estabelecido o Credo de Niceia, que até hoje está em vigor entre os cristãos católicos do Oriente e do Ocidente e de muitas outras denominações.
“Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, (…) em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas”…
As decisões de Niceia estabeleceram as bases para a doutrina da Santíssima Trindade e a ortodoxia cristã sobre a natureza de Jesus Cristo.
O cristianismo somente tornou-se a religião oficial do Império Romano em 380 d.C., por meio do imperador Teodósio I, mas isto já é assunto para outro artigo.
Até breve.
* Jornalista e escritor tatuiano.