Dispensados pelas ‘grandes’ estão migrando para pequenas empresas





Sem perspectiva de retornarem aos antigos postos de trabalho, metalúrgicos dispensados pelas grandes indústrias do município estão buscando novas possibilidades de renda. E elas têm surgido por meio das pequenas empresas, conforme informou o diretor do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Marcos Bueno.

De acordo com ele, as contratações feitas por microempresários estão sendo maiores que as registradas por indústrias que têm mais de 200 empregados. Exemplo disto é uma fabricante de produtos “pet” (voltados aos animais de estimação), em fase de operação há dois meses.

“Ela está estabelecida no Jardim Aeroporto, e contratando. Vai chegar a 60 funcionários”, disse Bueno. Segundo ele, a microempresa tem sede em São Paulo.

Entretanto, o diretor antecipou que o proprietário do negócio pretende transferir toda a produção para Tatuí e desativar a unidade na capital ainda neste ano.

“Com isso, 99% da mão de obra serão locais”, contou Bueno. Conforme ele, a principal aposta do empresário nesse tipo de contratação é que a mão de obra já está preparada.

“O investidor falou que este momento está sendo muito bom pra ele. Ele está pegando pessoas do setor da indústria que trabalhavam com os mesmos equipamentos e que, portanto, não precisam de treinamento”, comentou.

A empresa demorou dois anos para concluir a etapa de construção da unidade em Tatuí. Ela entrou em operação no final do ano passado e iniciou a produção de peças em plástico, como vasilhas de água, casas para abrigar cachorro e gatos, gaiolas para transporte de animais, entre outros produtos.

O mesmo está ocorrendo com as empreiteiras que prestam serviços para empresas maiores. Dessa maneira, as microempresas atendem à mão de obra que está fora do mercado. Bueno disse que isso reduz os efeitos do “momento econômico”.

Para ele, o período mais crítico a ser enfrentado tanto pelos trabalhadores como pelos empresários se dará entre os meses de abril e setembro. A partir de outubro, a tendência é que as empresas comecem a se recuperar e a recontratar.

Para os metalúrgicos, a previsão é de que eles voltem aos postos de trabalho – muitos deles, conforme o diretor, nas mesmas empresas.

“Eles não foram mandados embora por má qualificação, mas pela redução de projeto na linha de produção. Então, nós avaliamos que o impacto maior já se deu”, argumentou.

Neste ano, a tendência é que as dispensas continuem a acontecer, mas em volume menor que em 2015. “Não vamos ter grandes evoluções, para reabsorver, mas, no ano que vem, e assim por diante, haverá uma retomada”.

Esse entendimento se deve, principalmente, a medidas ligadas à Rontan Eletrometalúrgica e à FBA (Fundição Brasileira de Alumínio). A primeira foi adquirida, recentemente, por um grupo de investidores; a segunda anunciou a criação de um banco de dados para recontratação (reportagem nesta edição).

Com o aumento dos postos de trabalho, o consumo deve aumentar e gerar um efeito cascata. Desta maneira, todas as indústrias do setor metalúrgico devem voltar a absorver mão de obra. Em Tatuí, esse ramo abrange 6.000 funcionários (em 20 empresas), sendo que em torno de 4.000 ainda estão trabalhando.

Até que haja a recuperação, o presidente do sindicato, Ronaldo José da Mota, afirmou que a entidade classista garante suporte ao metalúrgico desempregado.

Segundo ele, o funcionário dispensado pode pleitear ajuda de recolocação ou orientação durante todo o período em que recebe as parcelas da rescisão.

O apoio inclui o encaminhamento para as unidades locais do PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador). A entidade também dispõe de banco de dados próprio, com as vagas abertas e anunciadas pelas indústrias.

Bueno explicou que, em Tatuí, a retração da economia teve impacto maior no emprego por conta da instabilidade das duas maiores empregadoras do município (do setor privado). Ela também afetou a Yazaki – que chegou a demitir –, Delmar (Hubbel) e Tavex, mas com menos intensidade.

“Essas não tiveram demissão em massa. Além disso, nós percebemos que a crise não é tão agressiva e que outros setores equilibraram um pouco as coisas”, disse Bueno.

Por essa mesma razão, os dirigentes do Sindmetal estão confiantes de que a situação deva melhorar até o fim do ano. Com os reajustes a serem adotados pelas grandes indústrias locais (Rontan e FBA), a tendência é de recuperação.

“Todo empresário que vem comprar uma empresa, fecha negócio porque entende que ele é atrativo. Do contrário, não saía negócio. Ele não vai entrar num mercado que está falido. Então, não é o mercado em si, mas o momento econômico que fez com que as empresas encontrassem dificuldades”.

De acordo com Bueno, o impacto na metalurgia também foi maior por conta da expansão na produção – puxada pela alta no consumo, entre 2011 e 2012.

Mesmo com uma dispensa grande (50% da mão de obra das duas empresas não estão mais trabalhando), o diretor do Sindmetal disse que o empresariado local está conseguindo lidar com a situação, principalmente por conta dos pequenos.

“Quando conversamos com eles, todos dizem que está ruim, mas está bom, ao mesmo tempo. Alguns, de 15, desligaram um funcionário, mas voltaram a recontratar. Então, existe uma rotatividade que ajuda a manter a economia”, avaliou o diretor.

Quem não consegue recolocação no momento, está partindo para a formalização de negócio próprio. Bueno afirmou que deve haver elevação do número de pequenas empresas, estimuladas por órgãos como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A entidade promove, neste mês, feira em São Paulo para estimular esse mercado.