Ao contrário do folclore corrente no futebol brasileiro, que classifica Fleitas Solich de “O Feiticeiro”, simplesmente, tanto pela crônica como também pelos torcedores, o paraguaio era, na verdade, bem mais que isso. Era um treinador com conceitos e visão bem à frente do seu tempo.
Inteligente, criativo e, acima de tudo, observador. Havia sido jogador da seleção de seu país e também seu treinador (campeão do Sul-Americano de 1949 quando venceu o Brasil), antes de chegar no Flamengo em 1953.
Na época, o rubro-negro tinha um bom time e jogadores de qualidade, porém não havia nenhuma estrutura. Os atletas tinham liberdade excessiva, nenhuma disciplina, não se cuidavam e Solich, com muito jeito e profissionalismo, criou hábitos melhores para o elenco.
Ele levou para o clube modernidade, senso de profissionalismo e responsabilidade, em uma época em que no Brasil tinha um futebol romântico, bem despreocupado, profissionais com espírito amador, treinava-se bem pouco. Fleitas Solich mudou isso.
O bom rendimento técnico era em função de um bom condicionamento físico, concentração e acompanhamento médico aos atletas. Assim, o Flamengo foi tricampeão carioca, esnobando um futebol de alta categoria, mesmo enfrentando grandes times no campeonato do Rio.
A partir desse desempenho, incrivelmente, as outras equipes passaram a adotar o tal “Sistema Solich”, uma escola e tanto trazida pelo paraguaio.
Ganhador, Solich era, portanto, muito mais que um simples “feiticeiro”. Não era assim que ele ganhava títulos e sim com trabalho profissional de verdade, disciplina e muito, muito trabalho.
Esteve, depois, outras duas vezes no Flamengo. Lançou na equipe, ao ver o potencial de um menino canhoto e briguento, chamado Gerson de Oliveira Nunes, o futuro “Canhotinha de Ouro” da Copa de 1970. Em 1972, notou a habilidade de um garoto franzino e o colocou no time principal, chamado Zico.
Real Madrid, Fluminense, Corinthians, Palmeiras foram alguns dos clubes que contaram com seu trabalho de qualidade.
A foto mostra o grande treinador no Flamengo de 1956. Em pé: Fleitas Solich, Pavão, Aníbal, Jadir, Tomires, Dequinha e Jordan. Agachados: Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Babá.
Grandes nomes, grandes histórias do nosso futebol.
NOTA: As fotos são do arquivo pessoal do autor, que data de 50 anos. Ele, como colecionador e historiador do futebol, mantém um acervo não somente de fotos, mas de figurinhas, álbuns, revistas, recortes e dados importantes e registros inéditos e curiosos do futebol, sem nenhuma relação como os sites que proliferam sobre o assunto na rede de computadores da atualidade