Dí­vida de R$ 800 mil em impostos impede Santa Casa de obter ajuda





Anunciado como solução pela diretoria do único hospital filantrópico de Tatuí para compensação da perda de receita por conta da saída da Unimed, o convênio que prevê repasse por meio do “Santa Casa Sustentável” pode não sair. O motivo é uma dívida que beira os R$ 800 mil em impostos atrasados, revelada na semana passada pelo prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu.

Segundo ele, os débitos impedem a diretoria do hospital de obter as chamadas CNDs (certidões negativas de débito). Sem elas, não há como a Santa Casa receber quaisquer tipos de recursos. O panorama foi exposto pelo secretário de Estado da Saúde, David Everson Uip, em reunião com comitiva regional.

O encontro aconteceu na quinta-feira, 18, com participação de lideranças de seis municípios, cujas populações utilizam o hospital. Além de Manu, participaram os prefeitos de Capela do Alto, Marcelo Soares da Silva; Cerquilho, Antonio Del Ben Junior; Cesário Lange, Ramiro de Campos; Quadra, Carlos Vieira de Andrade; e Torre de Pedra, Emerson José da Mota.

“A reunião foi única e exclusivamente para discutir o problema da Santa Casa”, informou o prefeito. Acompanharam o assunto, ainda, os vereadores Antônio Marcos de Abreu e Valdeci Antonio de Proença, a provedora da Santa Casa, Nanete Walti de Lima, a diretora regional de saúde Silvia Abrahão, além de técnicos do hospital tatuiano e da Secretaria Municipal da Saúde.

Em maio, o prefeito antecipou a O Progresso que pretendia encontrar-se com Uip. A intenção era solicitar colaboração do governo do Estado com repasses para a manutenção das atividades do hospital. Desde que a Unimed deixou de utilizar a Santa Casa para prestar atendimentos, houve perda de receita.

No encontro, Manu disse que as autoridades “se depararam com um problema que já era de conhecimento da diretoria do hospital e da administração”. “Infelizmente, a Santa Casa não está em dia. E nós tentamos regularizar, por meio de repasses que estamos até adiantados”, argumentou.

O prefeito afirmou que, “no momento, a população da cidade e região pode ficar tranquila”. Conforme ele, o hospital ainda tem condições de prestar atendimentos e mantém os serviços “normalizados”. “Mas, infelizmente, nós carecemos de uma unidade para que possamos resolver mais essa questão”.

Para isso, ele deve promover reunião com o presidente da Câmara Municipal, Wladmir Faustino Saporito. O objetivo é verificar, com ele e os demais parlamentares, a possibilidade de o Legislativo antecipar o recurso que sobra do duodécimo repassado para o custeio da Casa de Leis.

A intenção é que a Câmara antecipe a devolução ao Executivo para que o dinheiro, então, seja entregue à provedoria. Com o recurso, o prefeito disse que espera que a Santa Casa possa quitar os débitos dos impostos em atraso. “Aí, o secretário (Uip) nos garantiu o recurso do Santa Casa Sustentável”, disse.

Também sustentou que esse convênio permitiria um repasse de quase R$ 200 mil por mês. Com a saída da Unimed, o hospital perdeu R$ 350 mil (valor bruto).

“Líquido, entrava em torno de R$ 200 mil. Então, vamos conseguir pelo menos repor. Não tudo, mas uma boa parte do recurso que a cooperativa aplicava no hospital até então”, comentou.

De acordo com o prefeito, o repasse vai permitir ao hospital “um pequeno fôlego”. Entretanto, Manu disse que o repasse está condicionado ao apoio da Câmara. Segundo ele, a devolução deve somar, aproximadamente, R$ 500 mil.

“É justamente o valor, ou até um pouco mais, dos impostos que a Santa Casa tem de pagar. Mas, com ele (o recurso da Câmara), nós conseguiremos fazer um novo ajuste para saldar esses impostos e obter essas certidões o quanto antes”, disse.

Conforme o prefeito, Uip colocou a equipe do governo do Estado à disposição da Prefeitura e da diretoria da Santa Casa para o andamento do convênio.

“Mas, ele foi muito claro que está de mãos atadas e eu, como prefeito, também estou, para poder enviar algum recurso para o hospital”, argumentou.

Além do programa, a falta de CNDs impede o repasse de R$ 1,5 milhão para a reforma do centro cirúrgico. Segundo o prefeito, ela também impede a vinda de “novas receitas”, por meio de serviços que, porventura, possam ser acrescidos.

“O primeiro passo é saldar as certidões e a única maneira é o recurso da Câmara. Então, vamos buscar com os vereadores a colaboração”, reforçou o prefeito. O encontro entre ele e os parlamentares deve acontecer nesta semana.

Manu declarou que está confiante no apoio do Legislativo. Frisou que, sempre que precisou da colaboração da Câmara para ajudar o hospital, teve retorno positivo. “Nunca no meu governo foi negado”, enfatizou.

Além da Casa de Leis, o Executivo deve atuar em outra frente. O foco é buscar apoio de empresários. “Vários já nos ajudaram nesse período de dois anos e meio. Eu creio que, agora, possamos alcançar um número maior de colaboradores e sensibilizar eles para com a situação da Santa Casa”, ressaltou.

A intenção da Prefeitura é criar uma “força-tarefa” em prol do hospital, que atende quase 700 pessoas por dia, entre os serviços de internação e cirurgias.

“É um grande hospital e o único filantrópico que nós temos. Não podemos correr nenhum risco, nem que seja ele o mínimo possível, de termos esse hospital prejudicado por conta dessa situação financeira”, argumentou.

Além do apoio, Manu solicitou ao secretário de Estado a transformação da Santa Casa em hospital regional. Argumentou que, se isso acontecesse, não só Tatuí, mas a RMS (Região Metropolitana de Sorocaba) seria beneficiada.

Conforme ele, o secretário antecipou que o Estado não tem interesse em assumir mais nenhum leito. “Esperar muito do Estado vai ser, infelizmente, um sonho. Pelo que eu vejo, a leitura do governo é otimizar custo e jogar a responsabilidade para a própria entidade. E a entidade vive da misericórdia dos outros. Não tem condições de se manter se não tiver apoio”, concluiu.