Cada um de nós aprendeu, desde cedo, que no Natal Deus, nosso Pai, nos presenteia com seu único Filho, o Menino Jesus. Deste gesto divino nascem, também em nós, principalmente nesse tempo, inúmeras atitudes generosas, iniciativas e gestos de caridade, como: o Natal das crianças pobres e abandonadas, o Natal dos idosos e doentes, o amigo secreto, a troca de presentes, o encontro da família. Enfim, como Ele, nós também queremos ser caridosos, dando um pouco de nós mesmos aos outros.
Tudo isso é bom, importante, necessário e merecedor de aplausos e elogios. Mas, talvez não revele, ainda, o verdadeiro sentido do Natal, qual seja: Deus vem ao mundo; “vem”, não apenas para dar ou dar-se, ou seja, para nos salvar, mas, também, “para receber”.
Mas receber o quê, perguntamos nós, se Ele, como Deus, tem tudo, não lhe faltando nada? Aqui é que nos enganamos… Deus é pessoa. E, sendo pessoa, “sente falta” daquilo que há de mais importante, fundamental e sagrado nas pessoas: a experiência de amar e ser amado.
A única coisa que Deus não tem e não pode exigir de nós é que O amemos. Quando muito, pode apenas mendigar nosso amor, acolhê-lo, recebê-lo. Deus nos atrai ao Seu amor, não nos obriga a nada.
Na dinâmica do amor mais vale e importa receber do que dar. O que realmente faz bem a uma pessoa e a salva é a experiência de ser bem recebida, acolhida, sem discriminação; de tal forma, que seus defeitos ou pecados nem sequer são vistos, mencionados e nem mesmo parecem existir; mas, ao contrário, tudo é acolhido como riqueza, graça, honra, glória e bênção.
Por isso Deus se aproxima manso e humilde, na fragilidade como o Filho do homem, “nascido à beira do caminho e posto no presépio porque não havia lugar na estalagem” (São Francisco de Assis).
Assim, antes do poder, o que salva o homem é o “não poder” de Deus, sua “não força” ou, como São Francisco gostava de dizer, sua “pobreza”. Uma pobreza semelhante à pobreza do Pai do filho pródigo, que acolhe o filho assim como ele aparece. E alguém, por acaso, para ser feliz, realizado, bem-aventurado e salvo precisaria de algo diferente, maior ou melhor que isso?
O filho pródigo sentiu-se salvo não pelo poder do Pai, mas por ter sido recebido pela misericórdia e pelo silêncio acerca de seus vícios e pecados. Era por isso que “Francisco celebrava com inefável alegria, mais que todas as outras solenidades, a Natividade do Menino Jesus, afirmando que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos”. Jesus foi amado, cuidado e acolhido por sua Mãe e São José.
É Natal! Deus vem ao nosso encontro porque está enamorado de nossa humanidade e apaixonado por cada um de nós. Sugestão: que neste Natal você vá ao encontro de uma pessoa em grande necessidade. Além de levar algo de útil a ela, fica ali e convive, ouve a história desta pessoa. Isto é dar-se, gratuitamente; é amar e dignificar a vida da pessoa. Só dar algo é muito pouco. Amar é muito mais, é dar-se. O amor é a glória de Deus. Abraço e bênção.
* Bispo da Diocese de Lorena (SP) e articulista da revista “Canção Nova”