Da reportagem
Madeirite, mangueiras e luzes de LED, além do desejo de receber uma nota dez, foram alguns dos materiais utilizados por três estudantes tatuianas para a apresentação de um seminário de biologia. O trabalho, denominado “Sistema Cardiovascular Visual”, foi veiculado em todo o estado ao tornar-se um vídeo institucional do Sesi (Serviço Social da Indústria).
Júlia Machado dos Santos, Letícia da Costa Aguiar e Rebeca Dantas Vieira, atualmente alunas do terceiro ano do ensino médio da unidade local do Sesi, desenvolveram o trabalho, proposto pelo professor de biologia Deivisom Gláucio Aparecido Ribeiro de Souza, entre os dias 4 de outubro e 22 de novembro do ano passado.
As estudantes revelam que decidiram inovar na elaboração do projeto com a intenção de deixá-lo mais visual durante a apresentação. “Pensamos em fazer algo mais representativo e demonstrativo. Seria uma apresentação diferente, não apenas com slides”, conta Rebeca.
Elas acentuam que o professor de biologia é bastante rígido no momento de dar uma nota “dez” aos trabalhos. “Queríamos receber a nota máxima, fizemos esse projeto e conseguimos um dez. Foi isso que nos incentivou”, completa a estudante.
Inicialmente, o Sistema Cardiovascular Visual foi desenvolvido com gesso, isopor, mangueiras de plástico, água com corante e duas bombas, sendo uma de gasolina e outra de limpador de para-brisa.
Posteriormente, o trabalho saiu da sala de aula, levado ao FabLab do Sesi Tatuí. No novo espaço, o grupo refez a base do corpo com madeirite e colocou mangueiras com espessuras mais finas.
Com mais ferramentas à disposição e a tutoria do guru da FabLab, Guilherme Freitas, as alunas utilizaram uma placa de Arduino Mega (aparelho microcontrolador), jumpers, potenciômetro, resistores e buzzers.
A professora de química e de Eixo Integrador Interáreas delas – no ano passado -, Tatiana Kazue Silva, apresentou um modelo atômico de coração para complementar o trabalho.
Conforme Leticia, na parte mais tecnológica do projeto, o grupo usou o coração para implementar luzes de led, de cor vermelha e azul, simulando os batimentos cardíacos. “Os equipamentos eletrônicos foram programados para controlar as luzes de led e as bombas, influenciando no fluxo de água”, completou Júlia.
As estudantes reconhecem que o protótipo do trabalho não ficou atrativo esteticamente e que possuía algumas falhas. No entanto, elas ressaltam a importância de Souza, Freitas e Tatiana para finalizarem o projeto ainda melhor do que elas haviam planejado.
Souza aponta que a proposta do seminário era para que cada grupo apresentasse um sistema do corpo humano. Ele reconhece que não dá nota dez com facilidade, mas revela ter ficado surpreso com o resultado do trabalho delas.
“Eu esperava algo de qualidade, pois as meninas, assim como a sala delas, são bastante dedicadas. Contudo, fiquei surpreso com o trabalho, pois elas foram além”, declarou.
Segundo o professor de biologia, um dos objetivos do seminário era o de estimular a criatividade, fazendo com que os alunos aprendessem na prática. Ele afirma que os estudantes foram autorizados a utilizar os espaços e recursos disponíveis no Sesi.
De acordo com Souza, “guru” é o responsável pelas atividades desenvolvidas no FabLab, ao mediar as ideias e a criatividade dos alunos. “Freitas é muito dedicado e competente. Ele foi primordial para o resultado do trabalho”, garantiu.
Tatiana lembra que o FabLab é um recurso da rede Sesi-SP. Ela explica que se trata de um laboratório “maker”, no qual os estudantes têm acesso a equipamentos como impressora 3D e tutorias com o guru Freitas, para produzirem projetos de desenvolvimento e aprimoramento pedagógico.
A docente aponta a qualidade do trabalho escolar de Júlia, Letícia e Rebeca, destacando a decisão de tornar o Sistema Cardiovascular Visual um vídeo institucional veiculado em todas as unidades do Sesi-SP. Posteriormente, o trabalho chegou à Faculdade da Santa Casa, de São Paulo.
“Quando o marketing do Sesi disse que era um trabalho inovador e que queriam fazer o vídeo para ser institucional, ficamos surpresos e muito felizes”, admitiu Tatiana.
Segundo ela, “o trabalho em equipe foi uma das competências mais importantes para o sucesso do trabalho”. “A interdisciplinaridade é mais um ponto forte na rede Sesi. Unir conhecimentos e aplicar no cotidiano é o que torna nosso processo de aprendizagem colaborativo e significativo”, reforçou.
O trabalho em equipe também é destacado pelas estudantes como um dos trunfos do resultado que alcançaram. Elas afirmam que irão utilizar o trabalho desenvolvido para agregar-lhes ao currículo, já visando uma graduação e uma futura entrada no mercado de trabalho.
Letícia afirma que, pelo projeto, aprendeu a buscar algo além do óbvio, para realizar um trabalho que agregasse o conhecimento dos demais estudantes. Ainda ressalta a importância da tecnologia aliada ao ensino.
A experiência e o conhecimento são ressaltados como os ganhos de Rebeca com o trabalho. A aluna se mostra satisfeita pela possibilidade de um trabalho escolar poder incentivar outras pessoas a se esforçarem a criar projetos cada vez mais inovadores.
Júlia garante que o projeto a ajudou a desenvolver a proatividade e a despertar a criatividade. Ela revelou que, com o trabalho, encontrou a área de atuação que pretende seguir em breve: a saúde.
“Atualmente, o mercado de trabalho requer que o profissional esteja habilitado com as competências socioemocionais, e o projeto me auxiliou no desenvolvimento delas”, assegura a estudante.
“É sabido que vivemos na era da tecnologia e, no desenvolvimento do projeto, aprendemos muito sobre ela. Esses conhecimentos que adquirimos poderão ser um diferencial em nossas vidas quando ingressarmos no mercado de trabalho”, completou Júlia.
Atualmente, devido à pandemia, as estudantes, assim como os demais alunos do Sesi, estão utilizando duas plataformas educacionais para realizar aulas não presenciais. Elas afirmam que planejavam dar andamento no projeto neste ano.
As estudantes queriam implementar o fígado ao projeto, para demostrar como problemas, como alcoolismo e o uso intenso de medicamentos afetam o corpo.
“A professora Tatiana nos explicou que, pelo fato de ser um órgão que se regenera, as pessoas tendem a não se preocupar com ele, mas o descuido pode gerar consequências graves”, aponta Júlia.
No entanto, elas já analisam a possibilidade de acrescentar o coronavírus ao trabalho. “Diante dessa pandemia, pensamos que seria legal representamos como o vírus ataca nosso organismo e o sistema cardiovascular”, afirmou Rebeca.
“Pesquisarmos que o vírus reage de forma diferente em cada organismo. Por conta disto, caso coloquemos a ideia em prática, poderemos apresentar os problemas mais comuns”, completou Júlia.
Homenagem
Na sessão parlamentar da semana passada, dia 29 de junho, o vereador João Éder Alves Miguel apresentou três moções ao Sesi, endereçadas à direção, professores e às três estudantes.
Os documentos, 111, 112 e 113/20 parabenizam o incentivo à pesquisa e à ciência, resultando no projeto Sistema Cardiovascular Visual, desenvolvido pelas estudantes, sob orientação dos docentes
“Hoje, infelizmente, vivemos um período no qual a educação está sendo deixada de lado. A pesquisa, a ciência e a inovação não recebem o devido valor. São muitos cortes no incentivo à pesquisa e à educação”, afirmou Alves Miguel, na ocasião.
“A inovação e a pesquisa devem ser cada vez mais, valorizadas no país. Não devemos recorrer à tecnologia de outros países, a peso de ouro, sendo que temos tantas pessoas capacitadas no Brasil a desenvolver tecnologias que solucionem a maioria dos nossos problemas”, concluiu o vereador.