RAUL VALLERINE
O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus pensamentos. (Luís Fernando Veríssimo)
Quando somos jovens, geralmente temos uma boa relação com o espelho. Paramos diante dele e nós olhamos de corpo inteiro e por todos os ângulos.
Temos mais coragem de nos observar, de enfrentar possíveis desajustes físicos, e o futuro está a nosso favor.
Somos mais flexíveis, desarmados, versáteis, e mais dispostos às mudanças. Gostamos de trocar opiniões e acatamos ideias novas com facilidade. Nossa alma, tanto quanto nosso corpo está em constante transformação.
Estamos sempre à procura de novos significados para velhas ideias.
Com o passar do tempo, vamos evitando espelhos que reflitam nosso corpo por inteiro. Procuramos aqueles que mostrem apenas a parte de cima.
Fugimos da nossa aparência, por não gostar dela ou porque ainda desejamos ver refletido aquele corpo jovem, a cabeleira abundante, a pele lisa e brilhante.
E porque não gostamos da nossa imagem, fugimos do espelho, como se isso resolvesse o nosso problema. Assim também acontece com as questões da alma.
Quando somos jovens temos coragem de refletir sobre nossas atitudes, gostamos de aprender coisas novas e estamos dispostos a enfrentar desafios.
Buscamos respostas para nossas dúvidas e não tememos as críticas, por entender que elas nos ajudam a crescer.
Mas quando as gordurinhas do comodismo vão se acumulando em nossa alma começamos a fugir de espelhos que nos mostrem tal qual somos.
As ideias vão se cristalizando e não temos mais tanta disposição para reciclar as nossas memórias.
Posicionamo-nos numa área de conforto e nos deixamos levar pelas circunstâncias, sem tantos esforços. Para muitos é como se uma influência paralisante lhes tomasse de assalto.
Não se interessam mais pelo conhecimento, nem por fazer novas amizades ou cuidar um pouco do corpo e da saúde.
Esquecidos de que a sabedoria não está na espinha dorsal nem na pele jovem ou na vasta cabeleira, entregam-se ao desânimo como se tivessem chegado ao fim da linha.
Não se dão conta de que enquanto estamos respirando é tempo de aprender e crescer, de fazer exercício e eliminar as gorduras indesejáveis.
Enquanto podemos contemplar o espelho físico, podemos nos observar e envidar esforços para corrigir o que julgamos necessário.
Enquanto a vida nos permite, devemos voltar o olhar para o espelho da consciência e ajustar o que seja preciso, para que fiquemos mais belos e mais sábios.
Arejar os pensamentos e reciclar as memórias infelizes que teimamos em arquivar nos escaninhos do ser. Repensar conceitos, refazer ideias, rever atitudes e posturas.
Só assim afastaremos o desejo constante de fugir do espelho, de fugir de nós mesmos, fingindo que somos felizes e mascarando a realidade.
Pense nisso e não lute contra a natureza, desejando segurar o tempo com as mãos. Não deixe que a sua sabedoria se esconda nas rugas da pele nem perca o viço entre os cabelos brancos.
A beleza da sua alma é independente do corpo físico. A sua grandeza se reflete na sua forma de pensar, sentir e agir, e não na imagem projetada no espelho.
Pense nisso e observe-se de corpo e alma, por inteiro. Lembre-se de que cabe somente a você a decisão de assumir a realidade e modificá-la, quando, como e se julgar necessário.
Pior do que estar insatisfeito com o corpo é a insatisfação com a própria consciência. Essa insatisfação lhe rouba a paz, a alegria, a vontade de crescer e ser feliz.
Por isso é importante lembrar que você pode modificar essa realidade quando desejar.
Basta investir na sua melhoria íntima arejando a mente, eliminando preconceitos e adquirindo conhecimentos que lhe tragam satisfação e paz de consciência. Pense nisso, mas pense agora.