No dia 7 de abril de 2013, a vida de Júlia Abrame de Oliveira mudou radicalmente. A data marcou o diagnóstico de leucemia linfoide aguda e o início de uma luta travada por ela e pela família em busca da cura.
Atualmente, depois de passar seis anos em tratamentos agressivos e após completar um ano de cirurgia para o transplante de medula óssea, a menina e os familiares celebram a vitória e a alta médica, com a cura da doença.
Júlia completou oito anos no dia 22 de março, mas a família também comemorou o “renascimento” da menina no dia 15, data em que completou um ano em que a nova medula “pegou”. Com um bolo e uma vela, a família se reuniu e cantou o “Parabéns” à menina.
De acordo com a mãe, Adriana Cristina Delaroli Abrame de Oliveira, a data marca “o começo de uma nova vida”. Desde então, a recuperação de Júlia tem surpreendido a família e os médicos que acompanham o caso.
“Devo tudo isso a Deus! Se não foi Ele, de que outra maneira a gente vai explicar o que aconteceu com a Júlia? Claro que foi feito o tratamento, os médicos cuidaram muito bem, foi muito bem atendida, mas tenho certeza que recebemos um milagre a cada dia nos últimos anos”, salientou.
Júlia foi diagnosticada quando tinha apenas dois anos. Desde então, começou a fazer o tratamento contra a doença e os pais foram informados de que precisaria ser feito o transplante para a filha poder continuar com as sessões de quimioterapia e radioterapia.
“Quando ela chegou ao terceiro tratamento e a medula dela já não tolerava mais a quimioterapia, ela tomou remédio, foi para UTI e o médico falou de suspender as quimioterapias e ir atrás de um transplante, porque ela não aguentaria o tratamento”, contou a mãe.
A busca por uma medula compatível mobilizou toda a cidade. Em outubro do ano passado, uma campanha de coleta do material recebeu mais de 1.600 pessoas interessadas em ajudar a garota.
Mesmo com a ação para o cadastro de novos doadores, os médicos não localizaram, no banco de dados, alguém totalmente coadunável com a menina, e sugeriram aos pais que eles autorizassem o procedimento com alguém da família que fosse 50% compatível.
O procedimento aconteceu no dia 15 de março de 2018, no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Ela recebeu a medula óssea do pai, Antônio Sérgio de Oliveira, por meio de transplante de medula haploidêntico, feito com alguém metade compatível.
“Tínhamos muito medo do transplante. Quando recebemos a notícia, a gente se desesperou e viu que não teria como fugir. Nessa hora, ou você se desespera, enlouque e cai ou, então, você enfrenta, luta e acredita. Por ela, eu tinha que continuar firme, lutando e acreditando”, ressaltou.
Para Adriana, a fé da família e a determinação de Júlia ajudaram a menina a passar pelo tratamento e, depois, pelo transplante, com poucas reações, até alcançar a cura.
“Um pouquinho vinha aquele medo e insegurança das reações, mas eu tinha fé que ia dar certo. Me apeguei a isso e falei para mim mesma: se Deus permitiu que nós passássemos por isso, vou me apegar à fé e crer que Ele vai nos acompanhar e nos sustentar”, acentuou.
A mãe conta que o acompanhamento está sendo feito com menos frequência, mas ainda com cuidados. Júlia ainda não tem todos os anticorpos e deve tomar vacina até setembro de 2020. As imunizações, feitas por meio de vírus vivos, devem começar no próximo ano.
“Vamos ter que tomar alguns cuidados, ela vai ter que retomar a vida sem ter tomado todas as vacinas, e vamos ter que estar atentos ao redor, para evitar que ela fique doente. Mas, são etapas vencidas, e a cada dia ela vence uma nova etapa”, comentou Adriana.
Com as primeiras doses da vacina, a menina já foi liberada para receber visitas, voltar para a escola e começar a retomar a rotina normal da idade dela. Com isso, Júlia e a família voltaram a sonhar e se preparar para a nova fase de conquistas.
“Depois do transplante, a Júlia é como um bebê que acabou de nascer. Ela está começando tudo de novo. Não via a hora de voltar para a igreja, que ela gostava muito, de ir para escola e de entrar na piscina – este último desejo vamos realizar no final de semana”, contou.
O primeiro dia de aula, após dois anos fora da escola, aconteceu na segunda-feira, 1º, na Emef “Eugênio Santos”. Professores, alunos e funcionários em geral a receberam com festa, cartazes de boas-vindas e entregaram-lhe cartinhas.
“Meu sonho de ver a Júlia aproveitar a vida como uma criança está começando a se realizar. Quero ver ela em um parque, brincando descalça na terra, e muitas coisas que ela não podia fazer. Esperamos ver ela crescer e viver como tem que ser, uma criança normal e saudável”, frisou.
Religiosa, Adriana diz acreditar que Deus tem um propósito para a vida de Júlia, que já pode estar sendo mostrado. Ela conta que, recentemente, pessoas diagnosticadas com câncer têm feito contato com a família e relatado terem se inspirado na história da menina para buscarem forças e lutarem contra a doença.
“Quero crescer e falar para todo mundo o que Jesus fez para mim. O médico ajudou a cuidar de mim, mas quem me curou foi o Papai do Céu. Ele é bom e me curou muitas vezes”, afirmou Júlia.
“Não queria ter passado por isso, nem que ela passasse por tanta dor, mas agradeço pelo que aprendemos, que é dar valor às coisas simples. Além disso, acredito que a história da Júlia ajude e inspire as pessoas a terem fé e esperança”, completou a mãe.
De casa nova
Com doações e eventos beneficentes realizados para arrecadar recursos, os pais de Júlia conseguiram reformar a casa da família e voltar para a moradia, que antes apresentava riscos à saúde da menina. A adaptação ocorreu durante quase dois meses e a família retornou ao imóvel no final de agosto.
Após o transplante, quando Júlia recebeu alta do hospital, a casa onde moravam ainda estava impossibilitada de receber a menina, pois apresentava mofo, rachaduras, bolor e infiltrações. Com isso, campanhas foram feitas para ajudar a família a adaptar o imóvel.
Mais de R$ 36 mil foram arrecadados para a reforma. Sensibilizadas com a causa, muitas pessoas fizeram doações espontâneas, que contribuíram com a ação. Um jogo beneficente com ex-jogadores da seleção brasileira e um bingo promovido por moradores da cidade e amigos da família completaram a receita.
Segundo Adriana, a reforma da casa foi essencial para que Júlia pudesse continuar com o tratamento. Ela afirmou que muitas pessoas ajudaram na arrecadação.
“Pessoas que foram na minha casa, que ligaram, fizeram depósito, pessoas que nem sei de onde eram e o que fizeram, mas que nos ajudaram muito, e às quais a nossa família é eternamente agradecida”, declarou.
“Não tem dinheiro no mundo que pague ter seus filhos bem em casa e com saúde. E Deus me deu essa alegria de ter minha filha com saúde, me deu novamente a vida dela. As demais coisas foram todas acrescentadas”, ressaltou.
Adriana acrescenta que, em nenhum momento, pediu ajuda. “As coisas aconteceram espontaneamente. As pessoas se comoviam com a história e nos ajudaram. Não tenho nem como agradecer, só Deus para pagar tudo isso”, concluiu.