Talvez o aspecto mais impressionante da notícia publicada na semana passada sobre o Núcleo de Apoio e Assistência ao Paciente com Câncer seja a condição enfrentada pelos familiares e demais pessoas próximas aos pacientes.
Conforme afirmado pela secretária municipal dos Direitos Humanos, Família e Cidadania, Elaine Miranda, em muitos casos, esses indivíduos acabam sofrendo até mais que os próprios adoecidos – a princípio, emocionalmente, porém, depois, até fisicamente.
Ela acentua: “Pesquisas mostram que uma boa parte dos cuidadores de pacientes com câncer, principalmente em fase terminal, acaba morrendo antes do próprio doente”.
“Isso porque o paciente está sendo assistido, mas o cuidador fica em torno das necessidades do outro e, às vezes, deixa de fazer coisas básicas, como cuidar da saúde própria”, explica Elaine.
Por esse motivo, a secretaria iniciou, em janeiro deste ano, o programa “Cuidando de quem Cuida”. A ação é voltada aos familiares e, principalmente, aos cuidadores dos pacientes em tratamento contra o câncer.
O programa oferece apoio psicológico e social e surgiu a partir das queixas sobre as angústias de se lidar com a doença de alguém próximo, com o futuro incerto, e, ainda, de se cuidar da própria saúde e de assuntos e necessidades básicas diárias.
Com o programa, são realizadas visitas nas residências das famílias cadastradas. Uma assistente social do departamento vai até as moradias, conversa com os familiares, identifica as dificuldades e despacha as demandas aos departamentos competentes, conforme a necessidade.
“Por ficarem sobrecarregados com a rotina de cuidados, muitos não têm tempo de marcar um médico, não conseguem sair de casa para nada, deixam de agendar exames de rotina ou de matricular as crianças na escola”, ressalta a secretária.
“A assistente social identifica as demandas e aciona os departamentos que podem resolver a situação da pessoa, na Saúde, Educação, Social e outros”, informa Elaine.
O serviço, por enquanto, é oferecido pela SDHFC para as famílias dos 366 pacientes tatuianos em tratamento no HAC de Jaú – já cadastrados na secretaria devido ao atendimento da Capec.
“Como temos os cadastros, já pedi para a assistente social fazer as visitas. Inauguramos a casa em setembro do ano passado e, vendo a dificuldade dos cuidadores, decidimos montar esse projeto de apoio. O tratamento humanizado é acolher toda a família, não somente o paciente”, reforça a secretária.
A iniciativa, acima de quaisquer interpretações de conotação política – vez que a campanha de 2024 parece já estar ganhando tela no município – é simplesmente ótima! Denota sensibilidade e, em paralelo, ação prática a favor do bem-estar de pessoas profundamente sofridas.
Da mesma maneira, merece reconhecimento e total apoio a Capec (Casa de Apoio aos Pacientes com Câncer), em Jaú, também em superioridade a partidarismos, até por somar esforços praticamente unânimes dos Poderes Legislativo e Executivo – este, inclusive, em gestões que, embora formalmente dentro de um mesmo mandato, já se propagam em sintonias distintas.
Os benefícios garantidos pela Capec aos pacientes e familiares são incontestes, aliviando-os em muito nas dores e nos transtornos gerados pelo tratamento na busca pela cura.
Isso, claro, além do conforto de não precisarem mais se submeter às exaustivas viagens “bate e volta” de um dia todo até o hospital de Jaú – as quais se configuravam em verdadeiras maratonas, impostas a quem já enfrenta severo problema de saúde. No momento, a casa atende a 366 tatuianos!
Agora, portanto, o Núcleo de Apoio e Assistência ao Paciente com Câncer vem para complementar uma série de iniciativas de humanização a abraçar enfermos e familiares com um tanto mais de conforto, ânimo e esperança de vitória contra a doença.
O novo dispositivo deve ser inaugurado em Tatuí ainda no primeiro trimestre, visando garantir acesso, de forma centralizada, aos serviços e atendimentos voltados às pessoas em tratamento.
O espaço será administrado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, em parceria com a de Direitos Humanos, Família e Cidadania. A unidade fica na rua Martiniano Azevedo, 25, centro, em imóvel que passa por reforma.
De acordo com a secretária da Saúde, Roseli Mochi, pelo menos 600 tatuianos poderão ser atendidos na unidade. São pessoas que receberam o diagnóstico de câncer e fazem tratamento contra a doença em hospitais de Sorocaba, Itapeva, Jaú e Botucatu.
Roseli explica que a unidade oferecerá um trabalho de saúde ambulatorial, especializado na assistência ao paciente, contando com serviços sociais, farmacêuticos (para a disposição de todos os insumos e medicamentos), monitoramento e acompanhamento, além de consultas com nutricionista e psicólogo.
Segundo ela, a intenção é disponibilizar a maioria dos atendimentos de saúde e assistenciais em um só lugar, “facilitando o acesso aos serviços e oferecendo mais conforto aos pacientes, muitas vezes já debilitados pelo tratamento”.
O espaço contará com um coordenador, um assistente social, um enfermeiro, um técnico de enfermagem, um estagiário, um motorista, um nutricionista, um psicólogo e um atendente, para suprir todas as demandas.
“Se o paciente chega com uma receita, é feita a dispensa do medicamento na mesma hora; se ele precisa de um exame, a assistente social já liga na unidade e marca; isso para que ele não precise ir em dois ou três lugares para resolver as coisas”, salientou a secretária.
“Nós vimos a necessidade dos pacientes. Eles vão para os hospitais, fazem quimioterapia, saem de lá debilitados e ficam correndo atrás das unidades, às vezes, até passando mal na rua. Então, o núcleo seria uma central de atendimento. Ali, ele já vai ter tudo o que precisa”, garantiu Roseli.
Elaine ainda reforçou que a intenção do núcleo é “garantir o atendimento humanizado às famílias e aos pacientes, oferecendo uma atenção diferenciada e centralizada”.
“A ideia é oferecer tudo o que o paciente precisa, de diversos departamentos, em um só lugar, evitando que o doente ou o cuidador tenha que ficar indo atrás dos serviços, que muitas vezes ficam separados e longe um do outro”, argumentou ela.
No espaço, além de acolhimento e consultas, o paciente encontrará suplementos, materiais para curativos, fraldas e medicamentos, entre outros itens de saúde e insumos indicados para o tratamento oncológico.
A secretária explica que alguns serviços serão realizados na própria unidade, e o que não estiver disponível, como exames e outros, o núcleo terá autonomia para agendar e encaminhar os pacientes para a rede de saúde e à assistência social.
Outro serviço oferecido será o acompanhamento do tratamento oncológico e pequenos procedimentos, como curativos. O núcleo também estuda a possibilidade de fazer a retirada dos clipes metálicos de acesso – colocados de forma cirúrgica nos pacientes em tratamento com radioterapia.
Novamente, muito distante de questões partidárias, “cuidar de quem cuida”, do “próximo”, é uma política extraordinária – talvez, a melhor, com benefícios para todos: políticos de profissão e população em geral.