O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Tatuí tem sentido as consequências decorrentes da crise econômica do pais. A organização, que objetiva atender à demanda da indústria local e ao programa Jovem Aprendiz, encontra dificuldades para inserir os adolescentes, de 16 a 18 anos, no mercado de trabalho.
“Estamos em uma fase em que a indústria não está lá grandes coisas. Mas, havia a necessidade de colocarmos a escola (Senai) em funcionamento. Então, começamos mesmo em um período que, na realidade, não seria de entrada de alunos”, contou José Roberto Rodrigues, representante da Fumague (Fundação “Manoel Guedes”) e que atua como gestor interino do Senai.
“Se for pensar somente na contratação de Jovem Aprendiz, no contexto atual, o cenário local não permitiria que isso acontecesse. Não está favorável para isso porque a indústria não está aquecida”, frisou o diretor do Departamento Municipal da Indústria, Marcos Roberto Bueno.
Para atender ao Jovem Aprendiz, as empresas fazem um contrato com o centro de qualificação, tendo a opção de escolher o termo de compromisso de quatro ou oito horas.
No primeiro caso, durante esse período, o aluno dedica-se aos estudos. Com o contrato de oito horas, esse tempo é dividido, sendo quatro horas no Senai e as demais na indústria.
Mas, de acordo com Sandra Marisa Cecyn Bertrami, gestora do Senai de Tatuí, nenhum contrato de oito horas foi realizado, consequência do quadro financeiro nacional.
Bueno disse que a compressão econômica prejudicou a funcionalidade dos trabalhos do Senai na cidade. “Estamos vivendo um momento industrial sem precedentes nos últimos 20 anos. A retração da economia é uma engrenagem. Parou a economia de venda de veículos, e Tatuí tem predominância industrial voltada para o setor automotivo. Então, afetou diretamente nosso serviço”.
Ainda de acordo com o diretor, para se manterem, as empresas dão prioridade a não reduzir o quadro de funcionários e evitam programas que assistam aos jovens ou ao público PCD (pessoa com deficiência).
Para que o projeto de implantação do Senai fosse realizado, segundo o diretor, foram encaminhadas cartas de adesão às empresas como forma de checar se haveria oportunidade para atender aos jovens. “Existia demanda, levou-se um ano para nós implantarmos o Senai e, nesse ínterim, a crise afetou diretamente o setor produtivo”, lamentou.
Apesar disso, Bueno diz acreditar que instituir a escola, neste momento, foi uma estratégia de tentar ‘recuperar’ o mercado.
“Estamos visando um saldo positivo, vamos colocar para funcionar (a escola), porque nós entendemos que o nosso setor industrial é forte, é o segundo maior da Região Metropolitana de Sorocaba, só perde para ela. Então, não vamos tentar reverter esse cenário”, ressaltou.
José Norbal de Moraes Marques, presidente da Fumague, diz concordar com o momento em que a ação foi tomada. “A crise não é perpétua, não vai durar para sempre, são ciclos, e a hora que vencer esse ciclo, os jovens já estariam preparados para assumir novos postos de trabalho”, afirmou.
Para tanto, Bueno argumenta que o número de contratações no primeiro semestre de 2015 foi maior se comparado ao segundo semestre de 2014. Segundo ele, entre janeiro e junho, quase 300 novos postos de trabalho foram abertos, época em que a crise se acentuou.
“Pelo que conversamos com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), com o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e representantes das indústrias, no segundo semestre do ano que vem, as coisas começam a se normalizar”, completou.
Para essa primeira fase do Senai, 32 vagas foram disponibilizadas à comunidade. As aulas serão no Centro de Formação Profissional “José Ferreira Coelho”, localizado na rua Maneco Pereira, 619.
Realizado em parceria entre a Femague e a Secretaria da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, o curso tem início nesta segunda-feira, 27, em períodos diferentes.
As aulas de mecânica ocorrem das 8h às 12h, e as de elétrica, das 13h às 17h, ambas de segunda a sexta. Com carga horária de 800 horas, a formatura da primeira turma está prevista para acontecer em junho de 2016.
O Senai, que, nos últimos oito anos, teve quatro endereços diferentes, só foi concretizado com o trabalho em conjunto dos três órgãos. A Femague é responsável pela gestão dos recursos (despesas e compra de equipamentos, por exemplo) do Senai.
A Prefeitura, por sua vez, viabilizou a entrada da escola no município, contratando os serviços pedagógicos. Já a instituição educacional foi incumbida de trazer o ensino.
“Nós somos um centro de treinamento que o Senai está assumindo. A partir de determinado momento que ele solidifique o trabalho dentro daquele centro, aí, será montada uma escola Senai. Isso aqui é um embrião dessa escola”, explicou Simeão José Peixoto Sobral de Oliveira, diretor administrativo da Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes”.
A escolha de abertura dos cursos nessas áreas de atuação, segundo Sandra, deu-se pela procura das empresas por esse tipo de mão de obra.
“Mecânica geral e elétrica geral são os que têm uma demanda forte, e não tem profissional na área. Então, são os cursos que, realmente, têm essa necessidade do aprendizado. Houve pedidos da indústria, e nós obedecemos à demanda dela, nunca da população”, esclareceu.
Neste ano, apenas duas turmas, com 16 alunos cada, terão a oportunidade de ingressar nos cursos. Porém, conforme Sandra, haverá novas vagas e cursos.
A previsão é de que haja abertura de processo seletivo, em setembro, para os cursos de mecânica geral, elétrica geral e solda. A intenção também é ampliar o número de vagas e criar duas turmas para cada período (manhã e tarde).
Das aulas de mecânica e elétrica, podem participar pessoas entre 16 e 18 anos. Já para solda, é recomendável que os interessados tenham, no mínimo, 18 anos, devido à periculosidade do trabalho.
Porém, não só as qualificações relacionadas ao programa Jovem Aprendiz serão desenvolvidas na instituição. Conforme Sandra, o projeto visa criar laboratórios para cursos de mecânica de motos e logística, entre outros.
“Nós queremos a escola inteira funcionando, não só dois cursos e pronto; nós pretendemos ter muitas opções, até de costura, se houver demanda da indústria. O Jovem Aprendiz é a razão de o centro existir, mas a escola Senai tem um plano de recurso muito maior”, afirmou.
Conforme Rodrigues, a implantação do centro profissional em Tatuí teve como modelo as bases iniciais das escolas do Senai em Boituva e Iperó, que também abriram as portas oferecendo, inicialmente, apenas dois tipos de formação.
“No começo, fomos com a ideia de colocar seis, oito cursos, mas eles falaram ‘não’, comecem com dois e, depois, vão ampliando, para vocês terem um bom direcionamento’. Então, tanto Iperó quanto Boituva começaram assim, e eles já estão com seis cursos neste ano”, observou.
A capacidade técnica do centro é para atender 84 formandos, mas, para Bueno, não adianta formar profissionais que não serão absorvidos pelas empresas.
“A intenção é formar mão de obra qualificada e local, não é preparar para exportar, porque, aí, não faz sentido termos cursos de qualificação para mandar esse profissional para fora. O objetivo é atender à nossa realidade local”.
O secretário da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Márcio Fernandes de Oliveira, diz acreditar que uma unidade do Senai no município é importante para atender à população carente. O secretário conta que, somente no processo seletivo, mais de 200 pessoas concorreram às 32 vagas disponíveis.
“Há uma periferia forte na cidade, uma criançada que só com os estudos pode galgar uma mudança social. Com a instalação desse centro aqui, essa mudança está mais próxima deles. Isso é conquista, é progresso. Esse é o primeiro passo, a turma pioneira, mas muitas virão”, finalizou.