Criatividade marca 25ª Concurso de Natal

Da reportagem

A criatividade na confecção das redações e desenhos foi a marca dos estudantes premiados pelo 25º Concurso Artístico e Literário de Natal, promovido pelo jornal O Progresso, conforme destacaram os jurados responsáveis pela seleção dos vencedores do certame, que teve como tema: “Tatuí no Natal”.

A comissão julgadora foi formada por Kleber Vieira, Mingo Jacob, Fábio Antunes dos Santos, Jaime Pinheiro, Rafael Sangrador, Almira Porciúncula, Henrique Autran Dourado, Cristiano Mota e Leila Salum Menezes da Silva.

Ao todo, nove estudantes receberam prêmios em dinheiro, nas modalidades desenho e redação. Os trabalhos vencedores, de oito estudantes da rede fundamental de ensino do 1º ao 9º ano e de um aluno da EJA, partiram de 27 escolas da rede pública e privada.

Neste ano, a iniciativa recebeu 1.745 inscrições, distribuídas entre 1.510 desenhos e 235 redações. Não houve desclassificação, por ausência de dados que pudessem identificar os autores.

Dentro da categoria desenho, 394 trabalhos correspondem a alunos do 1º e 2º ano. O grupo foi selecionado por Kleber Vieira (Binho Vieira). Para ele, a aluna Anna Flávia S. R. Pires, estudante do 2º ano do Colégio Anglo, trouxe uma releitura da Capital da Música.

“Ela desenhou um caminho muito criativo, feito com teclas de piano, em curvas, onde bonecos de neve e soldadinhos de chumbo, da Vila de Natal de Tatuí, transitam junto ao canto da árvore de Natal iluminada”, descreve.

Mingo Jacob avaliou 548 desenhos de alunos de 3º e 4º ano. Para selecionar o vencedor, ele aponta que, além da criatividade, considerou a qualidade artística e a coerência com o temo proposto pelo concurso.

O prêmio do grupo correspondente ficou com o estudante Hyan Marco Fouzer Fernandes, do 3º ano da Emef “Professora Sarah de C. Vieira dos Santos”

O artista plástico observou que os trabalhos recebidos nesta edição do certame retrataram a influência do marketing nas festas natalinas. Para ele, o que mais chamou a atenção foi a inclusão de desenhos que remetem ao “Caminhão da Coca-Cola”.

“Sem entrar no mérito de valor, isso mostra a força da propaganda nas cabecinhas infantis. O que, de certa forma, acaba tirando um pouco da tradição natalina nos dias de hoje, o que não deixa de ser lamentável”, pondera.

No grupo do 5º e 6º ano, a criatividade também esteve presente. O jurado Fábio Antunes dos Santos, responsável pela seleção dos 458 desenhos recebidos nesse grupo, destaca ainda o “empenho dos pequenos artistas” para a confecção das obras.

“Chamou-me a atenção o fato de que os desenhos abordaram o tema natalino em diversas versões: as vezes, cristãos; outras, como Papai Noel; e também teve vários que retrataram locais tradicionais da cidade”, aponta.

“Também percebi a ausência de violência e armas que observei em outras edições. As crianças e suas professoras de arte estão de parabéns!”, acentua o jurado.

O publicitário explica que, para selecionar o vencedor da categoria – Brayan Barbosa de Souza, do 6º ano do Nebam “Ayrton Senna da Silva” -, considerou a criatividade e a simplicidade da ideia.

“Ele fez um simpático tatuzinho – símbolo da cidade – se abrindo em formato de bola, com chapéu de Papai Noel. Além disso, observei que o vencedor tem um traço de quem leva jeito para desenho”, comenta.

A referência à cidade também é um dos critérios avaliados pelo cenógrafo e artista plástico Jaime Pinheiro. Ele ficou responsável pela seleção dos trabalhos do grupo 7º, 8º e 9º ano, e conta que ainda observou a qualidade do desenho e a habilidade do participante nos 55 desenhos inscritos na categoria.

O jurado – que avalia os trabalhos desde a primeira edição do concurso – ainda salienta que, a cada ano, os desenhos estão mais elaborados. “Percebo que os trabalhos estão melhorando a cada ano, e teve também o empenho dos professores, além da habilidade e criatividade do aluno vencedor”, acentua o cenógrafo.

O trabalho escolhido por ele é de Luís Henrique Porfírio, do 7º B da Escola Estadual “José Celso de Mello”. Para Pinheiro, os traços do autor chamaram a atenção. “Dá para ver que o aluno tem bastante habilidade e que leva jeito para o desenho”, completa.

Ainda em desenho, foi premiado o aluno da Educação de Jovens e Adultos, Ezequias Cezar, do 7º ano da EE “João Florêncio”. Esta é a primeira vez que o concurso recebe trabalhos da EJA, que somaram 70 inscrições. Os desenhos foram analisados pelo artista plástico Rafael Sangrador.

O vencedor retratou a desigualdade social por meio de imagens que remetem ao Natal em duas realidades paralelas e, conforme Sangrador, “foi o que mais se aproximou do verdadeiro sentido do Natal”.

“Ele (o autor) dá uma atenção à realidade da sociedade atual. Isso realmente tem um valor importante. Nestas datas, nós deveríamos ter este aspecto mais fraternal. Acho que isso é o que retrata este período festivo e vem se perdendo”, pontua.

“Percebi que, nos desenhos, acontece muito a repetição de imagens que retratam bonecos de neve, em uma cidade que não tem neve, Papai Noel, entre outros. Então, escolhi algo que retrata mais a humanidade do momento e um sentimento de fraternidade que está se perdendo”, acrescenta.

Na categoria redação, a professora Almira Porciúncula selecionou o texto da aluna Rafaela Machado Sensão, do 2º ano do Colégio Objetivo. O grupo correspondente (1º e 2º ano) recebeu 57 trabalhos.

A jurada conta que, nos textos das crianças, considera mais a criatividade e a coerência com o tema do que os erros ortográficos e gramaticais. “Normalmente, faço mais uma verificação do uma correção. Nesta idade, o que importa é eles saberem se expressar de forma clara”, diz a professora.

Ela argumenta que o concurso “presta um serviço de valor para a sociedade, por incentivar o hábito da leitura e, consequentemente, o da escrita, que estão diretamente atrelados”, e destaca que, pela qualidade dos trabalhos apresentados, percebeu maior dedicação dos participantes.

“Gosto muito deste concurso e me dedico profundamente na hora de fazer a seleção. Acho que, ano a ano, o nível vai melhorando, e sinto que os alunos estão sendo mais incentivados, além de ter mais orientação por parte dos professores”, avalia Almira.

Seguindo na mesma linha, o professor Henrique Autran Dourado detalha os motivos que o fizerem escolher a redação do aluno Lucas Hiro Nagai Gyotoku, estudante do 4º ano do Colégio Objetivo, entre os 75 textos analisados por ele, dentro do grupo 3º e 4º ano.

“O menino criou uma alegoria com um personagem fictício (a quem apelidou de Fagner), do qual ele mesmo, aparentemente, se veste, como um alter ego. É interessante como um aluno da idade dele consegue observar, em seu meio, a cidade de Tatuí (como ademais no resto do mundo acontece), que o Natal, dada a natureza de celebração de todos os anos, frequentemente acaba vendo deixada de lado por muitos a razão fundamental de existir”, comenta.

Autran ainda explica que, em meio a questionamentos, “o aluno faz uma reflexão sobre a busca do sentido da palavra Natal e mostra que a personagem somente foi compreender o significado da data como festa de grandes dimensões, em sua dúvida de vida – perguntas sem respostas -, depois da trajetória de Fagner até os 27 anos, já adulto, cursada a escola e a faculdade”.

“Ele não dispensa recursos com efeito de aliteração, como quando, em legítima expressão de dúvida, tenta se lembrar da palavra: “Netal, Nastal, Nistal”… até que, de súbito, vem-lhe a palavra maior, plena de significado: Natal”, menciona.

Para o professor, o menino também demonstrou, por meio da redação, “que o objetivo da festa celebrada em 25 de dezembro, e tudo o que se vê no Natal, é o nascimento de Cristo, o Salvador, que traz real sentido e resposta à sua grande dúvida filosófica e literária, em sua dialética particular”.

Parabenizando o autor, Autran assevera que, na redação, o menino não se esquece, ao final, de ser criança. “Felizmente: lembra-se de que junto com o Natal vêm os presentes”, orienta.

“Aos nove anos de idade, Lucas é um menino cheio de ideias, criativo, que merece ser estimulado em seu dom. E se ele ainda não tem vocabulário para compreender o que digo, pelo seu talento como jovem autor não seria aos 27 – como nos contou em sua redação sobre a descoberta do sentido do Natal por Fagner -, certamente, bem antes disso ele poderá, com segurança, ler criticamente estas palavras sobre seu texto”, completo o jurado.

Já o jornalista Cristiano Mota – que foi jurado pelo segundo ano consecutivo – analisou os trabalhos do grupo 5º e 6º ano, que recebeu 83 redações e teve como vencedor o estudante Luiggi de Campos Fragnani, do 5º ano do Colégio Anglo.

Mota sustenta ter ficado surpreso com o conteúdo das redações, ressaltando que os textos deste ano trouxeram muitas referências a Tatuí. “São menções que não ficaram apenas no nome da cidade ou nos títulos que ela possui”, observa.

Ainda conforme o jornalista, além de descreverem como comemoram o Natal em família, o que comem na ceia e sobre os presentes que ganham ou gostariam de ganhar, as crianças pontuaram fatos, programação e espaços públicos relacionados às comemorações do Natal na cidade.

Segundo ele, o Pinheirão da Praça da Santa (Martinho Guedes) é o local mais mencionado pelos estudantes, “denotando, claramente, a orientação dos professores”.

Mota conta que muitos estudantes incluíram datas e curiosidades sobre a história da árvore. Entre eles, o que teve a redação escolhida como vencedora.

“No trabalho, o ganhador não só fez menção ao Pinheirão. Ele citou a fama da árvore na região; a tradição de enfeitá-la para as celebrações do Natal; e o que ela representa para os tatuianos. O ponto de destaque, e que valeu a premiação, é que o aluno do 5º ano escreveu um texto coerente, coeso e criativo”, enfatiza.

Mota ainda acentua que a redação foi escrita em forma de poema, em versos livres, “um gênero dificílimo, mas fortemente trabalhado em 2019”. “Do ano passado para este, notei um crescimento neste estilo de escrita – da ordem de 20%. Contudo, escolhi o trabalho não pelo gênero (se poema, descrição ou narração), mas pela criatividade”, revela.

Para o jornalista, o vencedor produziu uma redação com começo, meio e fim. Além disso, Mota indica que o aluno conseguiu juntar, no texto, o “sentimento trazido pelo Natal, de confraternização e amor ao próximo, e o maior símbolo natalino de Tatuí: o Pinheirão”.

Já nas demais redações, Mota menciona que as crianças citaram recorrentemente os enfeites instalados nas casas e lojas da cidade, a presença do Papai Noel e da Mamãe Noel, a Praça da Matriz, o MHPS (Museu Histórico “Paulo Setúbal”), o Conservatório e iniciativas como distribuição de balas e o desfile do caminhão da Coca-Cola, com o “bom velhinho” e o urso polar.

“Embora similares, estas menções demonstram que os estudantes estão completamente inteirados sobre os pontos culturais de Tatuí, o que é essencialmente importante para uma cidade que almeja ser elevada a estância turística”, considera o jornalista.

A modalidade redação ainda recebeu 20 trabalhos no grupo do 7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental, analisadas pela professora Leila Salum Meneses da Silva. A vencedora da categoria foi a aluna Giovana Cunha dos Santos, do 8º ano do Colégio Anglo.

A premiada tem aula com a professora Mariana Fogaça Calviño, que, atualmente, detém um “recorde absoluto” no município: é a docente com maior número de estudantes premiados no Concurso Literário “Paulo Setúbal”, no qual Giovana acabou de ganhar menção honrosa, nesta edição de 2019.

Já para a professora veterana, Leila, esteve muito visível o aprimoramento dos trabalhos, denotando tanto o empenho dos estudantes quanto o apoio e a orientação dos mestres.

Particularmente no caso de Giovana, conforme a professora Leila – referência na produção e crítica da literatura em Tatuí -, a “impressiona a criatividade da aluna, nos fazendo acreditar em sua história, como se, realmente, tivesse vivenciado tudo aquilo”.

“Certamente, se seguir com todo esse talento e, ainda, com a apaixonada educação que está absorvendo na escola, pode esperar por um futuro muito promissor nas letras”, conclui a mestre Leila.