Cresce ocupação de área na vila Angélica





Cristiano Mota

Ocupantes improvisam moradia e em áreas que sofreram nova demarcação

 

A área pertencente à Prefeitura ocupada por pessoas que residiam na vila Angélica aumentou desde a semana passada. Em quase uma semana, o número de famílias que mantêm barracos no terreno situado no mesmo bairro passou de 70 para 80.

Os dados são dos próprios ocupantes. Na tarde de segunda-feira, 15, eles informaram a O Progresso que precisaram fazer uma nova remarcação de terras para abrigar os “recém-chegados”. Também disseram que não pretendem deixar o espaço.

Eles afirmaram que estão esperançosos que a Prefeitura ceda o terreno para construção de moradias. Por fim, disseram que, caso sejam obrigados a sair, passarão a ocupar o trecho urbano da rodovia Mário Batista Mori (SP-141) em sinal de protesto e por conta de desespero. “Não temos para onde ir”, disse Rosa da Silva.

A dona de casa integra o movimento – cujos integrantes não querem ser tratados como sem-terra e rejeitam o título de invasores – desde o início. O grupo de moradores da vila Angélica entrou no terreno pela primeira vez no dia 3.

Desde então, ela passou a reforçar a moradia provisória. Com ajuda dos familiares, Rosa limpou a área na qual está vivendo e montou uma moradia improvisada. “Eu morava em uma casa alugada, aqui na vila Angélica, mesmo”, disse.

Sem condições financeiras de renovar o contrato, ela disse não ter visto outra solução senão partir para a ocupação. “Na verdade, meu aluguel estava para vencer. Apareceu essa oportunidade de tentar o terreno próprio e eu já sabia que a proprietária da casa não ia renovar o contrato, aí, saí”, justificou.

Para tentar obter garantias de que permaneceriam no espaço, as pessoas que estão no terreno foram à Câmara Municipal. Uma parte dos ocupantes acompanhou sessão ordinária. O grupo também procurou as autoridades para solicitar ajuda.

O principal pedido diz respeito à doação de água potável para consumo e para preparo de alimentos. As pessoas também solicitaram fraldas e leite para as crianças.

Conforme a ocupante, na Câmara, representantes da Prefeitura teriam se colocado à disposição das mulheres. “Na quarta-feira (dia seguinte à sessão), 12 mães foram até o local indicado e não encontraram a pessoa que prometeu ajuda. Disseram que ela não estava lá e tinha ido para Sorocaba”, comentou.

No sábado, 13, a assistência social da Prefeitura compareceu ao acampamento. Acompanhada dos secretários municipais de Governo, Segurança Pública e Transportes, Onofre Machado da Silva Junior, e da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Márcio Fernandes de Oliveira, a equipe tentou realizar um novo cadastro das famílias, para fins de atualização.

Contudo, Rosa disse que os ocupantes não aceitaram informar dados pessoais. “Primeira coisa, para quê mais um cadastro? Nós já fizemos três”, argumentou.

A dona de casa mencionou que as famílias que invadiram o local não têm condições de arcar com financiamentos de moradias. Ela disse que elas não puderam adquirir imóvel popular por terem restrição de crédito. “Muitos não ganham de três a seis salários e têm o nome sujo. Por isso, resolvemos entrar”, adicionou.

Caso a Prefeitura consiga obter liminar para reintegração de posse, Rosa antecipou que as pessoas deverão ir “para o meio do asfalto”. Segundo ela, a maioria das famílias que estão no local “já entregou as casas onde residia de aluguel”.

Maria Célia de Oliveira está entre as que optaram por “tentar a sorte”. A mulher tem 63 anos e relatou que carece de dinheiro para poder viver sob um teto de alvenaria.

“Eu até fui ver uma casa para alugar, mas a dona falou que queria R$ 600. Quando meu genro falou que ajudava, voltei. Ela disse que queria R$ 2.000 de entrada e um fiador que tivesse menos de 60 anos. Onde eu vou arrumar isso?”, indagou.

Maria Célia ocupa um dos barracos montados em trecho da rua Virginia Rosa de Moraes. A ocupação abrange, ainda, uma parte do imóvel da rua Georgina Pieroni Lincoln. O terreno em formato de “L” circunda uma madeireira.

Ela afirmou que precisou deixar a casa em que morava, com a filha, por não se sentir confortável. “Sei que sou um estorço na vida da minha filha, e que ela já tem a família dela com o marido e os filhos e quer ter privacidade”, disse.

Conversando com conhecidos do bairro, Maria Célia tomou conhecimento da ocupação e decidiu se juntar ao movimento. Ela contou que a maior dificuldade das famílias é com relação à água. “Eu prefiro mil vezes ter água e não ter a luz, porque sem água ninguém vive e a luz dá para improvisar”, falou.

Sem água, os ocupantes dizem que precisam usar a criatividade para tomar banho e cozinhar. Rosa da Silva afirmou que a situação fica ainda pior para quem tem doenças. “Tem duas pessoas com câncer vivendo aqui, além de uma mulher que está em dieta (deu à luz a uma criança, recentemente)”, afirmou.

Rosa mencionou que os ocupantes aguardam presença do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu. Conforme ela, as pessoas querem ter a oportunidade de explicar os motivos da invasão e pedir a colaboração dele para regularização.

A dona de casa também disse que o grupo vem recebendo ajuda para se manter no espaço. De acordo com ela, a colaboração vem na forma de doação de frutas, verduras e legumes, marmitas e até mesmo colchões. Estes últimos, doados por pessoas ligadas a Casa Apoio ao Irmão de Rua “São José”.

Os ocupantes pedem contribuição para quem puder doar mantimentos e eletrodomésticos. Entre eles, um fogão para preparo de alimentos em uso comunitário.

As mulheres alegam que os ocupantes não possuem condições financeiras para comprar esse tipo de equipamento. Conforme Rosa, muitos são catadores de laranja e de materiais recicláveis. Alguns deles têm problemas de saúde e não conseguem tratamentos gratuitos na unidade de saúde do bairro.

Todas essas dificuldades, somadas, impediriam as pessoas de se realocarem caso a Justiça conceda liminar favorável à Prefeitura. Rosa informou que se o grupo tiver de deixar o terreno, ele deve montar acampamento “no meio da pista”, da rodovia SP-141. “Vamos sair daqui e atravessar para lá”, declarou.