Da reportagem
A oitava edição da Feira do Doce, prevista para ocorrer neste mês de julho, está suspensa e pode não ocorrer em 2021. As informações são do secretário do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli.
Conforme o gestor da pasta, a decisão leva em conta as determinações estaduais e municipais de prevenção ao contágio pela Covid-19 e a situação epidemiológica do DRS (Departamento Regional de Saúde) de Sorocaba, no qual Tatuí está inserida.
“Um evento como a Feira do Doce, no momento, está fora de cogitação. Ainda estamos na fase mais restritiva do Plano São Paulo e com um cenário preocupante quanto à lotação dos hospitais de Tatuí e da região. Por essa situação, acho que não dá para fazer nada neste ano, mesmo que em outro mês”, afirmou o secretário.
Este, portanto, pode ser o segundo ano em que a feira – considerada a maior do interior paulista voltada à venda de doces – é cancelada devido à Covid-19. Antes da pandemia, em março de 2020, a intenção era manter a tradição e realizar o evento entre 9 e 12 de julho (quinta-feira a domingo).
A abertura seria realizada no feriado estadual, data em que é celebrada a Revolução Constitucionalista de 1932. Contudo, devido à pandemia, a secretaria se reuniu com a Aprodoce (Associação dos Produtores de Doce) e a ACE (Associação Comercial e Empresarial de Tatuí) e decidiu adiar o evento para setembro.
Pela nova definição, a feira teria início no dia 4 e encerramento no dia 7 – feriado do Dia da Independência, mas, novamente, não houve melhora na situação epidemiológica e a organização decidiu pelo cancelamento do evento em 2020 e já anunciando mudanças para 2021.
Na ocasião, a intenção era dividir o evento deste ano em dois finais de semana de julho: entre os dias 8 e 11 (quinta-feira a domingo) e de 16 a 18 (sexta-feira a domingo), sempre das 10h às 22h.
Sinisgalli informou que a prefeita Maria José Vieira de Camargo havia decidido aguardar até o limite do prazo para que a feira pudesse ser promovida ainda em 2020. No entanto, o secretário destacou a necessidade de pelo menos dois meses para organizar o evento.
Conforme o titular da pasta, com a não realização da feira em setembro, ela poderia ser remarcada para novembro. Porém, foi entendido que haveria dificuldades devido às eleições municipais, e ainda descartou-se dezembro, por conta do Natal e da possibilidade de chuvas.
“No ano passado, nós (a organização) ainda acreditávamos que a feira poderia ser feita, e fomos adiando e esticando ao máximo possível o nosso calendário, para tentar fazer o evento. Neste ano, estamos trabalhando diferente”, informou Sinisgalli.
Ele disse que, antes do cancelamento do evento do ano passado, diversas possibilidades foram analisadas, como realizá-lo no formato “drive-thru” ou em outro local. Entretanto, a sugestão acabou descartada, pois descaracterizaria a Feira do Doce.
Para este ano, o secretário aponta existirem projeções, da Secretaria de Turismo, indicando uma retomada no setor para novembro ou dezembro.
“Já temos a parte documental toda pronta, o trabalho interno foi feito e, quando tudo voltar ao normal, é só soltar o edital e abrir a inscrição. Porém, novamente, vem a questão do tempo para a organização do evento e a inviabilidade de fazê-lo nos últimos meses do ano, como ocorreu no ano passado”, declarou o secretário.
Para o secretário, mesmo que toda a população do estado esteja vacinada com a primeira dose contra a Covid-19, dentro do prazo anunciado (até setembro), ainda seria difícil realizar a feira neste ano.
“Uma data boa seria até outubro, a partir de novembro já é uma época mais quente. Para os doceiros, não seria interessante, até porque derrete mais o doce. Mas, estamos de olho no que a Secretaria de Turismo vem trabalhando, no calendário de vacinação e na expectativa de melhora na pandemia. Por isso, a feira ainda não está oficialmente cancelada”, informou Sinisgalli.
Para o secretário, outro fator que pode impossibilitar a realização da feira é o número de pessoas atraídas por ela. Ele disse acreditar que, mesmo com a volta dos eventos no estado, tudo ainda seja limitado quanto ao número de pessoas, para evitar aglomerações.
“Se tivéssemos uma feira do doce hoje, imaginamos a praça com 20 ou 30 mil pessoas por dia. Não é um momento para isso. A feira está incluída em grandes eventos, e acredito que, com a retomada do turismo, vamos ter a retomada dos eventos de menor porte em primeiro lugar”, comentou o secretário.
Segundo ele, por ser em uma praça pública, seria difícil controlar o acesso da população, além de ser inviável para os doceiros a venda com público limitado.
“Lógico, nós poderíamos colocar controlador de acesso, temos gradil, tudo, mas a gente não quer essa festa assim. Não seria interessante uma feira com menor público”, alegou.
Na edição ocorrida em 2019, o evento contabilizou público recorde, atraindo em torno de 96 mil visitantes em quatro dias – 6.000 a mais que no ano anterior (2018), quando cerca de 90 mil pessoas passaram pela Praça da Matriz.
A sétima edição foi considerada “a melhor da história”. Além de maior público, a Feira do Doce de 2019 movimentou cerca de R$ 840 mil. O resultado representou aumento de 35,1% no total das vendas em comparação a 2018, quando os expositores contabilizaram arrecadação de cerca de R$ 575 mil.
Conforme levantamento divulgado pela secretaria, durante a sétima edição, os expositores somaram a venda de 348.092 unidades – aumento de 45,3% em relação ao ano anterior, quando foram vendidos 190.396 doces.
Outro ponto elencado por Sinisgalli como um possível fator para o cancelamento da Feira do Doce em 2021 é a projeção de crescimento no setor de turismo, anunciada pela Secretaria de Turismo para o ano de 2022, principalmente nos roteiros do interior e mais próximos da capital.
“O secretário de turismo (Vinicius Lummertz) está sempre reforçando que, na retomada dos eventos e do turismo, as pessoas vão preferir roteiros mais próximos da capital, viajando de carro, van e pequenas turmas, em viagens de curta distância”, disse o secretário.
“Com isso, acredito muito que Tatuí e a nossa região aqui do roteiro Raízes do Interior Paulista vai ser muito privilegiada. Estamos fazendo um trabalho interno de retomada, criando vários projetos, e acreditamos que, quando houver a retomada, com as pessoas já vacinadas, haja um aumento na movimentação do setor”, acrescentou.
Sinisgalli ainda citou uma pesquisa da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que mostra que, com o passar dos meses, cada vez mais pessoas estão esperançosas por soluções para retomarem os planos de viagens.
Segundo o levantamento, que ouviu 4.700l pessoas em 11 mercados, entre 15 e 23 de fevereiro, 57% pretendem viajar em até dois meses após a chegada de um cenário mais estável para a pandemia.
A pesquisa mostra ainda que a vacinação terá peso importante na retomada. Dos entrevistados, 81% disseram que estarão mais propensos a viajar depois de vacinados.
“Estamos vendo isso nos países com maior índice de vacinação. Muitos deles já retomaram o evento e têm grande público em bares e restaurantes. Com isso, na retomada, acreditamos em um movimento de 5% a 10% maior em comparação com o período antes da pandemia”, salientou o secretário.
“Acredito que, pelo fato de o povo ter ficado muito tempo dentro de casa, muitos vão querer sair para passear, e aí poderemos ter até um público maior na Feira do Doce. Essa é uma projeção que a Secretaria de Turismo está fazendo e que eu acredito muito”, acentuou.
Sinisgalli classificou o setor de turismo como um dos mais prejudicados pelas determinações de isolamento social em virtude da pandemia durante os últimos meses, mas acrescentou: “Acredito que, para quem aguentar essa tempestade, depois vai vir a bonança”.
Além disso, o titular da pasta apontou que, se o evento realmente não ocorrer em 2021, os organizadores da feira apostarão na capacitação dos produtores de doces.
Eles também pretendem, desde o início do próximo ano, promover cursos de qualificação, por meio de parcerias entre a prefeitura, a Aprodoce e a iniciativa privada.
“A prefeita nos cobra muito em relação à qualidade dos doces e das embalagens. A cada ano, a cobrança por parte dos visitantes também é maior para mantermos um nível de excelência na Feira do Doce”, observou.
Sinisgalli indicou que a participação dos doceiros nos cursos deve somar pontos na classificação do edital de chamamento do evento.
“Na nova edição, queremos trazer mais novidades. Ainda temos a pretensão de fazer em dois finais de semana. Estamos nos preparando para uma Feira do Doce inesquecível, até para compensar o tempo em que ela ficou suspensa”, concluiu o secretário.