Cooreta precisa mudar ‘urgentemente’

 

Instalada no quilômetro 113,3 da rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127), a Cooreta (Cooperativa de Reciclagem de Tatuí) precisa mudar “urgentemente” de endereço. A indicação consta em balanço de técnicos da Prefeitura.

No documento, entregue à equipe da prefeita Maria José Vieira de Camargo no mês passado (dezembro de 2016), funcionários do Dema (Departamento Municipal de Meio Ambiente) ressaltam que o prédio atual é inadequado. Indicam, ainda, a existência de um projeto para construção de novo barracão para abrigar as atividades dos cooperados.

Para ser construída, a nova sede da cooperativa depende de captação de recursos. Em princípio, o dinheiro teria de vir do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos), órgão ligado ao CBH-SMT (Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê), após a aprovação da proposta.

Criada no segundo semestre de 2005 com o nome “Renascer”, a cooperativa funcionou pela primeira vez no prédio do antigo posto de sementes do município (Expurgo), no bairro Boqueirão. O trabalho de unir os catadores ficou a cargo da Prefeitura, após determinação expressa do Ministério Público.

A Justiça queria retirar do antigo aterro sanitário municipal (“Lixão”), atualmente desativado, as famílias que iam para o local retirar recicláveis para vendê-los.

Em fevereiro de 2008, os catadores mudaram novamente de endereço. Eles começaram a trabalhar no prédio da antiga Fersol, onde permanecem até o momento. Na época, a Prefeitura informou que a transferência ocorrera porque o primeiro imóvel não “oferecia condições adequadas aos cooperados”.

Com o mesmo argumento, técnicos do Dema recomendaram ao vice-prefeito Luiz Paulo Ribeiro da Silva uma segunda readequação das instalações. De acordo com José Vicente Alamino de Moura, os cooperados não têm condições financeiras de bancar os custos da transferência.

“Como toda cooperativa, a de Tatuí está passando por altos e baixos”, citou. Entretanto, Moura afirmou que a vantagem da cooperativa está na “logística reversa”.

Trata-se de um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial”.

Em outras palavras, a logística reversa consiste em recolher, separar e vender materiais que podem ser reaproveitados novamente em produção pelas indústrias.

Em Tatuí, além de papel, papelão, plástico e alumínio, os cooperados conseguem comercializar pneus usados. Os catadores separam, ainda, espumas – retiradas de colchões e, principalmente, de sofás –, que estão sendo revendidas. “Ela recebe pelo descarte e pelo envio adequado desses materiais”, explicou.

A experiência é considerada inédita no município, já que a Cooreta não havia estabelecido essa linha de trabalho até pouco tempo. Junto com o dinheiro, Moura ressaltou que os cooperados estão contribuindo para a solução de “um problema sério da indústria moveleira”. “A logística reversa nunca funcionou muito bem, mas estamos dando nossa contribuição”.

Na avaliação de técnicos do Dema, esse tipo de trabalho poderia ser mais bem explorado em Tatuí caso a cooperativa estivesse funcionando em outras instalações. “O nosso gargalo é que ela (a Cooreta) precisa urgentemente mudar de local. Onde está não tem a menor condição”, alertou o engenheiro.

Distante do centro da cidade, o prédio atual é considerado vulnerável. Tanto que houve registro de furtos à cooperativa no ano passado. “Lá, não há um controle. Aquele imóvel é um problema muito sério para os cooperados”, reforçou.

Moura explicou que, com a queda na arrecadação que vem sendo registrada desde o ano de 2015 – por conta da recessão da economia brasileira –, a Cooreta também não consegue manter equipamentos para a coleta como deveria. Não bastasse isso, há coletas realizadas por pessoas não cooperadas.

Em dezembro de 2016, Luiz Paulo chegou a ouvir reclamações de membros da Cooreta. “Ligaram-me dizendo que um caminhão passava no Rosa Garcia na frente deles e que pegavam todo o material reciclável”, contou o vice-prefeito.

Apesar de a “coleta clandestina” ser um problema que precisa de solução, o engenheiro agrônomo destacou que a questão não é a “mais fundamental”.

Para que a Prefeitura possa ajudar a cooperativa, Moura afirmou ser preciso transferi-la para uma área “em definitivo”. O imóvel poderia ser cedido em comodato pelo Executivo e permitiria aos cooperados captarem recursos via projetos.

Uma das propostas que permitiram à Cooreta aumentar a lucratividade é a de vinculação à usina de britagem de resíduos sólidos da Prefeitura. O Executivo mantém, no Jardim Gramado, uma área na qual faz o processamento de materiais (principalmente concreto) para serem reutilizados.

A proposta apresentada pelo vice-prefeito é a de aproveitar os cooperados para o trabalho de separação dos materiais recicláveis dos inservíveis (que precisam ser descartados por não poderem ser reaproveitados).

Luiz Paulo explicou que os associados poderiam separar os restos de cimento dos ferros, que não podem ser processados pelos equipamentos adquiridos pelo município.

Dessa maneira, materiais como plástico, isopor e papelão poderiam ser direcionados à cooperativa. Os restos de cimento ficariam na usina de britagem.

A Prefeitura cogitou transferir a Cooreta para o prédio do antigo matadouro (interditado desde 2013 por falta de licença de operação e por questões ambientais). De acordo com o engenheiro agrônomo, o projeto “não vingou” por conta de um processo envolvendo os proprietários do frigorífico.

Em 2014, o Executivo apresentou, para o Fehidro, uma nova proposta. Dessa vez, prevendo a construção de barracão em um terreno no Distrito Industrial 1 (próximo à Ceagesp – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo).

Segundo Moura, o projeto já foi aprovado por agentes técnicos do fundo e aguarda apenas a liberação de assinatura de contrato.

Os planos são de construir, no imóvel, pelo menos dois barracões, sendo um para a separação de materiais recicláveis e outro dedicado à logística reversa. “Essa área poderia ser somente para eletroeletrônicos”, afirmou o engenheiro.

Mais projetos

A Prefeitura aguarda a liberação de recursos do Fehidro para colocar em prática outros três projetos. As propostas dizem respeito à implantação de ecopontos, medidas que concluirão o processo de encerramento do antigo aterro sanitário municipal e a autorização da abertura de área de descarte de inertes.

De acordo com Moura, os ecopontos poderão auxiliar o município a reduzir os despejos de detritos de construção civil em áreas irregulares. Em Tatuí, um estudo divulgado pelo Dema apontou a existência de 32 pontos de despejo de lixo.

O departamento também pleiteou recursos para viabilização das chamadas “medidas mitigadoras”. São ações adotadas com objetivo de eliminar efeitos causados pelo impacto ambiental no terreno do extinto “Lixão” municipal.

A área situada à margem da estrada municipal Moisés Martins (que dá acesso ao distrito de Americana) foi explorada pelo município por, aproximadamente, 20 anos. Com a desativação, o Executivo ficou obrigado a realizar ações de recuperação do terreno. Somente o projeto teve o custo de R$ 400 mil.

O Executivo estima, por alto, que seja preciso investir perto de R$ 5 milhões para a realização de todas as ações necessárias à recuperação da área.

O valor inclui investigação ambiental completa, controle de gases, de chorume e de água pluvial. “É algo que não vamos poder fugir de fazer”, disse Moura.