Contação com estreia no município ‘brinca com sabor e abraça cultura’

Trabalho de Adriana Fonseca é inspirado em textos de Ivan Camargo

Adriana Fonseca traz ambiente rural para contação focada na tradição caipira (foto: divulgação)
Da reportagem

“Neste Buraco tem Tatu, Sim, que Eu Ouvi!” é o mais novo trabalho da atriz Adriana Afonso com estreia no município. O espetáculo, uma contação de estória inspirada nas obras do escritor e jornalista tatuiano Ivan Camargo, será apresentado pela primeira vez na noite deste sábado, 28, no MHPS (Museu Histórico “Paulo Setúbal”).

A encenação acontece na escadaria principal que dá acesso ao espaço cultural, em uma espécie de “provocação” ao espectador.

Segundo Adriana, também conhecida por “Drica”, a ideia é chamar o público a mergulhar na cultura caipira, apresentada a partir do capítulo “Saboroso”, um “causo” do livro “Onde Moram os Tatus”, lançado pelo jornalista em 2008.

A obra é um romance que resgata com humor as raízes do estado de São Paulo. Foi concebida com o propósito de valorizar as tradições caipiras, sendo composta por 37 estórias. Uma delas, em particular, chamou a atenção da artista.

“A ideia de produzir a contação começa quando eu tenho contato com os livros do Ivan Camargo. Ele presenteou o meu grupo (Grupo Asas ‘Contação de História, Recreação e Música’) com as obras. Eu as li e, quando caí em ‘Onde Moram os Tatus’, me identifiquei e comecei o processo”, recorda.

A ligação com a obra aconteceu já nas primeiras linhas. Drica explica que se emocionou com a dedicatória. O livro é devotado ao avô materno e a avó paterna do escritor. Logo na abertura, Camargo menciona o “vô Nísio” e a “vó Dica” como exímios contadores de histórias. Ele, de causos; ela, de fábulas.

“Quando ele iniciou agradecendo aos avós, eu, de cara, vi que iria gostar. Eu trabalho com a escrita afetiva e, mesmo o livro sendo escrito com o imaginário, com personagens de sítio e até situações de escravização, me encantei”, conta.

Além do humor, Drica selecionou a obra como ponto de partida para produção do trabalho pela identificação com a valorização da cultura popular. Ambos os trabalhos estão ligados pela tradição caipira. O projeto da atriz visa expandir a arte da oralidade, fortalecendo o conhecimento sobre a cultura raiz ao mesmo tempo em que incentiva a leitura de escritores locais.

Com a abertura do edital do 1º Festival de Arte e Cultura de Tatuí, no ano passado, a atriz se reuniu com Meiriele Paulinonde Moraes e Ernandes Justino para produzir um trabalho. Chegou ao formato da contação interativa.

A primeira apresentação será de apenas um conto. O plano anterior, quando o projeto começou a ser pensado, era de seguir a proposta do livro “Onde Moram os Tatus”, que consiste em “um punhadão de estórias caipiras” – a mesma proposta da atriz. Drica, no entanto, explica que, para adequação ao formato do festival, o grupo precisou enxugar a obra, para não extrapolar o horário limite.

O evento permite uma hora de apresentações para cada trabalho selecionado. Para seguir esse critério, a atriz optou por contar apenas um dos causos.

“Apanhei muito para escolher apenas um conto. Peguei o do personagem que tem o nome maravilhoso”, conta. A escolha não foi aleatória. Drica optou pela estória por ela possibilitar uma “brincadeira com os sabores e os sons”.

Na apresentação, a atriz vai utilizando elementos que permitem ao público vivenciar a cultura caipira, se não pela memória, cheiros e sonoridade.

Para remeter à “tradição dos antigos”, à fazenda ou ao ambiente do campo, Drica utiliza, por exemplo, peças como ralador, coador de café e moringa. Elas ajudam a atriz a compor os sons a partir de um ambiente de casa, a cozinha.

À medida que a estória é contada, a atriz vai dispondo, nesse cômodo, comidas e bebidas típicas. Começa com o café, o chá de erva, a pinga, o bolo de milho e inclui a paçoca de carne. O ápice da interação é quando Drica apresenta o “chá saboroso”, que, na verdade, consiste em um chá de ervas.

O cenário montado na praça Manoel Guedes, ao ar livre, traz também elementos como carro de boi (em miniaturas) e linha de trem. As peças foram feitas por artesãos especialmente para a contação.

A proposta é permitir que a plateia se aproxime, escutando sons de cavalos (que simbolizam a passagem de tropeiros), carros de boi e, depois, de trens em circulação.

A apresentação no museu é a primeira de uma sequência de sessões. Drica antecipa que o grupo pretende, com a colaboração de Rogério Vianna, levar a contação para outros espaços. Os planos incluem, ainda, torná-lo mais extenso.

“O objetivo é aprimorar, adicionando pesquisas de doces tradicionais, e com brincadeiras que permitam ao público passar por outros lugares da cidade”, projeta.

“Neste Buraco tem Tatu, Sim, que Eu Ouvi!” é um projeto que “abraça a cultura da oralidade”, levando ao público o conhecimento de estórias caipiras.

Além de atriz e contadora de histórias, Drica é palhaça, diretora, iluminadora e professora de artes cênicas no Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí. Ela iniciou contato com teatro no ano de 1990. Em 1995, integrou o grupo do diretor Moisés Miastkowosky, na cidade de Jacareí.

É graduada em pedagogia e tecnóloga em gestão pública. Concluiu curso de extensão em teatro de rua na Faculdade Federal do Alagoas e pós-graduação em contação de história e literatura, arte educação e pedagogia para diversidade e inclusão.

Formada em artes cênicas pelo Conservatório de Tatuí, Drica ainda cursou maquiagem, iluminação, direção cênica, dramaturgia, palhaçaria clássica, clown, contação de história e mediação educativa em arte popular pelo Museu de Cultura Cearense.

Fez cursos de interpretação, literatura dramática, encenação, canto e manipulação de bonecos no Circo Escola Lecolè. Foi, ainda, voluntaria no projeto Afropaeana na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Tatuí, ensinado dança popular aos educandos.

Atualmente, atua e dirige o Grupo Asas e é atriz da Cia. de Opinião, mantendo o trabalho solo intitulado “Cortina de Chita”, além de estudante de extensão em teatro negro pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com supervisão e tutoria de Licko Turle.

A contação programada para este sábado está entre os trabalhos habilitados no edital de cultura 01/2021 do 1º Festival de Arte e Cultura de Tatuí, promovido pelo museu, por meio da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo e Lazer.