Consórcio entre Apae e Fatec foca ação para comunicação alternativa





Aguardado pelo público que frequenta o centro de convivência, o uso dos “tablets”, adquiridos pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) por meio de contemplação, deve ser estendido aos públicos da educação especial e para o mundo do trabalho a partir do resultado de um consórcio.

A entidade apaeana da cidade está firmando união com a Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” para potencializar o uso dos equipamentos. O objetivo é possibilitar o desenvolvimento de “apps” (aplicativos) voltados à chamada comunicação alternativa.

É o que explicou a gerente de projetos da Apae, Rita de Cássia Lemes Ramos. De acordo com ela, cada área de trabalho da entidade utilizará os equipamentos (24 no total) de modo distinto.

Quem frequenta o centro de convivência, por exemplo, deve fazer uso de uma parte dos tablets para preenchimento de relatórios e acompanhamento das atividades do dia a dia.

“O centro terá um uso muito específico. Na verdade, eles (os assistidos) aprenderão a manusear o sistema (Android), e ele vai gerar os relatórios”, contou Rita.

A tarefa, que parece simples, vai permitir à instituição afinar a pesquisa interna de qualidade do atendimento oferecido. Também atender, de uma forma mais precisa, às legislações que normatizam as avaliações dos projetos.

“Por meio do tablet, o usuário informará dados, em tempo real, quantitativamente. Já o educador ou orientador avaliará isso também qualitativamente”, explicou Rita.

Com isso, os profissionais da instituição tatuiana saberão, com mais precisão, qual é o percentual de desenvolvimento atingido pelos assistidos. “Poderemos saber se, realmente, eles acompanharam as ações propostas, qual é a meta a ser atingida e o que teremos que mudar para melhorar”, enumerou.

A ideia é que, com os equipamentos, o trabalho de avaliação das equipes fique mais dinâmico. Em outra frente, os tablets servirão como mais uma ferramenta de inclusão digital. Essa ação é promovida de maneira diferenciada.

“A inclusão digital é uma palavra bonita, mas, quando se fala de um público com grave deficiência, estamos falando de um equipamento totalmente adaptado”, disse a gerente de projetos da instituição.

Conforme ela, o acesso à tecnologia pode ser simplificado para pessoas sem deficiências, mas é considerado mais complexo quando se trata de um público com limitações.

No caso da Apae, como os 24 equipamentos deverão ser fracionados para uso nos três atendimentos da entidade, eles não possibilitarão, no sentido pleno do trabalho, a inclusão em si. Entretanto, representam uma continuidade.

“Quando falamos de pessoas com deficiência, falamos de equipamentos adaptados individualmente. E tê-los é muito difícil. É como uma cadeira de rodas. Eu não posso dizer que ela vai servir para todo público que precisa”, explicou.

Em se tratando de tecnologia, a acessibilidade segue quase a mesma regra. Rita disse que adaptar equipamentos para distribuí-los a todos os assistidos é muito oneroso para qualquer entidade. Contudo, os recebidos pela instituição tatuiana vão engrossar a lista de ações de inclusão já desenvolvidas. Entre elas, estão o uso de lousas digitais e do laboratório de informática.

“É mais uma ferramenta, porque os profissionais de educação especial têm que ter todas as possibilidades de trabalho. Cada aluno que eles atendem é particular. Então, para uns, o tablet não vai ter utilidade, mas, para outros, sim”, disse Rita.

“Não posso dizer que com 24 deles, para um público de mais de 250 pessoas, nós vamos dar acessibilidade, mas vamos promover ações”, complementou.

A nova ferramenta permitirá que os profissionais tenham mais liberdade para debater novos usos. “Quando se fala em educação especial, se fala em funcionalidade, no quanto cada pessoa vai se tornar funcional e ter qualidade de vida, autonomia, não, necessariamente sabendo ler e escrever”.

A parceria com a Fatec dará à instituição mais possibilidades de uso dos equipamentos. O projeto que está sendo costurado prevê desenvolvimento de aplicativos de dispositivos móveis para estímulo à comunicação alternativa.

No dia 19 deste mês, representantes da Apae e da faculdade estiveram reunidos. Eles discutiram as possibilidades e o aprimoramento de um sistema que já existe. De acordo com a gerente de projetos, a instituição educacional atende a uma pessoa cadeirante que tem dificuldades em se comunicar.

Rita explicou que a Fatec criou um software “muito parecido” com uma ferramenta existente na Apae. A instituição conta com um mecanismo baseado em imagens. “Por meio delas, geramos interpretação, que é o começo de um processo inicial de comunicação para quem não sabe falar”.

Esse é o caso de parte do público da Apae, que atende pessoas com grau severo de autismo. Como o primeiro passo no trabalho de melhora de qualidade de vida dos assistidos da entidade é a comunicação, a ideia é utilizar os equipamentos exatamente para esta finalidade e com software da Fatec.

Rita explicou que a faculdade desenvolveu uma ferramenta mais personalizada para facilitar a comunicação. O programa funciona também em um tablet. Assim que tomou conhecimento do trabalho, a gerente de projetos vislumbrou a possibilidade de realizar algo parecido na instituição.

“Acompanhei o serviço deles (da Fatec) e vi que isso pode servir para a nossa clientela, tanto que gravamos alguns vídeos do nosso público e mandamos para eles. Nós já os avisamos que compramos os tablets”, contou Rita.

O passo seguinte é a formalização do consórcio e o desenvolvimento dos aplicativos. Com apoio das equipes da instituição, Rita deve debater com representantes da Fatec (direção, coordenação, professores e alunos) as possibilidades.

“Talvez nós não disponibilizemos isso para todos os alunos. Talvez seja para um público específico, porque temos de pensar no resultado”, concluiu.