Conservatório lança concurso para solistas pretos, pardos e indígenas

Iniciativa busca ampliar a diversidade no cenário do canto lírico brasileiro

Da redação

O Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, anuncia a abertura de inscrições para o 1º Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha. Podem se inscrever cantores líricos, de ambos os sexos, pretos, pardos e indígenas, residentes no Brasil e que tenham idade entre 18 e 45 anos, nas categorias voz feminina e voz masculina.

Os interessados têm até 21 de outubro para se inscrever no site www.conservatoriodetatui.org.br. Os ganhadores de todas as categorias participarão do recital de premiação, acompanhados por uma orquestra, no dia 19 de dezembro, no Theatro Municipal de São Paulo.

O primeiro lugar de cada categoria receberá R$ 20 mil e o segundo de cada categoria, R$ 15 mil, além do prêmio de R$ 10 mil para a categoria jovem solista, concedido a cantor ou cantora de até 25 anos.

Outra oportunidade para os inscritos é o acesso gratuito a participar de formação online sobre orientação de carreira, que está previsto para o primeiro quadrimestre de 2023. Trata-se da maior premiação deste segmento no Brasil.

O concurso prevê, ainda, que os primeiros colocados de cada categoria integrem o elenco de solistas da temporada lírica 2023 do Theatro Municipal de São Paulo. Já os segundos colocados e o ganhador da categoria Jovem Solista se apresentarão na temporada 2023 do Teatro “Procópio Ferreira”.

A primeira etapa do concurso é no formato online. Já a semifinal acontece no sábado, 12 de novembro, das 9h às 18h, no “Procópio Ferreira”. A etapa final é no domingo, 13 de novembro, das 10h30 às 13h30, também no teatro.

O recital de premiação acontece na segunda-feira, 19 de dezembro, às 20h, no Theatro Municipal de São Paulo, na praça Ramos s/n, região central da capital paulista.

O júri é formado por cantores, diretores artísticos e professores do universo musical. As orientações, edital e ficha de inscrição já estão disponíveis no “Espaço do Aluno”, no site do Conservatório.

De acordo com a assessoria de imprensa do Conservatório de Tatuí, o nome do concurso homenageia a primeira atriz e cantora lírica brasileira e negra a ganhar destaque internacional, Joaquina Maria da Conceição Lapa, a Joaquina Lapinha, considerada uma das primeiras mulheres a receber autorização para participar de espetáculos públicos em Lisboa (Portugal).

“Esta ação afirmativa promovida pela Sustenidos tem o intuito de contribuir para que a cena lírica brasileira se torne, de fato, mais diversa. A formação para este tipo de profissional é muito cara, já que, além das aulas de canto propriamente ditas, envolve o aprendizado de diferentes idiomas, aulas de prosódia, acompanhamento fonoaudiológico e aulas de interpretação, entre outros. Isso já faz com que muitos aspirantes à carreira tenham que desistir por motivos financeiros”, afirmou a diretora executiva da Sustenidos, Alessandra Costa.

“Além disso, durante séculos, foi fomentada a tradição de que grandes personagens fossem interpretados por artistas brancos, o que provocou apagamentos cruéis de grandes cantores pretos e pretas, e possivelmente de indígenas”, acrescentou.

“O valor expressivo do prêmio pode ser determinante para que jovens cantores deem novo impulso e visibilidade a suas carreiras. As instituições culturais não podem mais ser coniventes com uma situação de tamanha desigualdade em pleno século 21; o que vemos sobre o palco tem que refletir a diversidade da população brasileira”, complementou Alessandra.

Joaquina Lapinha foi reconhecida no cenário artístico luso-brasileiro como cantora, entre fins do século 18 e início do 19. A artista começou a atuar no Rio de Janeiro, embora tenha nascido em Minas Gerais, conforme registro de 1859 do jornal O Espelho.

A artista se apresentou em várias cidades portuguesas no período de 1791 a 1805 e, apesar da carreira internacional, alguns autores apontam que, por ter a pele negra, a atriz precisou recorrer a cosméticos para clarear a pele nas apresentações na Europa.

A cantora foi tema do livro “Negras Líricas: Duas Intérpretes Brasileiras na Música de Concerto” (2008), do pesquisador e músico Sérgio Bittencourt-Sampaio, além de ser enredo da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, no Carnaval de 2014.