Da redação
O espetáculo “O Caso Meinhof”, inspirado em “Ulrike Maria Stuart”, da vencedora do Nobel de Literatura de 2004, a austríaca Elfriede Jelinek, será apresentado no Teatro “Procópio Ferreira”, do Conservatório de Tatuí, neste domingo, 20, a partir das 18h.
No mesmo dia, das 14h às 16h, será ministrada a oficina “Depois de Brecht”, que visa explorar a obra dos principais autores de teatro de língua alemã.
O grupo Teatro do Fim do Mundo é o responsável por interpretar “O Caso Meinhof”, texto “livremente inspirado em ‘Ulrike Maria Stuart’, de 2006”, segundo o dramaturgo Artur Kon, que traduziu e adaptou a peça para o grupo.
“A peça do Teatro do Fim do Mundo inventa o misterioso roubo do cérebro de Ulrike por parte de seus filhos, que o teriam preservado em um vidro para se comunicar com ele, a fim de investigar a verdade sobre a morte da mãe. Nesta investigação, eles criam um podcast e, a cada episódio, confrontam um entrevistado envolvido na história, usando meios pouco convencionais de comunicação, inclusive, com os mortos”, revela Kon.
O dramaturgo comenta que o espetáculo “discute o fracasso e a herança dos movimentos revolucionários do século 20, além de debater a presença das mulheres na liderança de processos políticos, entre outros temas que se mostram urgentes no Brasil de hoje”.
A entrada ao espetáculo é gratuita. Os ingressos podem ser retirados pela plataforma INTI, disponíveis online a partir do site do Conservatório de Tatuí 48 horas antes do dia do evento. O CDMCC tem o Teatro “Procópio Ferreira” à rua São Bento, 415, centro.
Elfriede Jelinek
Elfriede Jelinek, escritora e dramaturga austríaca, nasceu em 1946, em Mürzzuschlag. Sua obra é marcada por críticas às estruturas sociais, como o patriarcado, o capitalismo e as questões de gênero.
Jelinek começou a carreira como poetisa, mas foi através de romances e peças teatrais que se consolidou como voz crítica da literatura contemporânea.
Entre seus romances mais conhecidos, estão “Os Excluídos”, de 1980, e “A Pianista”, de 1983, adaptado ao cinema em 2001. Ela também é reconhecida pela escrita, que combina experimentalismo linguístico com temas políticos e sociais.
Em 2004, Jelinek recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. O júri destacou sua “força musical no fluxo de vozes e contra vozes em seus romances e peças”, além da denúncia constante da violência estrutural nas relações de poder.
A peça “Ulrike Maria Stuart”, de 2006, aborda questões políticas e históricas, misturando as figuras de Ulrike Meinhof, da Fração do Exército Vermelho (RAF), e Maria Stuart, rainha da Escócia. O texto explora as conexões entre violência política e opressão feminina, além de refletir sobre a radicalização em diferentes contextos históricos.
A oficina
Coordenada pelo dramaturgo Artur Kon, a oficina “Depois de Brecht – Dramaturgia política contemporânea em língua alemã” analisará a obra de quatro autores do teatro de língua alemã com o objetivo de “explorar modos e sentidos de escrever para a cena contemporânea”.
Os participantes serão incentivados a reavaliar o legado de Bertolt Brecht, considerado referência na “proposta de uma poética política no campo dramatúrgico”.
“A atividade se propõe a discutir o desafio de experimentar novas formas dramatúrgicas enquanto reflete sobre questões atuais, abordando as dificuldades que o contexto contemporâneo apresenta”, informa a produção.
As inscrições à oficina, para maiores de 16 anos e com 30 vagas, serão realizadas no próprio local.
O grupo
Segundo Artur Kon, “o Teatro do Fim do Mundo, plataforma criada em 2016, reúne artistas interessados em discutir o papel do teatro ante questões sociais vivenciadas desde então no Brasil e no mundo. O projeto busca confrontar o sentimento de perplexidade e impotência que se instalou nesse contexto”.
Sobre uma de suas produções, “Sem Luz”, comenta: “A metáfora de uma catástrofe nuclear foi utilizada para refletir sobre a sobrevivência em meio à desorientação”.
Em “O Caso Meinhof”, “a plataforma traz para o centro do debate as derrotas históricas da esquerda no século 20, acrescentando um tom urgente à discussão sobre as consequências dessas crises”, aponta Kon.