Comoção marca despedida a corpo do empresário Jonas da Silva Teles





Comoção marcou despedida do corpo do empresário Jonas da Silva Teles, falecido na manhã de domingo, 11. Um dos mais bem-sucedidos comerciantes do município, teve o corpo velado na sede da Igreja Presbiteriana, templo que ajudou a construir como colaborador de forma anônima.

“Seu” Jonas Teles, como era conhecido, recebeu homenagens de funcionários e ex-funcionários. Amigos do empresário também acompanharam o velório, que registrou incidente. Pouco antes da saída para o enterro, realizado no cemitério “Cristo Rei”, houve explosão de uma bomba num dos vitrais da igreja.

O artefato danificou uma das janelas do templo e assustou amigos e ex-funcionários do empresário que acompanharam o velório. Houve a necessidade de acionamento da Polícia Militar para apurar a autoria e a procedência do explosivo.

A viúva, Alzira Pistoni Teles, não pôde acompanhar a despedida e o enterro, por conta de problemas de saúde. De acordo com informações repassadas por funcionários da Casa dos Presentes (empresa fundada e comandada até então pelo empresário), ela havia tido alta recentemente de hospital.

Alzira precisou ser internada por duas ocasiões no hospital “Albert Einstein”, em São Paulo, tendo retornado ao município há um mês. Segundo Cristina de Almeida, gerente da Casa dos Presentes e amiga pessoal do casal, a viúva também auxiliava nos trabalhos de cuidado do empresário.

Cristina trabalhou para Jonas Teles por 13 anos. “Ele era muito honesto. Muito rígido nas coisas, porque gostava de tudo certo, detalhado. Mas, era uma pessoa que, como patrão, não vai existir outro igual. O que aprendi com ele eu acredito que não vou aprender com mais ninguém na vida”, comentou.

Além da administração da loja, Cristina passou a cuidar do empresário depois que ele parou de visitar a Casa dos Presentes. Há dois anos, Jonas Teles teve problemas de saúde que afetaram a capacidade dele de se locomover.

“Ele não estava indo na loja, mas sempre esteve ativo. Ele só não queria que as pessoas vissem que ele tinha dificuldades em andar”, relatou a gerente.

Cristina contou que o empresário faleceu pela manhã de domingo, data em que houve o velório e o enterro. A saída do corpo para o cemitério se deu às 17h30.

Jonas Teles completaria 90 anos de idade nesta quarta-feira, 14. O empresário construiu patrimônio a partir de um bar, localizado no Boqueirão. É o que contou a ex-funcionária Márcia de Moura Rodrigues, esposa de Djalma de Campos Rodrigues, e integrante da Igreja Presbiteriana.

Segundo ela, Jonas Teles ajudou pessoas como o reverendo Felipe Manoel de Campos a formar o atual templo. A Igreja Presbiteriana fica na rua 11 de Agosto, 588, no centro. “Nós tínhamos aqui uma sede velha. Jonas foi uma das pessoas anônimas que doaram dinheiro para construção dessa igreja”, recordou.

No velório, Márcia falou sobre o empresário. Em nome de amigos, ex-funcionários e funcionários, ela disse que a cidade teve “uma grande perda”. Afirmou que todos os que conheciam Jonas Teles têm somente a demonstrar carinho. “Estamos muito abalados”, complementou.

Para ela, Jonas Teles deixou um legado de trabalho. Márcia afirmou que todos os amigos do empresário estavam abatidos e destacou a personalidade marcante dele, como uma das marcas de sucesso do comerciante.

“Ele foi uma pessoa firme, sempre, mas nunca ninguém pode dizer que ele pegou uma moeda de alguém. Ele era uma pessoa íntegra, não devia nada para ninguém, mas vivia para cuidar da loja. O tempo todo, só cuidava disso”.

Márcia trabalhou para o empresário por quatro anos. Ela ingressou na Casa dos Presentes, no endereço que atualmente abriga um supermercado, quando tinha 14 anos. Saiu da loja aos 18, e disse que aprendeu lições de vida com Jonas Teles.

“O comércio de Tatuí foi gerado por Jonas da Silva Teles. A custa de trabalho, trabalho e mais trabalho, ele venceu na vida e empregou muita gente”, disse.

A advogada Jacira Provasi esteve entre os ex-funcionários do empreendedor. Ela fez questão de comparecer ao velório para prestar homenagem ao ex-patrão. Jacira trabalhou para o comerciante na Casa dos Presentes entre os anos de 72 a 74. Na época, usava o salário para pagar o curso de direito.

Depois de formada, continuou prestando serviços para o empresário. “Tenho grande consideração por ele. Quando me formei, passei a trabalhar para ele como advogada, o que muito me honrou. Ele confiou em mim até para resolver questões pessoais. Gostava muito dele, e estou muito entristecida”, disse.

Para a advogada, Tatuí não perdeu somente um comerciante, mas um “grande batalhador”. “Ele era corretíssimo. Um homem muito inteligente, com uma visão muito boa. Ele era mestre nas vendas”, falou.

Perspicaz nos negócios, Jacira afirmou que Jonas Teles progrediu no comércio pela visão e em função do respeito ao consumidor. De acordo com ela, o ex-patrão tinha perspicácia para “entender e se colocar na posição do cliente”.

“Com todo o respeito que tenho aos vendedores de hoje em dia, eles não têm o mesmo tino que o Jonas Teles. Ele sabia falar a língua da clientela”, afirmou.

A presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial), Lucia Bonini Favorito, também prestou homenagem ao comerciante.

Em discurso, ela destacou que o trabalho era a marca registrada dele e que o setor empresarial de Tatuí tinha perdido “grande representante”. “O comércio está em luto”, disse.

Lucia conviveu com Jonas Teles e destacou como característica do empresário o “espírito de batalha”. “A única coisa que ele fez a vida inteira foi trabalhar. Ele nunca viajava e, quando sabia que alguém estava precisando, sempre tentava ajudar. Para mim, ele é exemplo de realização”, enfatizou.

A presidente destacou, ainda, que a história de vida do comerciante deve ser seguida como exemplo. “Se os jovens seguissem o que o Jonas Teles fez, não precisariam de drogas. Eles iriam para a bandeira do trabalho. E é isso que Tatuí está precisando nos dias de hoje”, completou.

Considerado um dos maiores empreendedores da cidade, Jonas Teles fez fortuna e adquiriu inúmeros imóveis. A maioria deles, comercial e localizada no centro (Praça da Matriz). Estão entre os bens, prédios ocupados por um supermercado e por uma agência bancária, além de um comércio.

Relatos dos ex-funcionários dão conta de que, no auge de sua atividade, o comerciante chegou a empregar mais de 200 pessoas em seus empreendimentos. O mais conhecido deles – e que ainda existe – é a Casa dos Presentes.

Além de cuidar dos negócios, Aurea Elisa Vieira de Almeida Camargo disse que Jonas Teles também se preocupava com o próximo. Conforme ela, por meio de doações, o comerciante auxiliou na construção da Presbiteriana.

“Ele era muito amigo do meu marido, Oscar Bueno de Camargo, então gerente do banco Itau. Nós tínhamos bastante conhecimento. E Jonas Teles era uma pessoa boa, prestativa, e que colaborou para a construção desse templo”, disse.

Segundo Aurea, sempre que a igreja precisava de dinheiro para pagar pedreiros, ou adquirir materiais, o comerciante colaborava. Por conta do trabalho (nas empresas e voluntário), ela disse que o empresário teve “uma vida útil”.

“Nós passamos por esse mundo para deixar um rastro luminoso. E ‘seu’ Jonas Teles deixou. Ele não era uma pessoa religiosa, que frequentasse igreja, mas tinha um coração bom para a necessidade do próximo”, concluiu.