Comida de boteco





Em razão de mudanças de visual e do lançamento de mais uma edição de O Progresso em Revista, na semana passada, este espaço reservado à opinião não abordou um evento que alcançou evidente sucesso na cidade, intitulado “Festival de Comida de Buteco” – com este neologismo mesmo, que vem popularizando Brasil afora um sinônimo do bom e velho bar, também conhecido como “boteco”.

Com 15 bares participantes, 45 tipos de porções, música ao vivo e dentro de um patrimônio arquitetônico da cidade, o evento, promovido pela Prefeitura entre os dias 20 e 22 de setembro, somou 31 horas de duração, privilegiando a chamada “baixa gastronomia”.

A iniciativa aconteceu no “jardim” da fábrica São Martinho. Mais que apresentar a gastronomia dos bares, o diretor do Departamento de Cultura e Desenvolvimento Turístico, Jorge Rizek, destacou que o evento teve como objetivo resgatar a “vida noturna” do município. O diretor citou que Tatuí “sempre teve grande fama de ter noites movimentadas”.

“Nós tínhamos alguns movimentos interessantes que, depois de certo tempo, acabaram. Então, queremos ativá-los, e nada melhor que uma gastronomia de boteco, de bares, para provar que Tatuí tem qualidade”, afirmou.

O público experimentou cardápio variado. Cada boteco teve a oportunidade de oferecer três pratos. Foram servidas porções individuais, para estimular os consumidores a conhecer o máximo de opções possíveis.

“O evento é, na verdade, uma grande degustação. Também movimenta a economia local e atrai turistas”, observou Rizek. Para ele, o festival permite não só que mais pessoas conheçam a gastronomia, mas um patrimônio arquitetônico do município.

A fábrica São Martinho é tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).

“O festival vai estimular que as pessoas voltem a fazer o turismo noturno em Tatuí. Também acho que serve para unir todos os proprietários de bares, para que eles formem uma associação e possam ter representatividade”, argumentou.

A programação musical incluiu jazz, choro e samba raiz, estilos considerados “lights” e apropriados ao evento. “É um som de barzinho”, destacou Rizek.

O jardim ainda abrigou exposições de fotografias e quadros produzidos sobre a São Martinho, trabalhos assinados por diversos artistas convidados.

Ao realizar o evento na fábrica, Rizek citou que se estaria abrindo precedente: o de chamar a atenção para os demais prédios históricos do município.

“Queremos angariar novos espaços e ver se conseguimos, de uma forma efetiva, que eles sejam restaurados”.

“Criamos esse evento para dar movimento à área de patrimônio histórico e cultural. Queremos chamar a atenção para ela e para a preservação”, acrescentou.

Visivelmente, o festival tatuiano inspirou-se no extinto “Boteco Bohemia”, evento promovido pela Ambev com imenso sucesso em São Paulo, cujo encerramento acontecia também num espaço “histórico” no bairro da Mooca, conhecido como Moinho Santo Antonio, com shows musicais e a união de todos os estabelecimentos concorrentes.

A diferença encontra-se justamente no caráter competitivo. Lá, a programação partia da venda e promoção dos petiscos nos próprios bares, os quais recebiam votação ao longo de aproximadamente um mês.

A final da competição ocorria no prédio histórico da Mooca, onde todos os bares participantes tinham estandes com seus produtos e na qual era apresentado o petisco vencedor. Ideia que pode contribuir com o aprimoramento do festival tatuiano, numa edição futura.

Melhor ainda seria se a festa local também pudesse contar com banheiros não somente químicos e (um sonho dos que prezam pelos patrimônios tatuianos que ainda resistem) ocupasse o espaço interno do belíssimo complexo da fábrica São Martinho.

Para tanto, naturalmente, essa estrutura não poderia estar ruindo aos poucos – além, claro, de ter seu uso cedido ao evento pelo proprietário, uma vez que não pertence ao município.

Outro exemplo desta união de sucesso entre festa popular e valorização do patrimônio histórico pode ser observado em Piracicaba, onde ocorre a tradicional “Festa das Nações”, anualmente promovida pelo Fundo Social e que ocupa todos os galpões (preservados em amplo sentido) do antigo Engenho Central.

Seja qual for o molde adotado pela Prefeitura em possíveis futuras edições – competitivo ou não, em área aberta ou fechada -, a realidade é que o Festival de Comida de Buteco foi mais um belo acerto do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, em seguida à “Festa do Doce”.

Vale muitos brindes e bocados!