Comércio muda para manter 6.000 vagas





O Progresso

Lucia Bonini Favorito destaca desafios enfrentados por comerciantes locais e parceria com Sebrae para capacitação de equipes e lojistas

 

Pelas contas da ACE (Associação Comercial e Empresarial), o setor de comércio emprega, aproximadamente, 6.000 pessoas em Tatuí. O número de vagas soma os ramos de atividade varejista e atacadista e está sendo mantido por conta de ações adotadas frente à crise nacional.

Segunda mulher a presidir a associação desde a fundação em 1936, Lucia Bonini Favorito afirmou que o empresariado tatuiano está buscando alternativas.

A O Progresso, ela disse que o comércio tatuiano sentiu o impacto da desaceleração da economia. No caso da cidade, mais especificamente, das demissões feitas pelas indústrias ligadas ao setor automotivo.

“Tatuí também sofre efeitos, só que o empresário tatuiano é muito astuto”, iniciou a presidente. Conforme ela, parte dos comerciantes está investindo na crise, por meio de reformas e ampliação. Os demais estão realizando uma espécie de “recalculo” para se adequarem ao “novo momento”.

Na totalidade – ou quase –, os comerciantes estão apostando nos descontos para manter a clientela. Neste ano, o percentual oferecido aos consumidores nas compras à vista aumentou com relação ao ano passado. “Houve uma diferença de ofertas”, disse a presidente da associação.

Em 2014, o desconto médio dado pelo comércio foi de 10%. Neste ano, subiu para até 50%. Lucia disse que a estratégia ajuda os lojistas a esvaziarem os estoques. Esse tipo de ação é adotada sempre no mês de setembro, quando o comércio entra na fase de liquidação por conta da troca de coleções.

“Os empresários optaram por fazer isso neste momento para manter as vendas”, explicou. Mesmo assim, Lucia ressaltou que a medida não resulta em “grandes margens de ganho”.

“O empresário está tendo um lucro muito pequeno, mas o suficiente para manter o seu comércio de maneira bonita, e não só isso: também, para continuar empregando 6.000 pessoas”, sustentou.

Somente a ACE possui 600 filiados. A presidente informou que a quantidade de lojistas é alta, apesar das notícias de fechamento de estabelecimentos. “Em Tatuí, os que estão encerrando negócio são os que vieram de fora, com sonhos, e têm produtos simples ou sem qualidade”, afirmou.

Para Lucia, os consumidores de Tatuí são “muito seletivos”. “Eles gostam de qualidade, de loja com produtos que não quebrem facilmente”, argumentou.

Dessa maneira, a vantagem do comércio local com relação à concorrência de preços é oferecer garantia de 30 dias e direito a troca. “Quem não dispõe disso não vai para frente. Todos os coreanos que estão chegando, estão um pouco decepcionados, porque Tatuí gosta de qualidade”, enfatizou.

Conforme ela, os consumidores locais também prezam por novidades. Em função disso, alguns empresários estão reformando seus ambientes, mudando as disposições de expositores e agregando novos produtos. “Eles esperaram para investir, melhorando até mesmo os preços”.

A aposta dos empresários é que, com o aumento do custo de vida, especialmente nas capitais, os consumidores locais prefiram gastar cada vez mais em Tatuí.

Lucia citou, como exemplo, os preços praticados em shoppings centers que registram visitas dos tatuianos. “Quem vai a Sorocaba ou São Paulo volta para Tatuí, porque aqui os preços são excelentes”, garantiu.

Segundo a presidente, o movimento de venda em Tatuí segue – em ritmo menor que nos anos anteriores –, apesar do esvaziamento de imóveis comerciais. De acordo com ela, não está ocorrendo um fechamento “maciço” das empresas. Lucia disse que alguns empresários estão “recalculando”.

“Parte dos lojistas tinha duas, três ou mais lojas na cidade, em pontos diferentes. O que ocorre é que eles estão reduzindo os espaços de uma maneira que o comércio que possuem não seja prejudicado pela crise. Então, estão ficando com duas ou uma loja, quando tinham quatro”, argumentou.

Nesse mesmo sentido, os comerciantes buscam conservar o cliente, por meio de ações de fidelização. Para Lucia, a que apresenta resultado mais significativo é a qualidade. “O comerciante tem que ter como objetivo maior o cliente; depois, o preço e a qualidade. Com isso, vai ter clientes”.

Todas essas orientações são oferecidas aos lojistas pela ACE e por meio do PAE (Posto de Atendimento ao Empreendedor), do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). O posto voltou a atender na sede da associação, que fica na rua 15 de Novembro, 491, primeiro andar.

Em dezembro de 2013, o PAE integrou-se à Secretaria Municipal da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social. Recentemente, retornou para uma sala no andar ocupado pela associação, após entendimentos com a diretoria.

“Estamos com uma parceria muito bonita e realizando de quatro a seis cursos por mês. Toda semana nós oferecemos capacitação para que haja evolução”, disse.

As orientações incluem engajamento dos funcionários, visando à valorização deles como “colaboradores para o sucesso do negócio’ e a manutenção dos empregos. “São os funcionários que elevam o nosso comércio tatuiano, porque, aqui, eles são tratados como uma família”, afirmou.

A programação de cursos da ACE e do PAE é enviada mensalmente aos filiados. Quem não tem vínculos com a associação, mas é empresário, também pode participar.

Lucia explicou que as capacitações não são exclusivas para filiados. Os interessados que não sejam vinculados à entidade podem consultar as datas, as vagas e os valores pelo telefone 3259-8588.

 

Mais que pontuais

Com a diminuição do lucro, por conta da redução do poder de compra dos consumidores, os lojistas estão tendo de não só rever pontos, mas os postos de trabalho.

Lucia afirmou que, em Tatuí, o comércio desligou “um pouco a mais que o usual”. “Foram demissões um pouquinho a mais que pontuais”, argumentou.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), apontam que o comércio registrou saldo negativo de 86 empregos entre os meses de janeiro a junho deste ano. Nesse período, o setor contratou menos pessoas (1.803) e desligou mais (1.889).

O descompasso deve-se aos quatro primeiros meses do ano, com recuperação no comparativo de maio a junho, quando o saldo tornou-se positivo em 50 empregos com carteira assinada (569 admissões e 519 demissões).

Além da relação direta com as contratações de fim de ano, as demissões registradas em Tatuí no início de 2015 devem-se aos aluguéis comerciais.

Para a presidente da ACE, os valores praticados no momento estão inviabilizando alguns negócios. Com a queda das vendas e a consequente redução dos lucros, pode haver um comprometimento financeiro por parte dos lojistas.

Para não acumular débitos, o comércio opta por enxugar custos e empregos. “Quem aluga está perecendo um pouco, porque está muito alto”, apontou.

Também para não se comprometerem financeiramente, os consumidores estão “pisando um pouco no freio” em se tratando de compras. Por essa razão, a inadimplência não tem crescido no município.

Lucia explicou que os tatuianos estão optando por acertar os débitos e abusando das compras à vista. “O consumidor está percebendo que tem que usar devagar o cartão”.

Em Tatuí, o percentual de inadimplência gira em torno de 4% do volume de compra. Esse patamar é considerado baixo e está relacionado com o tipo de pagamento usado para as negociações.

Na cidade, o uso do cartão ainda predomina. Dessa maneira, a inadimplência não é sentida pelo comércio, mas por bancos. Entretanto, se houver restrição de crédito, as vendas também caem.

Quem oferece crediário próprio deve manter-se atento. A presidente da ACE recomenda que os lojistas com carnês devem consultar se os clientes têm restrições antes de concretizar as vendas, para evitar problema. “Se o lojista for observador, não vai deixar isso virar uma bola de neve”, disse.

Segundo ela, há outra explicação para os consumidores reduzirem as compras: o financiamento de veículos. Lucia afirmou que, por conta do aumento no poder de compra, a venda de carros cresceu.

Entretanto, o financiamento compromete parte da renda das famílias, resultando em uma retração no consumo em outros setores da economia.

“Algumas pessoas, se ganham R$ 1.000, gastam R$ 1.500. Elas deveriam gastar R$ 500 e se preparar para ter orçamento. Mas, há outra questão: os preços aumentaram muito, e o consumidor tem que pagar luz, água, comprometendo a renda. Mas, isso é uma consequência que pega todo o país”.

Por causa da somatória de fatores, Lucia disse que não existe expectativa de melhora do panorama no momento. Entretanto, ressaltou que a solução pode estar nas necessidades.

“Cada loja tem que prestar atenção no seu consumidor. O mesmo é com as cidades. Cada administrador tem que ficar de olho naquilo que a população está precisando, se é emprego ou saúde”.

Para a presidente da ACE, o “caminho das pedras” não é outro senão atender demandas. Dessa forma, ela entende que empresários precisam adotar a mesma postura e verificar quais setores geram lucro mesmo em época de retração.

O município é considerado, pela empresária, como um “oásis” para investidores. Lucia citou que a cidade tem todos os atrativos para a vinda de empresas. O principal deles é a localização próxima à rodovia Castello Branco (SP-280).

“O que nós estamos pedindo para Tatuí – é que Deus nos abençoe – é que venham empresários do ramo alimentício. Alimento é algo que todo mundo consome e que vai continuar a manter empregos, mesmo em épocas difíceis”, disse.

Citou, como exemplo, as fábricas de doces caseiros em Tatuí. Conforme ela, esses negócios são os que menos demitem e mais contratam. “Nós temos doces que são enviados para São Paulo e para outras partes do Brasil, e que são sucesso, vide a Festa do Doce”, falou.

Lucia afirmou que o evento se tornou sucesso por conta da característica do produto tatuiano: a qualidade. Por fim, disse que outras iniciativas no mesmo ramo de atividade podem contribuir para o fortalecimento do negócio local.