O mosquito Aedes aegypti está causando uma tripla preocupação. O inseto, que antes transmitia somente uma doença, a dengue, atualmente, é o vetor de duas outras enfermidades, a febre chikungunya e o zika vírus.
A chikungunya ainda não chegou à cidade, mas já houve um registrou de zika vírus, “importado”. Uma médica, cuja identidade não foi revelada, contraiu a doença durante uma viagem ao Mato Grosso.
A infecção aconteceu em novembro e foi detectada quando a paciente já estava na cidade, segundo a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Marilu Aparecida Rodrigues da Costa.
“Ela visitou um lugar onde a transmissão era grande, ela relatou isso. Foi feito exame de dengue e deu negativo. Ligamos para o “Adolfo Lutz”, de Sorocaba, mandamos o sangue para lá e eles enviaram para São Paulo”, detalhou.
Uma ação de bloqueio ao mosquito Aedes foi realizado na região onde a paciente mora. A coordenadora da Vigilância garante não ter ocorrido nenhum outro caso de zika na cidade.
O protocolo do atendimento ao paciente com suspeita de zika foi estabelecido pelo Ministério da Saúde. Como os sintomas são parecidos com os da dengue, a primeira suspeita do médico costuma ser com relação a essa enfermidade.
“Daí, a gente faz a notificação e, na coleta, faz a ficha do paciente. Nessa hora, eles dão todos os dados. A gente pergunta se ele saiu do município nos últimos 15 dias e viajou para locais com grande número de casos de zika”, explicou.
O teste rápido de dengue, o NS1, é realizado com o sangue do enfermo. Caso dê negativo, a Vigilância Epidemiológica analisa outros sintomas do paciente.
O que difere o zika vírus da dengue é que o infectado pela primeira doença tende a apresentar quadro de conjuntivite. Se o paciente visitou uma região onde o vírus está circulando, a suspeita aumenta. O sangue do paciente é mandado para exame no Instituto “Adolfo Lutz” de São Paulo.
“Se a pessoa foi para o Norte ou Nordeste e tem os sintomas característicos de zika, a gente manda fazer o exame”, acentuou a coordenadora.
Ela afirmou não ter acontecido nenhuma notificação de casos de microcefalia na cidade. O Ministério da Saúde estabelece que, para ser enquadrado como microcefalia, o perímetro cefálico (da cabeça) do recém-nascido precisa ser menor que 32 centímetros.
Um ofício foi enviado no início do ano para as maternidades da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí e da Unimed. Nele, a Vigilância Epidemiológica orienta os médicos a notificarem a Secretaria Municipal de Saúde caso nasça algum bebê microcefálico.
“Até agora, não tivemos nenhuma notificação. Caso tenha algum registro, nós vamos investigar toda a gestação da puérpera, para saber o que pode ter acontecido”, declarou.
O medo de infecção pelo zika assusta mais as grávidas, reconheceu Marilu. Como os sintomas são mais brandos que os da dengue, a população, em geral, não tem tanta preocupação com a zika, apesar dos riscos desconhecidos e não estudados que a doença pode apresentar em longo prazo.
“Na verdade, quem está ficando com medo da zika é a gestante. A doença é mais grave para elas. Para o restante da população, é uma doença mais branda. Os casos de zika ajudam (no combate), mas precisam de maior conscientização”, apontou.
O modo de trabalho da equipe do setor de combate à dengue não mudou com o aparecimento do zika e da chikungunya, segundo Marilu. O que difere é que o combate ao Aedes aegypti está mais intenso, com o reforço dos agentes comunitários de saúde.
“O que mudou é a intensificação. Os agentes comunitários de saúde, que ficam no PSF (Programa Saúde da Família), e os agentes de combate à dengue estão fazendo um arrastão na casa inteira”, explicou.
O Ministério da Saúde orientou os municípios a colocarem as duas equipes para trabalharem juntas aos sábados. Como a maior parte da população não trabalha nesse dia, as chances de vistoria nos imóveis aumentam. A força-tarefa começou no dia 5 de março.
“Os funcionários vão trabalhar todos os sábados por dois meses. Em cada sábado, eles estão fazendo em torno de 1.500 casas”, informou.
Ao todo, são 44 pessoas no combate à dengue nos sábados. A equipe de combate, que é de aproximadamente 20 agentes durante a semana, tem o reforço de 24 agentes comunitários de saúde, segundo o coordenador do serviço, Toni Sumio Ogata.
“Aos sábados, tem a vantagem de encontrarmos as pessoas em casa. Durante a semana, a gente faz o trabalho normal, os bloqueios, e, no fim de semana, foca nos bairros que têm maior risco e que tiveram mais casos no ano passado”, explicou.
Ogata afirmou que a população precisa ficar mais atenta aos focos do Aedes nos quintais, além de não jogar entulho e lixo em terrenos baldios.
“Enquanto a população não criar o hábito de eliminar os criadouros e limpar o quintal, não vai acabar com o mosquito da dengue. As pesquisas indicam que 80% dos criadouros estão nas residências”, observou.
O trabalho da equipe de combate à dengue consiste em fazer visitas diárias às residências, efetivar o levantamento do índice larvário e o bloqueio de áreas onde foram registrados casos de dengue.
“Quando tiver algum caso, a gente entra com o bloqueio e a nebulização para tentar matar o mosquito na região do paciente”, detalhou.
O levantamento do índice larvário é feito com o sorteio de 600 quadras em toda a cidade. Depois das visitas e da contagem de criadouros encontrados, o número é expresso para cada cem imóveis.
Na pesquisa mais recente, realizada em janeiro, o índice da cidade ficou em 1,4. Segundo o coordenador da equipe de combate, é um número preocupante, apesar de Tatuí ter registrado menos casos de dengue que no ano passado.
“Quando o índice larvário passa de um, já é considerado preocupante. No ano passado, a cidade começou a ter a transmissão a partir de janeiro”, afirmou.
Enquanto neste ano, nos dois primeiros meses, houve seis casos autóctones e um importado, no ano passado, foram 26 casos autóctones e 26 importados.
As chuvas dos últimos dias e o aumento da temperatura podem impactar na proliferação do mosquito e aumentar as chances de o número de casos de dengue crescer na cidade.
A força-tarefa da Secretaria de Saúde pretende brecar os números e mantê-los em patamares baixos. “Os meses de transmissão vão ate abril e maio. Então, precisamos ficar alertas, pelos riscos”.
Ogata faz um apelo para as pessoas que sentirem os sintomas de dengue: se isso ocorrer, se sentirem dores nas articulações, no fundo dos olhos, febre alta e manchas vermelhas pelo corpo, o melhor a se fazer é ir ao médico.
“Quanto antes sermos notificados, mais rápidos serão os bloqueios ao mosquito nas regiões onde os pacientes moram. Essa rapidez do trabalho depende muito da população”, concluiu.