Cerimônia oficializa Nudec de Americana





Cristiano Mota

Cabo Daniel Fernandes capacitou 12 integrantes do primeiro Núcleo de Defesa Civil do município em palestra realizada no dia 28 de setembro e que marcou oficialização

 

“Comecei a ajudar porque, logo que vim morar aqui, deu uma enchente que pegou até a esquina da casa da minha mãe”. O relato da dona de casa Roseana de Fátima Rodrigues é similar ao de muitos moradores que vivem no distrito de Americana.

A localidade que sofre com enchentes e alagamentos sazonais passou a contar com trabalho voluntário oficializado na manhã de sábado, 28 de setembro.

Realizado no barracão de eventos da Igreja de São Roque, o evento marcou a instalação definitiva do Nudec (Núcleo Comunitário de Defesa Civil).

O trabalho de implantação envolveu dezenas de colaboradores, empenho de representantes da Defesa Civil do município e durou aproximadamente oito anos. Roseana é, na escala do Nudec, a segunda pessoa a ingressar nos trabalhos.

Ela passou a colaborar com a iniciativa após ter visto a mãe e os vizinhos do bairro sofrerem com os efeitos de enchente em janeiro de 2007. Na ocasião, 26 famílias ficaram desalojadas e precisaram ser removidas para o barracão da igreja.

A enchente atingiu o bairro no dia 5 de janeiro, ocasião em que os níveis dos rios Sorocaba e Tatuí (que se encontram numa área de várzea, próxima a um residencial) haviam subido quatro metros. A situação normalizou-se 15 dias depois.

Na época, Roseana juntou-se a Marlene Rodrigues Pires, então presidente da Amba (Associação dos Moradores do Bairro de Americana), entidade atualmente extinta. “Nós duas começamos a ajudar as pessoas”, relatou.

Moradora do distrito há nove anos, Roseana disse que já passou por várias enchentes. Desde que a DC começou a fazer trabalho mais específico no bairro (tentando a criação do núcleo), ela disse que a população local tem “sofrido menos”.

Em 2007, os moradores contaram com apoio do órgão e da Prefeitura. O Executivo cedeu caminhões para auxiliar no transporte dos pertences das famílias desalojadas e equipes de duas secretarias e da Vigilância Sanitária.

“Aprendi que, num trabalho de ajuda, o apoio faz muita diferença. Toda vez que há problemas, nós mesmos (moradores do bairro) nos revezamos”, comentou.

Os residentes verificam, por exemplo, os níveis dos rios em épocas de chuva intensa. São trabalhos que ficam, quase sempre, a cargo de mulheres.

A formação do Nudec começou com o empenho de Marlene, residente no distrito há 23 anos. Natural de São Paulo, ela enfrentou a realidade da enchente pela primeira vez em Tatuí no ano de 1994. Na época, teve a casa inundada, mas conseguiu retirar os móveis a tempo, com ajuda de vizinhos.

“Inclusive, por isso eu estou aqui, por ter acontecido comigo. Eu achei muito bom ter recebido ajuda de alguém. Então, decidi ajudar, também”.

Marlene contou que entrou em desespero quando se deparou com a enchente. A casa dela começou a inundar de madrugada. Para não perder os móveis e não deixá-los ao relento, teve de deixá-los na garagem de uma vizinha.

A formalização e a presença da Defesa Civil no trabalho dos moradores aconteceram a partir de encontro entre Marlene e o secretário-adjunto do órgão, João Alves Floriano Batista.

Os dois conheceram-se numa reunião do Cobat (Conselho de Bairros de Tatuí), no ano de 2005, uma vez que o bairro contava com associação de moradores e, na ocasião, integrava o conselho.

Batista já integrava a DC, que, naquela ocasião, passou a se fortalecer no município como órgão. A Defesa ganhou membros e espaço junto ao Corpo de Bombeiros.

De lá, mudou-se para o prédio do Mangueirão, que abriga a sede da atual Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura.

Com reforço do engenheiro agrônomo José Emílio Moreira Monteiro, a equipe da Defesa Civil passou a atuar com planos de contingência e a monitorar o bairro. Em paralelo, começou a treinar a ex-presidente da associação.

Mais capacitada e, já integrando a DC, Marlene tornou-se uma “ponte” entre o órgão e os moradores. Por viver no distrito, iniciou trabalho de esclarecimento junto aos residentes no sentido de quebrar a resistência deles em deixar as casas, quando em situação de enchente. Até então, havia resistência de habitantes antigos.

“Isso acontecia porque eles não tinham apoio. Tinham que tirar os objetos por conta própria e, ainda por cima, arranjar um lugar para ficar com a família. Hoje, não. Hoje, nós vamos com a solução para eles”, argumentou Roseana.

Voluntária do Nudec, ela disse que os moradores reconhecem no grupo “uma primeira ajuda”. Para oferecer apoio, a equipe de 12 integrantes do primeiro Núcleo Comunitário de Defesa Civil de Tatuí passou por diversos treinamentos.

O primeiro deles aconteceu na sede do Corpo de Bombeiros, oferecido em cinco dias. Na ocasião, apenas Marlene participou da capacitação.

A coordenadora do núcleo ficou encarregada de transmitir os conhecimentos aos demais membros, que se revezam em diversos trabalhos.

A Defesa Civil também ofereceu outro curso, com aulas práticas realizadas também na represa do distrito. No sábado, os integrantes do Nudec participaram de um terceiro, uma palestra com o cabo Daniel Fernandes, do Corpo de Bombeiros.

“Nós enxergamos isso como uma oportunidade de tirarmos dúvidas, termos esclarecimentos sobre o que fazer e de que forma ajudar as pessoas em situações adversas”, disse Marlene. Ela e mais 11 pessoas ingressaram no núcleo.

A coordenadora do Nudec afirmou que não houve sorteio e nem critério de seleção para a escolha dos membros.

“A pessoa tem que ser confiável, porque uma situação de risco não escolhe horário e dia para acontecer. Todos que estão aqui estão disponíveis para ajudar sem empecilhos”, destacou.

O secretário-adjunto da DC afirmou que considera o dia 28 de setembro como data histórica para o município. “Nós estamos trabalhando na realização disso há praticamente oito anos”, ressaltou. Para ele, a oficialização do Nudec é “o reconhecimento do trabalho voluntário da comunidade”.

Com a oficialização, o núcleo do distrito passou a integrar o Sindec (Sistema Nacional de Defesa Civil). Ele é considerado um “braço” da DC no bairro e atuará não somente em riscos envolvendo enchentes, como em outros desastres naturais.

Floriano lembrou que o distrito sofre com as enchentes provocadas pelo aumento dos níveis das águas dos rios Sorocaba e Tatuí.

Esses se encontram em “uma confluência” e, em meses com maior incidência de chuva, invadem áreas de várzea próximas ao bairro. Dependendo do volume de precipitações, os rios atingem as casas situadas em áreas ribeirinhas.

Para melhorar o atendimento aos moradores (em caso de enchente), o Nudec manterá reuniões mensais. Os encontros acontecerão de maneira periódica para definir trabalhos preventivos junto à comunidade em outras épocas do ano.

Floriano citou que o grupo atuará em frentes para evitar, por exemplo, incêndios acidentais (ou não) que aumentam em épocas de estiagem.

“O Nudec é permanente. Ele não será provisório apenas para o período das águas (entre novembro e fevereiro). O grande foco são ações preventivas”.

Por esse motivo, os 12 integrantes deram início ao primeiro trabalho oficial de conscientização nesta semana. Eles estão visitando as casas do bairro para distribuir panfletos com orientações diversas. O material trata de assuntos como afogamentos, enchentes, tempestades e outros.

A equipe também distribuiu cartilhas para colorir, voltadas às crianças. Alunos da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “José Menezes Bueno” também receberam o material. O objetivo é promover a educação ambiental e a conscientização dos moradores com relação às ações preventivas.

Nos próximos dias, o Nudec iniciará cadastro dos moradores. Os dados serão repassados à Comdec (Coordenadoria Municipal de Defesa Civil) e deverão incluir informações consideradas fundamentais.

A Defesa Civil quer saber quantas pessoas residem no bairro, em que condições vivem, em quais residências vivem menores de 14 anos e gestantes.

“A intenção é saber se esses moradores têm capacidade de deixar suas casas em segurança em casos de inundações e de enchentes”, explicou o secretário-adjunto.

Floriano disse que é preciso atualizar as informações do órgão para que ele possa acionar mais rapidamente os serviços de emergência.

“Tudo isso é muito importante porque, na hora do desastre, cada tempo é precioso. Então, pelo cadastro, vamos ver quais e quantas pessoas precisam de ajuda”.

Floriano disse, ainda, que o Nudec traz responsabilidades aos moradores e, também, ao município. O Executivo tem a obrigação de dar apoio moral e material aos moradores.

“Precisamos dar as respostas necessárias para a população. Eles têm de ser e se sentir apoiados, porque, por mais preparada que esteja uma Defesa Civil, ela não vai conseguir ter a resposta necessária se não tiver o envolvimento da comunidade”, argumentou.

Por esta razão, o Nudec é considerado de fundamental importância para que os moradores do bairro recebam atendimento efetivo. Como o núcleo é formado por residentes, eles são os primeiros interessados em receber ajuda e a colaborar para que ele seja eficaz.

Floriano disse que o núcleo do distrito de Americana servirá de modelo para o Executivo. A perspectiva é de que a Prefeitura viabilize novos Nudecs em regiões consideradas de risco, como o Jardim Thomaz Guedes.

O secretário destacou o papel da Prefeitura na oficialização do núcleo e afirmou que ele está “tendo todo o respaldo da municipalidade”.

O evento de oficialização contou com presença do vice-prefeito e Secretário Municipal de Governo, Segurança Pública e dos Transportes, Vicente Aparecido Menezes.

Plano de trabalho

O Núcleo Comunitário de Defesa Civil do distrito de Americana deverá formatar, sob orientação da Comdec, um plano de contingência. Trata-se de cronograma de ações e protocolos a serem seguidos em casos de desastres naturais.

O trabalho será realizado a partir de reuniões mensais que acontecerão na base comunitária da GCM (Guarda Civil Municipal). A corporação também terá um representante membro do núcleo. Será um GCM “mais graduado”.

O secretário-adjunto destacou que a Guarda já integra a DC. A base comunitária da corporação abriga a sirene instalada no distrito que comunica, por meio de sinal sonoro, os moradores a respeito de enchentes. O aviso é disparado por funcionários da usina hidrelétrica do distrito.

No evento de oficialização, os 12 membros do núcleo ganharam equipamentos de identificação e de proteção individual. Receberam coletes e bonés com o logotipo da Defesa Civil do Estado de São Paulo e botas. “É uma identificação que facilita quando eles baterem na porta dos vizinhos”.

A partir de 2014, os equipamentos serão renovados. Passarão a exibir o nome Nupdec (Núcleo Comunitário de Proteção e Defesa Civil). A mudança acontece em função da alteração da nomenclatura da Comdec para Compdec (Coordenadoria Municipal de Proteção de Defesa Civil) em todo o Estado.

“Na verdade, estamos incluindo um ‘P’ nos nomes. Por isso, vamos renovar os uniformes no ano que vem, quando tudo isso estiver definido”, falou o secretário-adjunto.

A identificação visual – os coletes e os bonés são na cor laranja – é considerada ajuda também por parte dos agentes que atuarão em casos de desastres naturais.

Conforme Floriano, com os equipamentos, os profissionais da Prefeitura e do Corpo de Bombeiros poderão identificar, entre os moradores, quem está preparado para auxiliar nas ações de ajuda e salvamento.

Os membros do núcleo do bairro auxiliarão, ainda, os bombeiros nos atendimentos a ocorrências de urgência. Por esta razão, receberam treinamentos de noções de primeiros-socorros.

“Todo mundo sabe que, para salvar uma vida, minutos são preciosos, e se gasta um bom tempo entre o quartel e o distrito. Então, treinados, os integrantes poderão auxiliar as equipes da corporação até que elas cheguem”. As noções são para afogamento, engasgamento e incêndio.

Outras capacitações serão oferecidas após as reuniões mensais. A palestra do dia 28 teve início após a abertura, às 8h30, e encerramento às 11h.

“Normalmente, a implantação de um Nudec leva quase o dia todo. Acontece que, aqui, ocorreu o contrário. Primeiro, dá-se a técnica e a teoria, para depois ter a prática. O pessoal daqui já tem a prática, só precisa da teoria”, concluiu Floriano.